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- Okay, a gente vai tentar de novo. - Chan diz do outro lado do galpão, através de um megafone.

Faz três semanas que eu saí do hospital. Tiramos um tempo para eu terminar de me recuperar e para os meninos fazerem mais algumas pesquisas sobre mim, ou melhor, sobre a minha "espécie". Um fato interessante é que nesse meio tempo meus olhos voltaram para o castanho, só ficaram um pouco mais avermelhados.

Agora, estamos no mesmo galpão no qual eu estava treinando com o Jeongin e o Hyunjin naquela outra noite. Eu estou bem no meio do galpão. Chan, Han e Changbin estão bem lá na frente, uns 17 metros, escondidos atrás de uma barreira de caixas, por segurança pra caso eu saia tacando fogo em tudo.

- Esse treco é realmente necessário? - Eu pergunto fazendo um sinal com a cabeça pra que ele soubesse que estou falando do megafone.

- Provavelmente não, mas ele é muito legal - Ele abaixa o megafone com um enorme sorriso, parecendo uma criança quando a mãe fala que vai comprar na volta e realmente compra, em seguida, se agacha novamente.

Eu reviro os olhos e balanço a cabeça. Respiro fundo e tento me concentrar. É como se eu sentisse uma bolha de puro fogo dentro de mim, mas eu não sei bem como fazer ela estourar, muito menos fazer com que ela não estoure de uma vez.

- Acho que isso não está funcionando - Han diz se levantando de trás das caixas. - Eu só sinto que ele vai acabar soltando um pum.

- Um pum eu não sei, mas realmente não aconteceu nada - Changbin diz também se levantando.

- Vocês tem razão - Chan também se levanta e diz com o megafone virado diretamente para o ouvindo de Changbin, que o encara como se fosse matar Chan a qualquer momento. Ainda bem que ele nunca me encarou desse jeito.

- Enfim - Han retoma tentando não rir - A gente tem que descobrir o que fez você desencadear isso daí.

- Acho que tive uma ideia... - Chan começa.
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- E qual é a ideia? - Changbin pergunta e Chan dá um pulinho como se estivesse acordando de um transe. Eu e Han rimos.

- Desculpa... - Ele diz passando a mão pelos cabelos. - E se... Você tentar reviver aquela noite? - Ele me olha. Um olhar cheio de medo e preocupação. O clima dentro do galpão ficou tão pesado de repente que daria para segurar.

- Na verdade, não é uma má ideia. - Han diz hesitando um pouco. Eu olho para o chão. Me dá um nervoso só de pensar em pensar naquela noite.

- Lix - Changbin chama e eu levanto o olhar. - Vai ficar tudo bem, estamos previnidos dessa vez, e não vamos deixar nada te acontecer.

Os outros dois concordam com a cabeça, de forma mais séria do que eu esperava. Eu então suspiro e novamente fecho os olhos.

Relembro de cada momento daquele dia. Quando me despedi de Jeongin e Hyunjin. Quando comecei a caminhar tranquilamente. Quando meu passo se apressou pelo nervosismo. A bolha dentro de mim começa a se remexer.

Eu chego em casa. Os Wendigos. Os três monstros na sala. E o Changbin... Ele passando sufoco. O desespero na voz dele ao me ver ali. O meu desespero ao ver ele daquela forma.

É demais pra mim, eu vou abrir os olhos. E assim que faço, vejo que há grandes marcas negras no chão que não estavam ali antes e alguns móveis de madeira agora estão em chamas.

Ao fundo, os três meninos se levantam bem lentamente, com olhos arregalados e ofegantes. Só assim percebo que eu mesmo estou ofegante. Ficamos um momento em silêncio, tensos.

- Uau - Han diz em meio a um suspiro, olhando em volta.

- Acho que é isso. - Chan diz todo orgulhoso de si mesmo.

- Mas dessa forma, ele vai ter que ficar relembrando o tempo inteiro para poder liberar as chamas. - Changbin diz. Não sei bem porque, mas ele parece um tanto quanto revoltado.

- Felix - Chan chama com certa empolgação. - O que você sentiu pensando nisso tudo? - Ele me encara enquanto eu tento achar uma palavra para definir tudo o que senti.

- Medo...

- Tá aí!! - Chan estrala os dedo e aponta para mim. - O medo é o gatilho. - Ele abre um sorriso que não me reconforta nem um pouco.

- Então eu vou ter que ficar com medo sempre que eu for usar isso? - Pergunto, agora me sentindo contrariado.

- Na verdade - Han chama me atenção e nós olhamos para ele. - Você vai ter que aprender a dosar seu medo até que seja algo tão fácil quanto piscar, que você não precise pensar demais para usar. Mas o processo vai ter que ser rápido.

Ficamos um tempo refletindo sobre isso. Dosar meu medo... Como diabos eu vou fazer isso? E se eu perder o controle de repente? Nem todo mundo tem a regeneração como a do Binnie...

- Certo, acho que está bom de treino por hoje. - Changbin diz cruzando as mãos atrás da nuca. - E Lix, acho melhor a gente arranjar uma roupa pra você, as suas queimaram.

- Aí meu deus... - Digo olhando para meu próprio corpo. Eu tô pelado...

Demi • Changlix Onde histórias criam vida. Descubra agora