Naquele domingo à noite, William andava de um lado a outro em seu apartamento. A chuva lá fora cada vez mais forte frustrava suas intenções. Não conseguiria sair. Precisava sair. Precisava ter certeza.
Ignorando o bom senso, a tempestade e o frio, William pegou seu casaco, suas chaves e deixou o apartamento.
A rua estava especialmente escura aquela noite. Não apenas por causa da chuva que não aumentava nem diminuía, permanecia torrencial, forte, cortante.
Alguns bueiros soltavam uma fumaça quente que ao se misturar com toda aquela água transformava tudo à volta em um cenário sombrio.
William estacionou o carro um pouco mais perto do edifício.
De dentro de seu carro, era a segunda vez que via Leonardo saindo do prédio de Malú durante a noite aquela semana.
Não podia ser coincidência. Pensou. Que outro morador Leonardo conheceria no condomínio em que ela morava? Claro que estava se encontrando com ela. Com sua mulher.
O coração disparado fervia de ódio. Estava ofegante. Endireitou-se no banco e estreitou os olhos. Leonardo atravessou a rua correndo tentando se proteger da chuva.
Colocou a mão no trinco para abrir a porta, mas controlou o impulso de sair, correr até o amigo e esmagar sua cabeça.
— Eu sabia que era isso o que você queria.
William esperou que Leonardo entrasse no carro e fosse embora, então abriu a porta e saiu.
Seu Carlos ouviu o som da campainha e perguntou-se quem faria visitas àquela hora. Passava de uma da manhã.
Abriu a porta e não escondeu a surpresa.
— Seu Salles?
— Boa noite, Carlão. Como vai. Me deixe entrar. Estou ensopando aqui fora.
O porteiro tentou fechar, porém William o impediu colocando o pé na fresta.
— Me desculpa, seu Salles, mas o senhor não devia estar aqui.
— Eu vim em paz, seu Carlos, não se preocupe.
— Não posso deixar o senhor entrar, seu Salles, é melhor ir embora agora.
William respirou fundo controlando a vontade de apertar o pescoço fino do porteiro.
— Não vou contar a ninguém. — William pulou para dentro sacudindo a água do corpo e fazendo seu Carlos dar um passo involuntário para trás. — Posso até dizer que o senhor nem estava aqui quando cheguei. Agora, vou subir e vai ficar tudo bem. É melhor não fazer alarde nenhum, entendeu?
Sem dizer nada, seu Carlos apenas olhou para William franzindo as sobrancelhas. Se o homem não desse passagem, William o atropelaria. Ele deu uma piscada para o velho, foi para o elevador, apertou o botão e esperou encarando o porteiro imaginando uma maneira dolorosa e divertida de acabar com aquele insignificante.
Assim que William entrou e a porta fechou, seu Carlos pegou o interfone. Ficou impaciente quando tocou uma, duas, três vezes.
— Dona Malú! Dona Malú! Ele está indo aí. Seu Salles está subindo, está no elevador.
❃❃❃
Malú usava apenas a camiseta com a qual sempre dormia. Só teve tempo de pegar um casaco jogado em uma poltrona do quarto e o celular, não encontrou as chaves do carro. Xingou algumas vezes inconformada por aquela desgraça sempre sumir quando mais precisava. Correu para a porta, checou o olho mágico e certificou-se de que as luzes automáticas estavam apagadas, sinal de que ninguém estava ali. Não ainda. Respirou bem fundo duas vezes. Abriu a porta, olhou para fora apreensiva, certificou-se de que era seguro e saiu. Somente quando pisou no corredor e sentiu o chão gelado foi que lembrou-se de que estava descalça. Xingou mais uma vez, mas não tinha tempo para voltar. Olhou para o monitor digital do elevador, indicava que ainda estava no décimo terceiro andar. Ficou agradecida, teria algum tempo. Então correu para a escada de emergência e começou a descer.
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QUERIDO MEDO
Любовные романыROMANCE / DRAMA ⸻⸻ Pode um grande amor ser mais forte que o medo? Malú Toscano é uma arquiteta bem sucedida, independente que se vê presa em um relacionamento com William, um psicopata controlador. Cansada do relacionamento que a faz preferir a mor...