CAPITULO 05

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O.K, você consegue. Ele apenas não se lembra de você e acha que namora a ex, tranquilo.

Oh, não. Não estava nada tranquilo. Já tinha vinte minutos que eu estava parada de frente a porta de seu quarto e não tinha coragem de sequer olhar pela janelinha para ao menos vê-lo. Passei dias sem vir, para dar um descanso a ele e para minha mente acostumar com essa nova vida que, talvez, terei que acostumar-me. 

— Não está sendo facil não é mesmo? — virei minha cabeça encontrando a mesma enfermeira que encontrei primeiro dia de internação.

Balancei a cabeça negativamente, soltando o ar dos meus pulmões.

— O que pretende fazer a respeito? — levantei uma sobrancelha, confusa — Ora, não vai deixar que te esqueça tão facilmente assim ou vai? 

— Mas, não é algo que eu possa resolver tão facil assim. Não é um problema simples — dei de ombros.

— Olha, eu te vi todos os dias nesse hospital. Você nunca desistiu dele, sempre estava ali do lado segurando sua mão. Se me permite dizer, acho que não é hora de desistir, não depois de tudo o que passou — disse, de uma forma gentil colocando a mão sobre meu ombro.

— Mas o que eu posso fazer? — quase supliquei.

— Recorde-o e mostre quem você é. Arrume uma forma que de mostrar quem vocês eram — dito isso, a mulher saiu de perto de mim me deixando sozinha com meus próprios pensamentos.

Encarei a porta novamente, ponderando do que eu ia ou não fazer. Respirei fundo novamente, e me aproximei da madeira dando três toques antes de ouvir sua voz rouca, provavelmente de sono,  permitindo minha entrada. Toquei a maçaneta girando-a e assim entrando no quarto.

Peter me encarou e eu dei um sorriso nervoso para o mesmo, me aproximei da cama vendo que do lado dela o vaso de flor já não estava mais ali.

— Trouxe café — estendi o copo para ele que me olhou surpreso.

— É meu preferido, como sabi... — o homem fez um bico percebendo o que acabara de dizer interrompendo sua fala — Desculpa.

— Não precisa pedir — dei de ombros me afastando indo para o sofá ficando mais distante que o normal.

Sentei-me cruzando meus dedos em cima de minha perna sentindo meu coração palpitando tão forte que eu era capaz de senti-lo pulsando em meu peito sem ao menos colocar a mão, um frio na barriga devido ao nervosismo me incomodava fazendo-me suar frio, era como se eu tivesse no meu primeiro encontro, fazendo de tudo para manter uma boa primeira impressão.

Observei-o se sentar na cama e levar o liquido quente até a boca fazendo uma careta de satisfação. Ele sempre fazia essa cara quando gostava de alguma coisa e era a coisa mais estranha e fofa que eu podia presenciar.

Peter olhou para mim, pedido, parecia se esforçar, concentrado, e talvez até fazendo um pouco de força.

Um rosnado de frustração saiu do fundo de sua garganta.

— Por que eu só não me lembro só você? — dei de ombros.

— Eu também queria saber — segurei o choro não queria que ele me visse vulnerável.

— Me conte mais sobre você, tecnicamente você é minha namorada  talvez preciso de um gatilho para você voltar para minha mente.

Me mexi, meio desconfortável no sofá.

— O que quer saber? — pareceu pensar.

— Como nos conhecemos?

— Colégio, segundo ano. Você me apresentou a escola e acabamos saindo na mesma aula de química. Sugeriu que fosse minha dupla e eu aceitei a partir daí viramos amigos e depois nos apaixonamos — assentiu, pensativo.

— Me lembro de poucas coisas do segundo ano mas você não está em nenhumas delas.

— Entrei na metade do ano talvez, você tenha perdido a memória desde dessa época — era muito tempo.

Ficamos em silêncio, eu encarando o chão pensando em como eu poderia ajudar. Não era tão fácil, na verdade, não era nada fácil. Podia até ser classificado como algo impossível de se fazer. Mas, talvez ele tivesse razão, só precisa de um gatilho, uma lembrança forte e emocionante.

— Passei na faculdade? — sorri, lembro-me no quanto era seu sonho entrar em uma.

— Sim, em Califórnia. Sofreu o acidente indo para lá, ia participar do acolhimento — ele arregalou os olhos, desacreditado.

— Acolhimento? — assenti sorrindo — Caraca.

De repente, seu rosto iluminado se fechou. Como um dia ensolarado se fecha com as nuvens pesadas e cinzas anunciando uma tempestade.

— E eu perdi — lamentou.

— Não — fui rápida em negar e explicar toda a situação da faculdade e a sensibilidade que os gestores tiveram com ele, o que fez-o rir e comemorar.

Era bom vê-lo assim, vivo, acordado, feliz, com esperança. Mesmo que não se lembrasse de nada que me relacionava, vê-lo sorrindo era a única coisa que importava. Escondi ao máximo minha tristeza para não transmitir aquela energia ruim a ele. Tentei soar o máximo positiva. Clamufando minha dor.

— Posso te perguntar uma coisa? Mas não fique chateada, eu só quero saber.

— Claro, pode falar.

— Nas minhas lembranças eu ainda estou com Clara — assenti devagar — Como eu e ela terminamos? Para eu e você ficarmos juntos?

— Não acho que seja uma boa hora... — interrompeu-me.

— Por favor, Olívia — senti saudade de ouvi meu nome em sua voz.

— Clara e Mark eles... — não consegui terminar de falar. Lembro como se fosse hoje como Peter ficou mal com a história.

— Sério que fui traído com meu melhor amigo? — concordei vendo-o xingar baixo.

Dei um tempo para ele absorver o que quer que esteja sentindo. Na época, ele chorou, Peter é muito sentimental quando é pego de surpresa mas, dessa vez ele apenas fechou os olhos e ficou lá, quietinho perdidos em seus próprios pensamentos. Não imagino o quão deve estar sendo difícil para ele.

Mas, quando eu menos esperava ele fixou os olhos em mim fazendo borboletas voarem soltas por meu ventre. Será que ele tinha noção do quão intenso estava seu olhar e todo o poder que tinha sobre mim quando me olhava daquela forma?

— Quero me lembrar de você, Olívia.

Até você se lembrar. {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora