ꕥ Segunda Feira

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Malú costumava gostar muito das manhãs de segunda feira, especialmente quando acordava sozinha em sua própria cama. Sozinha em sua casa. Sem ninguém lhe dizendo o que fazer, como se vestir, se devia ou não respirar. Por isso ficou grata por William ter saído antes do amanhecer.

Porém, naquela manhã de segunda sentia-se drenada. Arrastou-se para fora da cama, parou na frente do espelho do banheiro encarando o próprio reflexo.

Sentia vergonha de si mesma.

Não havia um só dia em que não se perguntava por que se sujeitava a uma vida tão miserável.

Tomou um banho demorado. Foi até o closet, vestiu jeans, camiseta e um blazer. Maquiou-se de leve, prendeu o cabelo num rabo de cavalo. Tomou um café rápido e saiu.

Pensou nas palavras positivas do amigo de William. O tom da voz dele e a maneira admirada com que ele a olhava despertavam uma sensação boa dentro de seu peito e uma sensação boa começou a brotar trazendo uma animação que há muito tempo não sentia.

Malú adorava trabalhar.

Passara algumas horas acordada na cama quando voltou do jantar evitando pensar em toda a humilhação e ao invés disso mergulhou seus neurônios em pensamentos e ideias para melhorar os negócios.

A Toscano Studio Arquitetura ficava a apenas algumas quadras de seu prédio, no entanto Malú sempre ia de carro. Tinha pavor de andar sozinha pelas ruas, mesmo em um bairro nobre.

Depois de uma reunião com seus funcionários, Malú foi para seu lugar preferido no studio, o ateliê onde adorava passar horas distraída com os projetos. Gostava de ver os desenhos prontos e os tratava como obras de arte, na verdade eram. Seus projetos costumavam ser bastante elogiados. Muitos clientes pediam pra que emoldurassem os croquis como se fossem um troféu pra que qualquer um que entrasse em suas casas tivessem certeza de que tinham sido projetadas por uma Toscano.

Já tinha algum tempo que aquilo não acontecia. Na verdade a clientela vinha diminuindo de forma orgânica. Não importava o que fizesse, o quanto investisse em publicidade e propaganda Malú não conseguia descobrir por onde aquela água estava vazando. Mesmo assim, ela continuava a se dedicar o máximo que podia e se sentia especialmente inspirada naquela segunda feira. Não sabia de onde vinha aquela vontade de fazer tudo diferente, mas aceitou e mergulhou de cabeça naquele dia.

— Oi, Malú.

— Bia, oi. Entra.

Bia entrou sorrateira, olhando para fora como se fosse perseguida por alguém.

— Alguma notícia boa pra começar o dia, Bia?

— Não muitas. Mais dois clientes cancelaram os contratos. Um dos contratos tinha uma multa gigante em caso de cancelamento, mas adivinha só? Ele já pagou.

Malú arregalou os olhos e suspirou desanimada.

— Eu sei que tem alguma coisa errada, mas não quero pensar nisso agora.

— Tá legal. Na verdade só vim mesmo te avisar que alguém esteve aqui te procurando.

— Por que está sussurrando? — Malú sorriu. — É algum cliente?

— Quem dera. É você sabe quem. Aquele seu namorado. Ele apareceu mais cedo, mas achou que você demoraria e saiu.

— Oh. Sim. Aquele meu namorado. Ok. Obrigada, Bia.

Malú olhou para o croqui inacabado. Nada de notícias boas. O dia ficou preto e branco de novo e ela se perguntou se podia piorar.

— Aí está você.

QUERIDO MEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora