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   Acordo com a luz forte do sol batendo em meu rosto. Acho que meu pai passou aqui já que estou sem meus sapatos e há um lençol sobre mim.

   Eu me sento me alongando e soltando um grande bocejo. Pego meu celular para olhar a hora. São 11:43. Não está tão tarde. Percebo que tem também uma mensagem do meu pai dizendo que foi trabalhar e que eu teria que ficar na casa com Wendy e as meninas. Ótimo.

   Me levanto e vou tomar um banho. Me troco, faço minhas higienes e desço para comer alguma coisa.

   - Bom dia, ou boa tarde, Yongbok. - Wendy diz da sala, sorrindo de leve, só para parecer mais educada.

   - Eu já disse que meu nome é Felix. - Vou para a cozinha e começo a caçar algo para comer. Decido comer apenas duas maçãs, um hambúrguer, 3 pães e um suco de laranja. Pego tudo e subo novamente para meu quarto e ligo o computador.

   Me sento na cadeira que ali tem, não é confortável, mas é melhor do que nada, e faço login no LOL. Uma mordida na maçã. Espero minha equipe ficar online. Outra mordida na maçã. Converso um pouco com eles pelo chat e me preparo para a partida. Era uma vez uma maçã.

   Assim passou a maior parte do meu dia. Só fui parar quando alguém bateu na porta por volta das 17:30.

   - Felix? Posso entrar? - Era a voz de meu pai. Bom, eu não posso recusar não é?

   - Entra - escutei a porta abrindo e depois fechando, um pouco depois ouvi ele se sentando na cama. Sai do jogo e me virei para ele esperando ele falar.

   - Eu quero que você entre na faculdade.

   - Por que? - Ele me lançou um olhar sério e um tanto cansado.

   - Porque você não pode só morar aqui sem fazer nada da vida. A faculdade é... o mínimo que você pode fazer. - Algo me diz que foi Wendy quem mandou ele dizer tudo isso.

   - Eu não vou. - Digo cruzando meus braços e encarando ele.

   - Posso saber o porquê? - Ele entrelaça as mãos e apoia os cotovelos nos joelhos.

   - As faculdades agora aceitam Demis, eu não quero correr perigo. - Ele se endireita de novo e passa a mão pelo cabelo.

   - Olha, Felix, nunca teve nenhum tipo de porblema nas faculdades daqui. Todos eles são pacíficos e não atacam ninguém. - Eu continuei impassível. Após alguns minutos de silêncio ele se levanta bruscamente e aponta bem para a minha cara. - Escuta aqui, mocinho, ou você arranja o que fazer, ou eu te coloco na rua, não importa o que sua mãe tenha me pedido.

   - Lembrei porque eu não fiquei triste quando você foi embora. - Ele pareceu que ia revidar, mas apenas cerrou o punho e se direcionou para a porta. Antes de sair ele se virou para mim.

   - Uma das provas ocorrerá amanhã. Faça sua inscrição hoje. - E saiu. Fiquei algum tempo encarando a porta pela qual ele saiu, depois liguei o computador e procurei pela tal faculdade.

   Como eu suspeitava, era uma faculdade de Demis, esse ano eles começaram com o projeto de incluir humanos lá. Isso não vai dar bom, mas não tenho dinheiro para pagar nenhum hotel por enquanto. Então, aqui estou eu fazendo a inscrição para uma prova que eu não quero fazer.

   Quando deu 19:00, desci para jantar mas travei na porta da cozinha. Meu pai estava gritando com Wendy por qualquer motivo que eu não sei qual é, as crianças estão chorando agachadas em um canto do comodo. Parece que o tempo não consegue mudar todo mundo.

   Dei meia volta sem que ninguém me notasse, sai da casa e comecei a andar sem rumo. Está frio aqui fora, mas não vou voltar buscar uma blusa nem a pau. Pouco tempo depois eu já não sei mais onde estou. Ótimo, tudo que eu precisava era ficar perdido aqui.

   Começo a tentar fazer o caminho de volta, quando viro a esquina imagino tem visto um rapaz de cabelos loiro e olhos vermelhos vibrantes, mas assim que eu pisquei ele tinha desaparecido. Agora tem Demis vagando por aqui nesse exato momento, não podia ficar melhor.

   Retomo minha caminhada pelo que eu acho ser o caminho de volta, aquela sensação horrível que faz parecer que estamos sendo seguidos me faz acelerar o passo. Quando percebo estou praticamente correndo, com medo. Quando acho que vou entrar em pânico, as ruas desertas aumentando ainda mais o meu terror, consigo localizar a casa. Entro correndo e fecho a porta rápido, meu coração está acelerado graças a adrenalina no meu corpo. Respiro fundo algumas vezes para depois desencostar da porta.

   Adentro a casa silenciosamente, aparentemente todos já estão dormindo. Quando estou me dirigindo para a escada, a luz da TV da sala chama minha atenção.Vou até lá e vejo meu pai, largado na poltrona, roncando feito um porco, e várias garrafas de cerveja jogadas no chão perto dele. Tenho pena dessa nova vítima dele. Me pergunto o porquê de ele ter tentado ser legal comigo quando cheguei. Ele não passa de um homem podre por dentro, e essas pessoas que vivem com ele agora ainda vão sofrer muito por isso.

   Volto para meu quarto e me jogo na cama. Com a bagunça de meus pensamentos dois assuntos me vem a mente: a prova de amanhã e o suposto rapaz que eu supostamente vi na rua. Quanto a prova, não estou preocupado, sempre tirei boas notas e não é como se eu realmente quisesse passar. Já o rapaz... estou começando a achar que foi fruto da minha imaginação, uma visão causada pelo medo.

   Respiro fundo e balanço a cabeça para afastar os pensamentos, vou tomar um banho, coloo meu pijama e me deito com meu amado fone de ouvido. Assim, eu durmo ao som de Melanie Martinez...

Demi • Changlix Onde histórias criam vida. Descubra agora