capítulo 3

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Nos dias posteriores, estou muito animada. Consegui a vaga temporária de cozinheira na Fundação Nascer do Sol e até recebi elogios acerca da comida que preparo; o que me deixou feliz.

Para quem desconhece, a fundação foi fundada há poucos anos e é através dessa instituição que adolescentes e crianças carentes tem acesso a uma educação de qualidade sem custo algum. Desde que foi inaugurada, tem ajudado a região, sobretudo se considerarmos que as escolas mais "próximas" ficam em vilas distantes. E ter conseguido trabalhar nesse lugar é uma grande oportunidade, levando-se em conta que, além do pagamento, posso ficar mais um tempinho perto das crianças.

Sobre o salário, espero conseguir dinheiro suficiente para me manter por alguns dias com mamãe e Pedro na capital. Eles também têm economizado o necessário para levarmos, e espero conseguir outro emprego quando chegarmos lá.

Ana Clara é uma amiga incrível e nos convidou para passar esse tempo em sua casa, mas mamãe recusou, deixando-me um pouco infeliz. Já estava até imaginando a casa incrível da minha amiga, e mamãe destruiu esse pequeno sonho.

Depois me aquietei ao saber que ela recusou porque não quer incomodar Ana Clara e seu marido. E também fiquei sabendo que vamos para a casa de uma prima da minha mãe, Noemi, que parece ser uma pessoa simpática e acolhedora. Além disso, ela é viúva e seus filhos moram em outro estado. Como a mulher é sozinha, mamãe quer passar uma temporada com ela, aproveitando para procurar um emprego. É claro que se eu conseguir um trabalho antes, ela nem mesmo terá que se preocupar com isso e simplesmente descansará. A meta de Pedro é também conseguir um emprego em BH e, assim, tornar-se autossuficiente.

Mas vocês vêm me visitar, certo? — Ana Clara questiona do outro lado da linha.

Eu a atendi depois de um milagre, pois o sinal nesta região é ruim e tive que procurar o local ideal para conseguir atender a ligação.

— Claro. Acha que vou perder a chance de colocar o papo em dia e conhecer sua humilde residência?

A "casa" onde minha amiga mora com o marido é enorme. Ela é uma garota rica agora, mas continua humilde e gentil como antes. Ainda bem que não perdeu sua essência de garota do campo depois de se mudar para a capital.

Quero mostrar cada cômodo dela e espero que durma aqui de vez em quando. Tem muitos quartos.

— Aposto que sim. Eu vou, pode apostar. — murmuro. — E seus filhos?

Estão brincando, certamente competindo sobre quem grita mais alto. — ouço a voz da avó da Aninha ao fundo e ela diz algo como "ninguém segura esses meninos".

Esboço um sorriso ao ouvir os gritos entusiasmados.

— Consigo ouvir. Esses dois não cansam de brincar, né?

Não mesmo. — ri do outro lado da linha.

***

— Mal posso esperar para conhecer BH. — suspiro feliz, observando o campo verdejante a minha frente.

Sinto certa nostalgia ao observar o lugar onde morei durante anos e isso de certa forma me deixa um pouco triste. Mas ir para a capital não significa que irei me desfazer da minha vila para sempre. Claro, vou reservar um tempo para visitar minha terra natal quando já estiver bem instalada na capital.

— Você fala tanto disso, que já estou até com medo de dar errado e não irmos. — Pedro comenta ao meu lado. Ele coça a orelha de seu cavalo e sei que também vai sentir falta do campo, sobretudo de seu cavalo.

— Vira essa boca pra lá! Claro que iremos.

— Então pare de falar, que isso azara. — resmunga. Ele observa o animal ao seu lado com nostalgia. — Consegui um comprador para o "Fumaça". Ele vem buscá-lo amanhã. — suspira.

— Vai sentir falta dele, certo?

— Claro. Ele está comigo há muito tempo, mas não posso levá-lo para a capital.

— Sinto muito. — eu o observo com compaixão.

— Pelo menos o novo dono dele parece ser um bom homem. Só ouvi coisas boas dele por aqui. Ele ama animais e gostou do Fumaça assim que o viu. Eu não poderia achar dono melhor para ele.

— Também vou sentir falta desse garoto. — me aproximo do cavalo, massageando seu pescoço macio. Ele é tão lindo.

— Você acha que vai dar tudo certo lá? — questiona de repente.

Eu o encaro.

— Lá onde?

Pedro revira seus olhos escuros.

— Belo Horizonte, burra!

— Ei! Me respeite. — eu o esmurro de brincadeira, fazendo-o rir.

— Responda. Você acha que tudo vai ficar bem?

— Hm. Eu não faço ideia. — suspiro, observando meu irmão mais velho. Ele tem cabelos escuros e um pouco de barba por fazer, mas continua parecendo um adolescente, apesar de já ter 24 anos. — Apenas temos que esperar. O destino é imprevisível.

— Você tem razão, mas vou orar para que tudo dê certo.

— Eu também. — assim que termino de falar, um calafrio estranho percorre meu corpo e eu estremeço, esperando que seja um bom sinal.




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