ꕥ Infância

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Leonardo praticamente amanheceu em seu escritório. Aquele havia começado como um dia difícil. Processos importantes haviam sido marcados para a mesma semana. Aquele era um erro que ele tinha de garantir que não se repetisse.

Uma audiência demorada pela manhã, algumas reuniões com associados pouco antes do almoço que seria em um hotel onde acontecia um evento jurídico do qual tentara escapar, mas sua presença havia sido firmemente requisitada e não conseguiu se esquivar de ter que palestrar pelo menos em um dos cinco dias.

Durante o almoço no hotel ligou para a irmã e falou com as crianças, mas não conseguiu falar com Malú. Ligou algumas vezes, mas as chamadas não eram atendias. Imaginou que o dia no escritório dela também não estava nada fácil. Preocupado, deixou uma mensagem e tentaria novamente assim que tivesse outro break.

Ele assistiu alguns dos seminários do evento até que fosse sua vez de falar. Leonardo se perguntava se não era hora de escolher um representante oficial para casos como aquele. Com tantas coisas importantes aguardando por ele em sua agenda, fazer presença vip apenas para representar sua empresa era uma das coisas que ele detestava. Qualquer um podia falar sobre o Futuro Dos Negócios E Os Negócios Do Futuro, Ciência De Dados Aplicada Ao Direito, mas por alguma razão os colegas do ramo achavam que ele era o manda chuva nesses assuntos, e aquelas eram algumas das pautas do que falaria na conferencia daquele dia.

— Está a um minuto de subir ao palco pra brilhar de um jeito que só você sabe fazer. — Disse Alana, uma das advogadas associadas da empresa de Leonardo. Ela o segurou pelo braço e deslizava uma unha por cima do tecido do terno. — Não devia estar repassando suas pautas ao invés de ficar aí vidrado em seu celular?

Leonardo suspirou cansado ao ouvir a voz dela. Sabia dos sentimentos de Alana por ele e mesmo que ele tivesse deixado claro que não tinha qualquer interesse, ela jamais desistia.

— Oi, Alana. Pode não parecer, mas há coisas mais importantes do que fazer palestras de auto ajuda para advogados carentes.

— Umm. Espero que não tenha sido uma direta pra mim.

— Não foi, pode acreditar. Muita gente vem a esses eventos procurando um sentido pras suas vidas, por alguma razão, acreditam que eu tenho a resposta e eu sei do que estou falando, você não imagina a quantidade de profissionais que me procuram nos after meetings com dezenas de perguntas mais pessoais do que profissionais.

— Eu os entendo. Eu mesma tenho uma pergunta nada profissional pra te fazer.

Leonardo forçou um sorriso.

— E o que poderia ser? — Disse ele nada surpreso.

— Quer sair daqui comigo agora mesmo? Pode dizer que te sequestrei. Eu posso arcar com as consequências de um sequestro.

— Não, obrigado. Não quero que você tenha problemas com a lei.

Leonardo foi anunciado, se levantou da poltrona deixando Alana e subiu ao palco com um sorriso profissional. Seu jeito de falar sempre prendia a atenção de todos, para as mulheres, não era necessário que ele dissesse nada, prestariam atenção àquele homem mesmo que fosse mudo.

Ao terminar, Leonardo não voltou ao seu assento ao lado de Alana cujo sorriso desapareceu quando ele saiu direto pela lateral sumindo de sua vista sem nem mesmo um aceno. Naquela manhã, ele nem de longe parecia o cavalheiro que há algum tempo a convidou para um jantar romântico seguido de algumas semanas de um quase namoro. Até aquele momento Alana ainda não havia entendido o que deu errado na época. Suspirou desanimada e seguiu para a palestra seguinte.

Leonardo estava no estacionamento, parado do lado de fora do carro com o celular grudado na orelha. Mais uma vez o telefone chamava e Malú não atendia. Começava a se preocupar de verdade então ligou para o escritório dela.

QUERIDO MEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora