CAPÍTULO 04

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2 meses

Peter só tinha mais uma semana para não entrar em estado vegetativo. Escutar isso foi doloroso mas, acreditar foi ainda mais. Só de imaginar que eles podem desligar as máquinas deixando ele morrer sozinho me faz entrar em desespero.

Cíntia diz que, não é para eu ter esperança pois não quer me ver sofrendo mas é impossível seguir minha vida sabendo que Peter está lá, deitado praticamente sem vida. Eu não conseguia. Não consegui nem ao menos ir para a faculdade, que por sorte, entenderam minha situação.

No entanto, aquela semana era decisiva e se o pior fosse acontecer mesmo eu não podia de forma alguma perder nem ao menos um milésimo de segundo longe dele.

Por isso, acordei cedo como todos os outros dias desses últimos dois meses, tomei banho e sai comendo alguma fruta, geralmente, esse era o único alimento que eu comia o que resultou em perda de peso absurda porém não me importava nem um pouco.

Eu não tinha dinheiro que desse para esbanjar, o máximo que eu ganhava era uma pensão de um pai que não conheci mas que deixou um pouco de ajuda que o banco me entregava todo o mês. Tudo o que sei da minha família é que minha mãe morreu no parto e meu pai adoeceu quando eu tinha apenas seis meses de vida. Com medo, me entregou ao um internato e fez uma conta bancária para mim, depositando todos seus bens.

E quando por fim, fiz dezessete anos decidi que queria caminhar com meus próprios pés. Voltei para a casa onde atualmente moro, era a casa onde meus pais moravam e que passara para meu nome com seus falecimentos.  Com a ajuda das freiras consegui a  legalização para morar sozinha e então, comecei minha própria vidinha e por sorte, conheci Peter.

Peguei um ônibus e em questão de trinta minutos eu estava em frente a fachada do hospital. Adentrei no lugar comprimentando alguns funcionários que acabei conhecendo nesse período que praticamente estou vivendo aqui.

Só que naquele dia, aquele local de calmaria estava mais agitado que o normal. Me aproximei do balcão para pegar minha plaquinha de identificação como visitante e Lucie me ofereceu um sorriso. O que era estranho, já que as pessoas aqui são tão frias.

— Tudo bem? — perguntei, sorrindo igualmente.

— Tudo sim e com você? — assenti, mentindo. Porque eu não estava bem desde daquele fadico dia.

Peguei meu cartão, agradecendo-a e seguindo para o elevador apertando no botão que indicava o andar que Peter estava internado. Respirei fundo antes de sair da caixa de metal quando cheguei no respectivo andar.

Segui em frente até a sala de número 104, bati duas vezes para causo alguma enfermeira ou médico estivesse lá mas, me surpreendi quando ouvi a voz de Derik. Ele mal vinha ver Peter, já que era um idoso e não aguentava ver o filho em tal condição.

Abri a a porta me virando para trás para fechar a porta atrás de mim sem ao menos olhar para o meu sogro.

Assim que me virei, varri os olhos pelo quarto encontrando médicos, enfermeiras e meus sogros que por um acaso, estavam com os olhos inchados e com sorrisos nos rostos. Isso foi motivo para que meus olhos fossem direto para Peter.

Tive que me segurar na porta quando vi aqueles olhos me encararem. Levei uma das mãos até boca cobrindo o meu sorriso enquanto lágrimas já transbordava.

- Peter... - sussurrei - Acordou.

Me aproximei lentamente com medo daquilo ser apenas mais um dos meus sonhos. Todos os presentes se afastaram da cama para que eu pudesse chegar mais perto.

Levei uma mão até seu rosto vendo o reagir ao meu toque levando sua mão até a minha.

- Amor! Você voltou - comemorei, não me importando com as lágrimas que molhavam todo o meu rosto.

Mas, em uma atitude que me fez murchar, Peter tirou minha mão de seu rosto olhando nos fundos dos meus olhos e me perguntou:

— Quem é você?

Senti meu mundo desabar, cair sob meus pés. Olhei para o médico que parecia ter ativado seu modo alerta.

— Não se lembra de mim? — perguntei, em uma lamento profundo.

— Não faço a mínima ideia de quem seja — foi a minha deixa, me distanciei dando passos para trás até encontrar o abraço reconfortante de minha sogra.

Por tantas noites eu sonhei em escutar a voz dele, dizendo meu nome, que me amava e que estava bem que não me preparei para uma coisa tão difícil de se lidar. O amor da minha vida não sabia quem eu era.

O médico se aproximou dele, examinam-do.

— Não se lembra mesmo daquela moça? — Peter negou, me olhando confuso, o que fez esconder o rosto na volta do pescoço de Cíntia.

— Peter, essa é Olivia — lembrou meu sogro — Você mesmo havia dito que se lembrava de ter uma namorada.

— E me lembro mas, minha namorada se chama Clara e não é ruiva.

Naquele momento, meu peito doeu como se eu tivesse levado uma facada de uma faca que acabara de sair da brasa, ou, até com uma espada de dois gumes. Eu não sei, só sei que era a pior dor que já senti e olha que eu já havia sentido muitas e diferentes dores no decorrer de minha vida.

Me afastei de Cíntia, concentrando-me para não surtar.

— Desculpe, não consigo... Eu... — antes de conseguir terminar sai correndo da sala indo para o corredor onde me deixei desabar.

Minhas penas perderam as forças fazendo-me deixar cair no chão com as mãos no rosto e soluços altos saindo de minha boca.

Peter havia me esquecido, completamente.

"Eu nunca te esqueceria". Foram as palavras dele mas, por ironia do destino ele não pode cumprir com sua promessa.

— Querida — vi Cíntia se abaixar do meu lado — Pode ser temporário, lembra?

Balancei a cabeça, mesmo que meu pensamento insistisse me dizer que aquilo não seria algo tão passageiro.

— Ele não se lembra nem do meu nome — choraminguei — Ele acha que ainda namora com Clara.

— Não chore, tudo vai se ajeitar e ele vai se lembrar de quem realmente ama. Não se preocupe com Clara, ela não vai atrapalhar sua vida com Peter.

— Como garante isso? Na cabeça dele, ele ainda a ama — me virei para ela falando baixo.

— O amor verdadeiro sempre vence no final. Você o ama? — assenti, sem pensar suas vezes — Então, não desista dele. Você ficou dois meses nesse hospital e não é agora que finalmente ele acordou que você irá desistir. Olivia, Peter vai perceber que você é a garota dele. Vai perceber que foi você que ele descidiu construir uma vida.

A porta do quarto foi aberta com as enfermeiras empurrando a cama de Peter, provavelmente levando-o para exames mais profundos.

Ele me olhou. Talvez com pena ou qualquer coisa do gênero, qualquer coisa mas não havia nem ao menos um resquício de paixão por mim em seu olhar.

Senti o meu mundo desmoronar.

Até você se lembrar. {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora