Demi • Changlix

22

~Changbin On~

   Na hora, por incrível que pareça, tudo o que eu conseguia pensar era no perigo que o Lix está correndo nesse momento. Eu congelei, e acho que Chan sabe o porquê, já que ele me lançou um daqueles olhares de compreensão/preocupação/pena que eu odeio.

   - Certo, qual é o plano? - Han pergunta após lançar um longo suspiro.

   - Por enquanto eu só vou pedir para que fiquem em guarda, quero que se alternem em turnos, em duplas, para terem certeza de que eles não entrem na cidade e não causem nenhum mal. - Acenamos com a cabeça e ele suspira. - Por enquanto, isso é tudo. Estão dispensados. Qualquer problema eu entro em contato com vocês. - Com isso ele faz um gesto de mão para que nos levantemos, fazemos uma reverência e nos retiramos. No caminho até minha moto, Chan se aproxima.

   - Ele vai ficar bem. - Ele diz naturalmente, olhando para frente.

   - Não sei do que está falando. - Digo pegando meu capacete.

   - O Lix, está óbvio que você está preocupado com ele. - Eu faço o possível para ignorar e subo na moto dando a partida. Antes que eu pudesse sair, Chan segura meu braço. - Ele vai ficar bem Binnie. - Ele me olha nos olhos por um momento antes de me soltar deixando eu ir embora. Ele tem razão, o Felix vai ficar bem. Ele tem que ficar bem....

~//~

   Largado. Eu fui literalmente largado aqui. E eu tenho certeza de que não vou ter uma explicação pra isso, ele nem vai se dar o trabalho de explicar. Eu decido levantar e ir me vestir. Vou dar uma volta. Coloco meu casaco e meus sapatos e saio.

   E me arrependo logo em seguida. Que frio do caramba. Mas eu já saí, é só continuar agora. Ando por alguns metros que pareceram quilômetros quando ouço o grito de alguém. Parece uma mulher... Lógico que como qualquer pessoa em sã consciência, eu fui na direção do beco mal iluminado de onde o grito parecia ter vindo.

   - Olá? - Eu falo paro o beco frio e escuro. - Tem alguém aí? - Dessa vez eu falo um pouco mais alto. Deve ter sido coisa da minha mente porque...

   - Por favor me ajuda... - Mas que merda. Eu que estava voltando a andar travo. Dou alguns passos para trás e olho novamente para o beco, mas dessa vez.... Dessa vez tem uma mulher ali, cambaleando. Parece estar bêbada... Ou só louca. - Você... Você precisa... Me ajudar....

   Ela se aproxima mais e eu automaticamente dou alguns passos para trás. Ela chega mais perto da luz e assim consigo ter uma visão melhor. Ela está com um dos saltos quebrados, mancando. Sua saia e seu terninho estão sujos e amarrotados. Ela está chorando e... Puta merda, a cabeça dela tá sangrando.

   - Meu Deus, senhora. O que aconteceu? - Eu digo e começo a me aproximar. Mas algo pega em seu calcanhar, e, logo depois de me lançar um olhar horrorizado, ela é arrastada novamente para dentro no beco lançando um grito assustador. Por que não tem ninguém na rua nessas horas?

   Eu me aproximo devagar. Ela tá bem? Tá viva? Que merda que tá acontecendo? Quando adentro um pouco mais, eu escuto algo que parece um urso grunhindo ou sei lá o que. E esse cheiro.... Aqui ter cheiro de morte.

   - Olá...? Senhora...? - Grande. Esse negócio é enorme e... Ele acabou de se levantar. Nas duas pernas. Isso são chifres? Isso é o crânio de um boi? Tão alto.... Tão grande.... Tão... Tão medonho. Eu vou morrer? Mas que merda que é essa?

   - SAI DA FRENTE FELIX!! - O grito que vem atrás de mim parece me tirar do transe. Eu conheço essa voz. Eu me viro avistando o farol de uma moto e consigo me jogar pro lado a tempo de não ser atropelado.

   Ele se joga com a moto em cima daquela coisa horrenda, saindo de cima dela no momento exato em que ela se chocou contra aquela coisa. Ele tira o capacete e olha preocupado para mim, como se perguntasse se estou bem. Eu rapidamente faço que sim com a cabeça e ele volta sua atenção para a coisa que está novamente se levantando.

   - Você escolheu a criatura errada para enfrentar meu amigo. - A voz dele... Um arrepio percorre toda a minha espinha. Ele está assustador.

   Como se fossem sólidas, as sobras do beco começam a "dançar" em volta de Changbin, em outra ocasião, isso seria lindo. A coisa ruge e parte pra cima do meu nanico, que molda as sombras na forma de um funil e o crava bem no meio da coisa que berra em agonia antes de.... Ela sumiu. Ele corre até mim e coloca uma mão em meu ombro, me olhando nos olhos.

   - Você está bem? Você se machucou? - Eu começo a balançar a cabeça ainda em choque até que me lembro...

   - Tinha uma mulher. Tinha uma mulher nesse beco, a gente tem que encontrar ela. - Digo já me levantando, ficando meio zonzo. Vou mais para dentro do beco. Changbin está dizendo algo atrás de mim, mas é abafado enquanto eu vou cambaleando cada vez mais para dentro.

   Eu a encontrei... A mulher ela... Está morta. Jogada no chão, com aquela expressão de horror ainda estampada em seu rosto. Meu olhar desce... Para a pior imagem que já vi em minha vida. A barriga dela está completamente aberta, com os órgãos e o sangue escorrendo para fora. Eu não aguento e me afasto colocando uma mão na parede para que eu tivesse apoio para vomitar. Quando termino, Changbin vem em minha direção e me abraça enquanto eu desabo em lágrimas.

   - Me perdoa Félix.... Eu não queria que você passasse por isso. Se você morresse... Eu nunca iria me perdoar.