capítulo 14

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Enquanto o filme de comédia romântica que escolhi passa na TV, não paro de rir com Agnes de algumas cenas bestas. Fico feliz porque ela finalmente está bem melhor, mais leve da carga emocional que estava sobre seus ombros.

Durante uma cena tipicamente clichê, ouço a porta se abrir e meus olhos encontram os olhos espantados de Luíza Bittencourt sobre nós.

Ela observa a filha com o balde de pipoca na mão e depois volta os olhos para mim.

— Quando me contaram, não acreditei.

Na mesma hora meu sorriso desaparece e levanto da cama rapidamente.

— Me perdoe, senhora, por estar aqui... eu...

— Pare. — ela acena com a mão e não parece irritada. Ao contrário disso, apenas parece surpresa com a cena que presenciou. Com certeza estava acostumada a ver a filha trancada no quarto escuro. — Continuem assistindo, eu insisto. — o que vejo em seus lábios é mesmo um sorriso? Que inédito! — Eu vou indo, meninas. Não parem a diversão de vocês por minha causa. — murmura mansamente antes de sair do quarto.

Eu esperava uma reprimenda por ser pega assistindo filme no quarto de sua filha, já que inegavelmente não me suporta, mas não isso. Luíza realmente me surpreendeu com seu semblante até amoroso. Que estranho!

Durante os próximos minutos me divirto muito com Agnes, e confesso que estava precisando desse momento sem pressão. Naquela noite, dormi tranquilamente.

Na manhã seguinte, Agnes vai para a escola enquanto mergulho no meu trabalho.

Durante o resto da semana, faço companhia a Agnes nos momentos vagos, mas realmente me surpreendo quando ela me chama para almoçar com ela na sexta-feira.

— Eu insisto. — Agnes me encara com olhos suplicantes, e eu solto um suspiro em frente à mesa enorme.

O que mais está me deixando nervosa é o fato de que a senhora Bittencourt está na mesa, assim como o seu marido. Não há sinal de Eduardo, o que é bom.

— Não posso, Agnes. — murmuro, colocando a jarra de suco na mesa.

— Pode sim. Sente-se. — é o senhor Bittencourt quem fala simpaticamente e fico aflita. Olhando bem, ele se parece com o filho. É apenas uma versão mais velha.

— Oh, não senhor. Não posso.

A senhora Bittencourt fica em silêncio, enquanto corta seu bife. Seu semblante está neutro.

— Por favor. Fique à vontade. — o homem continua, e solto um suspiro torturado antes de sentar.

Ouço os cochichos curiosos das demais empregadas, que logo se retiram com Célia. Salvo Soraia, com certeza estão me odiando por estar com a família na mesa.

Fico desconfortável conforme encaro a comida no prato e agradeço pelo senhor e senhora Bittencourt não me incluírem em sua conversa de negócios. Enquanto isso Agnes me cutuca com diversão e puxa assunto, falando de um anime recente que assistiu.

Depois do almoço, ela se ergue ainda em seu uniforme da escola e provavelmente vai subir para trocar de roupa e tomar banho.

Levanto-me também, sem jeito, e agradeço pelo almoço antes de me retirar com o coração a mil.

Foi realmente uma situação estranha.

E o fato de Luíza não ter reclamado foi mais ainda.

Conforme os dias passam, percebo os olhares pensativos da senhora Bittencourt sobre mim. E logo me dou conta do que se passa em sua cabeça.

Célia externa isso em uma manhã chuvosa, ao se aproximar de mim enquanto eu limpo um dos vários quartos.

— Margarida?

Lanço um olhar para ela assim que ela adentra o cômodo.

— Preciso falar com você.

— O que seria? — questiono calmante, depois de perfumar o guarda-roupa.

— Quero deixá-la a par de algo importante. — diz séria. — A partir de hoje você não é mais empregada doméstica desta casa.

Após a sentença, meus olhos imediatamente se enchem de lágrimas e sinto o medo me encher.

Não pode ser! Estou sendo demitida, óbvio, e logo lembro-me dos olhares de Luíza e de suas palavras quando soube do meu beijo com Eduardo. Ela já deixou claro que não suporta minha presença.

— Eu... Eu... por favor, não posso ser demitida. Lutei para permanecer nesse emprego. Não faça isso.

Célia franze o cenho

— Quem aqui falou em demissão?

É a minha vez de ficar chocada.

— Não é isso? Mas...

— Você apenas vai trocar de cargo. — murmura simplesmente e fico ainda mais confusa.

— Não estou entendendo.

Célia revira os olhos para a minha aparente lerdeza.

— Você não será mais empregada desta casa porque... se tornará a babá de Agnes.


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