capítulo 18

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Eduardo

Observo o jardim da minha mãe, e nem mesmo a paisagem belíssima tira a tensão dos meus ombros.

Passei a noite passada me revirando na cama, meditando e imaginando uma saída para tudo isso. Não demorei a chegar a uma decisão, por isso telefonei para Pilar.

E mesmo tendo extrapolado o tempo determinado pelos meus pais, eu finalmente sei o que fazer.

Sinto mãos femininas em meus ombros e me viro.

Pilar está linda, enfiada em um vestido vermelho. Ela se senta ao meu lado no banco, e coloca sua cabeça em meu braço.

— Você me chamou. O que houve?

Respiro fundo antes de falar.

Não vai ser um sacrifício dizer o que desejo, mas Pilar pode não ter a melhor reação, então vou com cuidado por enquanto.

— Precisamos conversar sobre o casamento.

Ela me encara com um brilho nos olhos e esboça um sorriso. Sinto certa culpa, mas não dá para voltar atrás.

— Sério? Vai agilizar tudo isso? Não vejo a hora de casarmos de uma vez. Nossos pais precisam saber e...

— Pilar... — suspiro, e seu sorriso fica tenso. Será que ela finalmente está se dando conta? — Acontece que tive um bom tempo para pensar se era a decisão certa, então...

— Fale de uma vez, Edu. Está me preocupando.

— Ok... Quero terminar. Não dá mais certo.

No mesmo instante ela se ergue do banco e grita:

— Como é?!

— Isso que você ouviu. — também fico de pé, encarando seu choque evidente. — Estou terminando o nosso noivado, me perdoe se...

— Desgraçado! — ela dá um tapa forte em meu rosto, encerrando minhas palavras.

Levo a mão à área, mas não me irrito muito, afinal ela deve está com bastante raiva de mim. Quem não ficaria?

Ela se dá conta do que fez e me encara com os olhos arregalados e arrependidos, então tenta se aproximar mansamente. Recuo, vendo suas lágrimas se derramarem sobre o rosto.

— Amor...

— Chega, Pilar. Está decidido. Vamos terminar.

— Por que está fazendo isso comigo?

— Não é de propósito, ok? Minha intenção nunca foi te magoar. Eu só analisei nossa relação e vi que não estava dando certo. Gosto de você, mas eu não te amo e sei que também não sente o mesmo por mim.

— Claro que eu te amo!

— Mas eu não. Você tem que entender. Sinto muito por todo o constrangimento que te fiz passar. Estou me sentindo um crápula por isso, mas me sentiria pior se continuasse essa relação morna.

— Não acredito. — leva a mão ao rosto, derramando muitas lágrimas. — O que meus amigos e parentes vão pensar?

— Está preocupada com isso? Eles não têm que pensar nada. É algo que envolve apenas a nós dois.

Pilar balança a cabeça, encarando-me cheia de mágoa.

— Aposto que já arrumou outra, não é? — cospe e tenho vontade de revirar os olhos. — Quem é a cobra? Alguma das minhas amigas se jogou pra você?

Se ela soubesse...

— Nada disso. — resmungo. — De toda forma, espero que você seja muito feliz. Estou te deixando livre. Vivemos bons momentos e não quero te magoar mais do que estou.

— Feliz? Acha mesmo que vou ser feliz sem você? — sorri sem humor, enxugando os olhos. Ela solta um suspiro cansado depois de algum tempo. — Ah, quer saber? Eu vou embora. E nunca mais pense em falar comigo.

Ela me dá as costas, caminhando para longe.

Eu a vejo ir, mas não sinto vontade nenhuma de voltar atrás.


***

Margarida

Agnes ainda está na escola e estou próxima à parede do corredor, enquanto Soraia passa o pano na área, retirando resquícios de sujeira.

Estamos sorrindo de um fato engraçado que aconteceu com ela, quando ouvimos o barulho de salto alto contra o piso.

Nós nos viramos ao ponto de ver Pilar se aproximando com o semblante furioso e os olhos com o rímel bagunçado pelas lágrimas.

Fico confusa, vendo-a passar por nós, tempestuosamente.

Acho que por pura malícia, Pilar acaba chutando o rodo que Soraia segurava para longe, derrubando-a no processo.

Amplio os olhos.

— Saiam da frente, malditas serviçais! — Pilar se afasta e minha amiga a observa do chão, com os olhos indignados.

Ainda surpresa, eu a ajudo a ficar de pé.

— O que deu nela? Quanta agressividade! — murmura irritada, pegando o rodo outra vez. — Será que brigou com o noivo?

Franzo o cenho. É provável a julgar pelo comportamento dela.

— Talvez, mas só uma pergunta: ela é sempre assim com os funcionários?

— É pior. — murmura com uma careta. — A Raimunda, que trabalha aqui, já prestou serviços para os pais da riquinha. Ela é totalmente humilhante. Trata todo mundo da classe inferior a dela como lixo. Só não pisa porque prefere destratar com palavras.

— Que coisa horrível. — fico imaginado Eduardo, que é tão gentil com todo mundo, casado com ela. E a imagem diverge completamente.

— Garota mimada. — Soraia continua resmungando, com certeza pensando no próprio tombo recente.

Me Abrace Bem ForteOnde histórias criam vida. Descubra agora