Eduardo
Observo o jardim da minha mãe, e nem mesmo a paisagem belíssima tira a tensão dos meus ombros.
Passei a noite passada me revirando na cama, meditando e imaginando uma saída para tudo isso. Não demorei a chegar a uma decisão, por isso telefonei para Pilar.
E mesmo tendo extrapolado o tempo determinado pelos meus pais, eu finalmente sei o que fazer.
Sinto mãos femininas em meus ombros e me viro.
Pilar está linda, enfiada em um vestido vermelho. Ela se senta ao meu lado no banco, e coloca sua cabeça em meu braço.
— Você me chamou. O que houve?
Respiro fundo antes de falar.
Não vai ser um sacrifício dizer o que desejo, mas Pilar pode não ter a melhor reação, então vou com cuidado por enquanto.
— Precisamos conversar sobre o casamento.
Ela me encara com um brilho nos olhos e esboça um sorriso. Sinto certa culpa, mas não dá para voltar atrás.
— Sério? Vai agilizar tudo isso? Não vejo a hora de casarmos de uma vez. Nossos pais precisam saber e...
— Pilar... — suspiro, e seu sorriso fica tenso. Será que ela finalmente está se dando conta? — Acontece que tive um bom tempo para pensar se era a decisão certa, então...
— Fale de uma vez, Edu. Está me preocupando.
— Ok... Quero terminar. Não dá mais certo.
No mesmo instante ela se ergue do banco e grita:
— Como é?!
— Isso que você ouviu. — também fico de pé, encarando seu choque evidente. — Estou terminando o nosso noivado, me perdoe se...
— Desgraçado! — ela dá um tapa forte em meu rosto, encerrando minhas palavras.
Levo a mão à área, mas não me irrito muito, afinal ela deve está com bastante raiva de mim. Quem não ficaria?
Ela se dá conta do que fez e me encara com os olhos arregalados e arrependidos, então tenta se aproximar mansamente. Recuo, vendo suas lágrimas se derramarem sobre o rosto.
— Amor...
— Chega, Pilar. Está decidido. Vamos terminar.
— Por que está fazendo isso comigo?
— Não é de propósito, ok? Minha intenção nunca foi te magoar. Eu só analisei nossa relação e vi que não estava dando certo. Gosto de você, mas eu não te amo e sei que também não sente o mesmo por mim.
— Claro que eu te amo!
— Mas eu não. Você tem que entender. Sinto muito por todo o constrangimento que te fiz passar. Estou me sentindo um crápula por isso, mas me sentiria pior se continuasse essa relação morna.
— Não acredito. — leva a mão ao rosto, derramando muitas lágrimas. — O que meus amigos e parentes vão pensar?
— Está preocupada com isso? Eles não têm que pensar nada. É algo que envolve apenas a nós dois.
Pilar balança a cabeça, encarando-me cheia de mágoa.
— Aposto que já arrumou outra, não é? — cospe e tenho vontade de revirar os olhos. — Quem é a cobra? Alguma das minhas amigas se jogou pra você?
Se ela soubesse...
— Nada disso. — resmungo. — De toda forma, espero que você seja muito feliz. Estou te deixando livre. Vivemos bons momentos e não quero te magoar mais do que estou.
— Feliz? Acha mesmo que vou ser feliz sem você? — sorri sem humor, enxugando os olhos. Ela solta um suspiro cansado depois de algum tempo. — Ah, quer saber? Eu vou embora. E nunca mais pense em falar comigo.
Ela me dá as costas, caminhando para longe.
Eu a vejo ir, mas não sinto vontade nenhuma de voltar atrás.
***
Margarida
Agnes ainda está na escola e estou próxima à parede do corredor, enquanto Soraia passa o pano na área, retirando resquícios de sujeira.
Estamos sorrindo de um fato engraçado que aconteceu com ela, quando ouvimos o barulho de salto alto contra o piso.
Nós nos viramos ao ponto de ver Pilar se aproximando com o semblante furioso e os olhos com o rímel bagunçado pelas lágrimas.
Fico confusa, vendo-a passar por nós, tempestuosamente.
Acho que por pura malícia, Pilar acaba chutando o rodo que Soraia segurava para longe, derrubando-a no processo.
Amplio os olhos.
— Saiam da frente, malditas serviçais! — Pilar se afasta e minha amiga a observa do chão, com os olhos indignados.
Ainda surpresa, eu a ajudo a ficar de pé.
— O que deu nela? Quanta agressividade! — murmura irritada, pegando o rodo outra vez. — Será que brigou com o noivo?
Franzo o cenho. É provável a julgar pelo comportamento dela.
— Talvez, mas só uma pergunta: ela é sempre assim com os funcionários?
— É pior. — murmura com uma careta. — A Raimunda, que trabalha aqui, já prestou serviços para os pais da riquinha. Ela é totalmente humilhante. Trata todo mundo da classe inferior a dela como lixo. Só não pisa porque prefere destratar com palavras.
— Que coisa horrível. — fico imaginado Eduardo, que é tão gentil com todo mundo, casado com ela. E a imagem diverge completamente.
— Garota mimada. — Soraia continua resmungando, com certeza pensando no próprio tombo recente.
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Me Abrace Bem Forte
RomanceMargarida Bellini é tão peculiar quanto seu nome. Bonita como a flor do campo, consegue capturar a atenção de Eduardo Bittencourt assim que se veem pela primeira vez na pequena região onde vive com a mãe e o irmão. Depois do primeiro encontro, não v...