Capítulo 47

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Jantar pronto e servido, todas se deliciaram. Preferiram jantar na varanda no andar de cima mesmo. Falaram de suas profissões, de viagens, do primeiro beijo de cada casal. Vero e Lucy haviam se conhecido pela internet, namoraram virtualmente e só depois de quatro anos se encontraram pessoalmente.

- Gente! Quanto tempo! Eu não aguentaria. – a loira falou.

- Eu não teria paciência. – foi a vez de Gizelly comentar.

- Foi um tempo em que estava muito só, recém-saída de um relacionamento e a presença de Lucy, ainda que pelo computador, me ajudou muito.

- Já comigo foi diferente, precisava dar um tempo da vida boêmia e ela me ajudou muito.

Vero contou que muitos amigos foram contra e que até se afastaram dela, mas depois se acostumaram com o namoro virtual. E quando Lucia foi à cidade dela pela primeira vez todos a trataram bem. A família de Lucia não aprovava o relacionamento, já a de Verônica não se importava, até porque ela só tinha uma irmã mais velha e que morava longe.

- Quando a família não é a favor, tudo fica mais difícil. A aceitação tem que vir de casa primeiro. – falou a professora.

- Por isso tenho tantas neuras, fui expulsa de casa por ser gay. – Gizelly falou mais triste. – Nunca mais vi minha família.

- Te garanto que estão todos arrependidos hoje. Se privaram de conviver com uma mulher super inteligente, de sucesso e não têm o privilégio de ter a sua ajuda e sua presença. – Marcela quis consolá-la.

- Não me importo mais. Meninas, falei com Marcela que ter conhecido vocês me ajudou muito. – mudou de assunto. - Quando vim pra cá estava numa fase complicada de aceitação, hora ficava bem, hora insegura. Vendo vocês eu percebi que todo casal gay tem problemas e no fim é igual a qualquer casal. Paga contas, trabalha, esconde, camufla às vezes, mas não deixa de viver.

- O que muda é o seu ponto de vista, Gizelly. Quando as pessoas passam a saber da nossa sexualidade, elas tendem a mudar. Só fica quem é amigo mesmo. Da mesma forma que você perde alguns, ganham outros. É a lei da compensação. – Vero falava. – Pensa que não se deve nada a ninguém, que ninguém tem nada com sua vida. Não é fácil, porque no fundo tem sim, devemos satisfação a patrão, a cliente, a sociedade mesmo. Eu não acho que o preconceito vai acabar de uma hora pra outra, seremos aceitos, mas somente se impormos respeito e mostrarmos que somos iguais. Eu pago conta que nem o meu vizinho, trabalho que nem minha chefe, dirijo como o motorista de táxi da esquina.

- Precisamos nos sentir iguais. Enquanto não fizermos isso, nós mesmas vamos ressaltar a diferença. – Lucia completou.

Marcela ouvia as duas falarem e guardava cada palavra. Sabia que aquilo tudo surtiria mais efeito em Gizelly. Ainda que ela falasse, quando eram pessoas de fora o impacto era maior. Gostou da conversa e deixou que se estendesse.

Ver que sua mulher estava mais segura e firme em sua posição.

- Nossa! Falamos hein! – Lucia esticou as costas. – Vamos querida?

- Calma que tem sobremesa. – Gizelly correu pra pegar e enquanto ela foi Marcela aproveitou para agradecer as duas.

- Gente, muito obrigada pelo papo. Não sabem quanto vai fazer bem a ela.

- Gizelly escuta tudo né? Mineira legítima, fica só observando, para depois assimilar e dar o veredito. – riu a professora.

- Ela precisava conhecer mais pessoas, casais como a gente. E vocês caíram do céu, obrigada mesmo. – sorriu.

MEDIDA CERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora