Demi • Changlix

26

Eu congelei.

Foi tudo o que eu consegui fazer ao me deparar com a cena na minha frente.

Há três deles aqui na sala, e, de alguma forma, eles parecem ainda maiores do que aquele que eu encontrei no beco. E ali, bem no meio deles, se esforçando para segurar o braço de um deles, estava o meu Changbin, ensanguentado, acabado....

Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, Changbin foi atingido, enquanto prestava atenção em mim, e isso fez com que ele caísse de bruços e cuspisse uma grande quantidade de sangue.

- Chang... - Eu ia me aproximar, mas aqueles olhos totalmente negros me encararam de forma que eu não consegui mais me mexer.

Mais rápido do que acho que seria possível alguém na condição dele se mexer, ele se levanta e investe contra um dele, mas ele novamente é jogado contra a parede, mas dessa vez ele tem muito mais dificuldade para se levantar.

Ver ele, ali, jogado no chão, sofrendo tanto, fez algo inflar dentro de mim e sem pensar direito, corro até o outro lado da sala, dando a volta por trás dos três monstros e pegando a espada que Jeongin me deu.

Me viro e aquelas coisas estão prestando atenção em mim agora. No fundo, vejo Changbin tentar se levantar, mas seu braço fraqueja e ele cai novamente.

Eu estou ofegante. Meus dedos doem com a força que estou segurando a espada. Minhas pernas tremem com o medo crescendo dentro de mim. E... Eu sinto como se eu estivesse pegando fogo.

Com um rugido raivoso, uma das bestas vem para cima. Respira, Felix. Lembre das aulas do Jeongin. Inspira, expira. Inspira, expira. Cheira a flor, assopra a vela. Agora é pra valer. Eu não posso pisar na bola. Eu não posso falhar....

~~//~~

Acordo com uma claridade batendo forte nos meus olhos fechados. O que aconteceu? Eu tento abrir os olhos devagar, mas sério, que porcaria de luz é essa? Escuto um bipe vindo do meu lado direito e então uma voz que me parece familiar.

- Doutora, um dos pacientes acordou. - Essa voz... De quem é essa voz? Tento novamente abrir os olhos. Mas que droga... Escuto passos no corredor e, como se ouvisse meus pensamentos, a pessoa desligou aquela luz infernal.

- Enfim você acordou, Lee Yongbok. Já fazem duas semanas, você nos deixou preocupados. - Eu suspiro e abro os olhos, finalmente, mas o quarto me parece meio escuro demais agora.

- Meu nome é Felix. - A doutora sorri. Eu olho para a outra pessoa presente no quarto. Agora eu sei porque a voz é familiar, foi ela quem cuidou de mim quando fui parar no hospital. Pera. Eu tô no hospital???

- Você parece confuso. Se lembra do que aconteceu? - Eu paro para pensar um pouco, tentando me lembrar. Tudo o que me vem a mente é dor.

- Bom, vocês foram invadidos por bandidos... - A enfermeira começa. Bandidos? Não. Não foram bandidos. - Eles destruíram a casa e espancaram seu amigo. - Meu amigo? Changbin? Espancaram ele...

- Cadê ele? - Pergunto sem conseguir esconder o pânico na minha voz. A enfermeira me olha meio confusa. - Cadê o Changbin? - Ela suspira, dá a volta na minha cama e então abre a cortina pra me dar visão da cama do lado.

O que eu vi ali, conseguiu ser mais aterrorizante do que eu vi em casa... Ele tá ali, desacordado, quase totalmente enfaixado. Mas o que mais me chocou, foi quando desci meu olhar do rosto dele até seu braço.

Está faltando um pedaço.

- Acontece, Felix, que a casa pegou fogo depois do ocorrido. Não sabemos se foram as pessoas que invadiram a casa, ou se foi acidental. O antebraço de Seo Changbin não aguentou e precisou ser amputado devido ao estrago causado pelo fogo.

Eu desvio o olhar e ela fecha a cortina. Eu sinto as lágrimas quentes escorrerem pelas minhas bochechas. Isso não é possível. Como isso pode acontecer?

- Quanto a você. - Eu levanto meu olhar para a doutora escondida na escuridão desse quarto. - Você perdeu parte da sua visão, por causa do fogo também. Ele afetou seus olhos, mas, de alguma forma, não afetou o restante do seu corpo, e o motivo disso ainda é um mistério para nós.

A partir daí eu parei de ouvir.

Isso explica minha visão ter ficado tão sensível com a luz.

Mas o pior, é o Changbin.
Isso foi culpa minha.
Eu não pude proteger ele.
Eu devia ter morrido no dia do beco.
Ia ter facilitado tudo.