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   - Ei, cara, levanta . - Escuto alguém me chamar enquanto me balança freneticamente. - Mas que merda. Com que força ele te jogou no chão? - Com essa pergunta me lembro do que tinha acontecido e percebo que provavelmente estou jogado no meio da rua. - Você não morreu, morreu? - Abro meus olhos devagar com uma certa dificuldade e vejo o garoto loiro de antes me encarando beeeem de perto. Perto até demais. Quando percebeu que recobrei a consciência ele sorriu, se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Eu hesito um pouco antes de segura-la. Logo percebo que os outros rapazes estão jogados no chão. - Relaxa, eles vão acordar depois de um tempo e acho que vão pensar bem antes de te incomodar de novo.

  - Obrigado - Eu murmuro e ele sorri ainda mais antes de abaixar e começar a catar minhas coisas.

   - Por nada... - Ele para pra ler minha identidade. - ...Lee Yongbok.

   - É Felix - Digo pegando minha identidade da mão dele. Estou a cansar disso já.

   - Certo, Felix. Eu sou Bang Christopher Chan - ele me estende a mão em cumprimento e sorri. Nossa, ele sorri demais. - Pode me chamar de Bang Chan se quiser. Ou só de Chris. Ou de Chan. Do jeito que você quiser. - De algum modo o sorriso dele ficou ainda maior. Eu faço meu melhor para sorrir de volta e aperto a mão dele. Ele não se cansa de sorrir?

   Me abaixei para pegar minhas coisas também e ficamos em silêncio até eu terminar de guardar tudo de volta na minha mochila.

   - Então - Bang Chan foi o primeiro a quebrar o silêncio. Óbvio que foi ele. - Você pretende cursar o que aqui? - Começo caminhar em direção a minha casa e ele vem do meu lado.

   - Dança.

   - Que legal! Eu quero cursar música. É provável que os prédios sejam perto e podemos ficar no mesmo dormitório! Você acha que vai passar?

   - Eu não tenho muita certeza de que quero passar. - O sorriso dele some e ele me encara por um tempo.

   - Se for por causa do meu primo, me desculpe - Ele vira novamente para frente e segue andando olhando para o chão.

   - Não. Não só ele. Vão ter mais como ele aqui. - Foi minha vez de olhar para o chão.

   - Mas vão ter mais como eu também. Não me acha um cara legal? - Ele sorri calorosamente e eu dou um sorriso amarelo. - Cara, você é sempre tão sério assim? - Paro de andar por um momento para pensar no que responder.

   - É que... Eu não estou tendo um motivo para sorrir ultimamente. - Ele me lança um olhar de compreensão e eu volto a andar. O silêncio caiu novamente até chegarmos na rua de casa. - Minha rua é essa. - Ele se virou para mim e sorriu novamente.

   - Bom, pensa bem sobre a faculdade. Por mais que tenha dificuldades, o ensino ali é muito bom. E sabe - Ele colocou a mão no meu ombro e me deu um olhar carinhoso, quase que paternal, credo. - Eu vou estar lá também, tenho certeza que os outros meninos vão gostar de você também, somos um grupo que meio que aceita todo tipo de pessoa. Promete que vai pensar direito? - Faço que sim com a cabeça e aquele sorriso dele se alarga - Ótimo. Até mais, Felix. - Ele solta meu ombro e se vira para voltar por onde viemos.

   - Tchau... - Ele acena com a mão ainda de costas e eu me dirijo para casa.

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   Cá estou eu com meus fones novamente, olhando para o teto refletindo sobre o que aconteceu.

   Bang Chan pareceu ser um cara legal. Mas um Demi pode ser legal? Os amigos dele são mesmo como ele? Eu morreria se eu estudasse lá? Eu conseguiria me adaptar? Eu teria que aturar pessoas como o primo do Chan todo dia?

   Eu suspiro e me levanto tirando meu fone no mesmo momento em que meu pai abre a porta.

   - Em minha defesa, eu bati, mas você não ouviu com esses trecos na orelha. - Eu só encaro ele que entra no quarto fecha a porta e se encosta na mesma. - Como foi a prova?

   - Como qualquer outra prova em qualquer outra faculdade. - Ele soltou um riso sarcástico.

   - É uma faculdade de monstros, não vai ser como qualquer outra. - Por algum motivo, eu não sei qual, aquela afirmação dele me deixou extremamente irritado.

   - Eles não são monstros, são seres como qualquer outro, você não tem direito de jugar antes de realmente conhecer um. - Ele me encarou um pouco chocado por alguns segundos para depois dar um sorriso que era metade deboche e metade malícia.

   - Olha só quem arranjou um namoradinho vindo do inferno. Vai sair matando gente por aí com ele agora? - Ele começou a rir e eu só consegui cerrar os punhos.

   Eu preciso passar na prova. Eu preciso ir para aquela faculdade. Preciso de um dormitório para ficar. Eu não aguento mais encarar esse homem.

Demi • Changlix Onde histórias criam vida. Descubra agora