A fuga noturna em meio à tempestade parecia ter acontecido em outra vida, mas haviam se passado apenas dois dias.
Como era possível que sensações boas pudessem quase neutralizar coisas tão ruins? E quando Malú pensava em coisas boas, Leonardo era o que surgia em sua mente.
Começou aquele dia animada o suficiente pra acreditar que poderia fazer qualquer coisa. Se esconder em casa e esperar que William aparecesse a qualquer momento não resolvia problema nenhum. De repente a ideia de ficar agir como uma vítima assustada que apenas remoía o medo enquanto o esperava botar suas garras nela lhe pareceu ridícula.
Depois de um banho rápido, colocar roupas que tinha certeza de que William não aprovaria, Malú foi para o trabalho. No caminho ligou o som do carro em volume alto tentando espantar tudo o que a atormentava sempre que saía de casa sozinha. E se Will estiver esperando na calçada? E se ele deu um jeito de mexer em meu carro e provocar um acidente? E se ele estiver me seguindo? E se estiver no escritório quando eu chegar?
Malú cantou alto junto com a música, tamborilando os dedos no volante e chacoalhando a cabeça. Estava funcionando, as preocupações começavam a dar lugar a certa tranquilidade, uma tranquilidade cautelosa e passageira, porém ela aproveitaria o momento de qualquer jeito. Pelo menos por aquele dia, se recusaria a ser uma refém do medo.
Durante o dia todo no escritório ela ignorou a sensação de que William poderia aparecer a qualquer momento, queria apenas paz, por isso também não questionou Rodrigues sobre ter usado seu computador, então mergulhou no trabalho sem parar nem para o almoço e só percebeu que era fim do expediente quando viu o céu começando a ficar alaranjado do lado de fora.
— Bia, já vou indo, caso alguém me procure diga que... — Malú olhou para trás e não era Bia quem entrava em sua sala.
— Malú, preciso que assine estes papéis antes de ir. São só algumas compras que precisam ser aprovadas e alguns contratos, o de sempre.
— Tem que ser agora, Rodrigues? Eu já estava de saída.
Rodrigues desviou os olhos tentando pensar rápido.
— É que... — Ele pensou por um momento. — ...alguns prazos já estão pra vencer, só vai levar um minuto.
— Tudo bem. — Disse ela um tanto impaciente e sem nem se sentar nem se desfazer da bolsa em seu ombro, pegou uma caneta e assinou mais papéis do que gostaria. Com um sorriso satisfeito Rodrigues encarou Malú por um segundo mais longo do que percebeu e analisando os papéis com bastante atenção deu as costas e saiu da sala.
❃❃❃
— E ela não fez perguntas? — Quis saber William.
— Ela parecia estar com pressa, apenas assinou e saiu. — Disse Rodrigues.
— Simples assim?
— Também não imaginei que seria assim tão fácil. Acho que tive sorte.
— Muito bem. Eu disse que você saberia como fazer. Parece que agora você é um homem rico, Lucas Rodrigues. Pode checar sua conta em algumas horas. Espero não te ver nunca mais e acho que não preciso dizer que conto com sua discrição, certo?
— Eu não tenho porque ser indiscreto já que do contrário me ferraria muito mais do que você.
— Isto é verdade.
William encarou Rodrigues que entendeu que era hora de ir. Rodrigues saiu do carro de William e desapareceu na escuridão da noite.
Com os papéis nas mãos, William saboreava seu conteúdo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
QUERIDO MEDO
RomanceROMANCE / DRAMA ⸻⸻ Pode um grande amor ser mais forte que o medo? Malú Toscano é uma arquiteta bem sucedida, independente que se vê presa em um relacionamento com William, um psicopata controlador. Cansada do relacionamento que a faz preferir a mor...