CAPÍTULO 03

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- Oi, amor - cumprimentei Peter.

A vista já estava liberada, e desde então, eu moro no hospital e visito minha casa.

-Desculpa pelo atraso, não acordei com o alarme - contei, mesmo não sabendo se ele me escutaria.

Eu estava cansada, exausta. Mas, não deixei de vir um dia sequer. Acreditava que ele pudesse sentir minha presença, me ouvir e assim não se sentir tão sozinho, coisa que ele odiava sentir.

Me aproximei da cama colocando as novas flores no vaso que eu mesma tinha levado. Lírios-do-vale, sua preferida. Peter é um homem romântico, conhece varias flores e sempre que toma conhecimento de uma nova ele faz questão de dar um jeito de me presentar me falando sobre as suas características. Eu amo o escutar e já estava morrendo de saudade de sua voz. 

- Gostou?- sorri me virando para ele mas, quando encontrei a verdadeira realidade me fez murchar.

Ele não podia me responder, nem me dar um sinal que havia me entendido. Estava falando sozinha as vezes, chegando a eu mesma me responder mentalmente. Eu estava fazendo isso por ele e não podia desistir e nem ao mesmo pensar que estava sozinha. Ele estava comigo.

Forcei fazendo o sorriso voltar ao meu rosto, mesmo que fosse o sorriso mais triste que ja dei em toda minha vida. 

Puxei o banquinho para perto da cama, sentando-me e segurando sua mão. Seu rosto ainda estava machucado mas ja estava menos inchado, o que era um avanço, um sinal que ele estava melhorando.

Tomando folego, comecei:

- Você apareceu no site da faculdade. Todos os diretores gravaram um vídeo, falando seu nome e tudo, te desejaram melhoras e garantiram que no próximo acolhimento você estará lá, liderando - contei, animada - Irá ser o líder, como se fosse um veterano. Isso é demais, não é ?

Não teve resposta. Ainda não estava acostumado com silencio. Pois, ele havia me salvado do mundo sem som e luz que era minha vida. Ele trouxe a felicidade que nunca tive e eu não queria perder.

Encostei minha testa na palma de sua mão, almejando um abraço, um carinho ou quer coisa que me fizesse feliz. Pelo menos por um instante para amenizar a dor e o desconforto em meu peito.

Escutando o bip-bip-bip, eu adormeci. Não era a mesma coisa que dormir sobre seu peito ouvindo seu coração enquanto seus braços me protegia, sentindo seu calor e sua voz baixinha cantarolando alguma musica de nossa banda. Eu só queria o de volta, para seguimos nossa vida e começarmos uma vida nova dividindo uma casa, uma cama. Queria ate discutir- sobre quem ira lavar a louça.

- Querida - reconheci a voz  de Cintia e um carinho nas minhas costas, que por sinal, estava muito dolorida por conta da posição que me encontrava.

Levantei meu rosto, ainda segurando a mão de Peter. Minha sogra segurava um copo de café estendendo-o para mim. O peguei agradecendo apenas balançando minha cabeça sentindo meus olhos inchados.

- Quantas horas? - perguntei, desorientada.

- Ja são seis da tarde - arregalei os olhos, eu havia chegado pela manhã.

- Comeu alguma coisa? - assenti, mentindo - Olivia, você sabe que não me engana.

Levei o copo ate a boca engolindo o liquido quente aquecendo meu corpo que estava gelado por conta do ar-condicionado.

- Não tive tempo, eu estava fazendo companhia para ele - direcionei meu olhar para Peter.

- Ele não gostaria de ver você passando fome. Ainda mais por causa dele. Voce passa dia e noite aqui nesse hospital, não dorme, não come, não vive.

- Isso não é verdade - Cintia cruzou os braços levantando uma sobrancelha, ela me conhecia bem.

- As enfermeiras estão falando sobre uma namorado ruiva do homem em coma, ela passa o tempo todo aqui e só sai quando algum medico manda ela para casa. Acredita que nem no refeitório ela vai?

- Que mulher irresponsável - ironizei. 

Cintia puxou outro banquinho ficando a minha frente, coloquei meu café na mesinha onde estava os lírios dando minhas mãos para ela.

- Eu acho lindo a forma como você o ama e se importa e sei que ele te ama também mas, ele esta nessa condição agora, e não sabemos quando ele vai sair ou se vai sair dessa - meus olhos transbordaram os de pensar nessa possibilidade - Não se prive de viver.

- Mas eu o amo - a primeira lagrima desceu por meu rosto.

- E vai continuar mas, você tem que estar ciente de tudo o que pode acontecer.

- Conversou com os médicos, não foi? - Cintia abaixou a cabeça  respirando fundo.

- Eles fazem exames quase todos os dias para ver como o cérebro esta reagindo e como esta aos poucos voltando a trabalhar em seu ritmo para o tirar do induzido - assenti - Todas as partes do cérebro ja esta se desenvolvendo rápido menos, o hipocampo. Onde fica a memoria.

Levei uma mão ate a boca, respirando fundo sentindo meu interior se rasgar ao meio de medo.

- Estão achando que ele perderá a memoria para sempre? 

- Pode ser coisa temporal mas, também pode ser definitivo.

Escondi meu rosto entre as mãos sentindo meu corpo se mexer por conta das lagrimas que saiam em forma de desespero. Eu estava cansada emocionalmente e fisicamente a espera de pelo menos uma noticia boa mas, ultimamente eu não estava recendo muitas.

Percebendo meu estado, Cintia se despediu de mim e do filho me deixando sozinha com ele. 

Virando-me para ele, voltando a segurar sua mão prometi:

-Eu nunca vou desistir de você. Eu te amo e haja o que houver eu vou estar aqui, ate se você se esquecer de tudo. Mas se puder, se conseguir, faça de tudo para sair dessa e volte para mim.



Até você se lembrar. {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora