ꕥ Sozinha

155 32 2
                                    


Um monumento que por sua grandiosidade poderia muito bem ser uma escultura exposta em um museu de arte. Um jazigo na forma de um piano esculpido em mármore negro em tamanho real serviu de esconderijo para William no Cemitério da Penitência durante a cerimônia do enterro do pai de Malú.

Podia vê-la perfeitamente, mesmo de longe.

Ela não usava preto como a maioria das pessoas ali, estava de casaco, jeans e camisa branca. Ele não gostou nada daquelas roupas. Odiava quando ela usava calças jeans, achava que acabava com sua feminilidade. Era o resultado de sua ausência na vida dela. Não conseguia nem mesmo se vestir sozinha.

Leonardo estava ao lado dela. Se tivesse uma arma de precisão naquele momento seria capaz de acertá-lo mesmo à distância e ninguém saberia de onde o tiro havia partido. Queria que ele tirasse as mãos dela. No entanto, logo resolveria aquele problema também.

William esperou pacientemente pelo fim da cerimônia. Ficou observando Malú desmoronar ao lado de sua mãe, as duas bem perto da cova enquanto o velho estúpido era baixado lá dentro. Desejou com todas as suas forças estar ao lado de Malú quando taparam o buraco onde seu pai agora ficaria para sempre. Ela e sua pobre mãe, agora arrasadas.

Malú, sua idiota. Você poderia ter evitado tudo isso. Por que me abandonou? Nada disso estaria acontecendo.

Quando as pessoas começaram a deixar o cemitério William acompanhou a movimentação com cautela se esgueirando de túmulo em túmulo, se escondendo atrás de árvores. Esperou Malú, Amanda e Leonardo entrarem no carro, então correu e fez o mesmo. Foi até o Mercedes preto alugado estacionado um pouco mais distante do fluxo de pessoas, deu partida sem perder o carro de Leonardo de vista e o seguiu até que eles entrassem em uma mansão.

Como esperado muitos outros carros chegavam à casa dos pais de Malú e também entraram.

Sem pensar duas vezes, William estacionou seu carro a uma distância segura, onde não poderia ser visto, desceu e entrou na casa agradecido por não ter sido notado já que outras pessoas também estacionaram na rua e entraram à pé.

Ele entrou na mansão e encontrou um lugar para se esconder. Não estava nem um pouco preocupado com quanto tempo teria de esperar, pegaria de volta o que lhe pertencia e sua vida voltaria a ser como antes. E era só isso o que importava.


❃❃❃


Leonardo havia mesmo partido.

Depois de algumas horas trancada no quarto da mãe recusando-se a ouvir qualquer som que indicasse que Léo estava mesmo indo embora, Malú saiu e foi até seu quarto. Léo não estava mais lá.

Desceu as escadas. Silêncio absoluto.

Os empregados não estavam. Achou que eles não a obedeceriam quando disse que poderiam ir para casa, mas talvez o peso da morte que tornava a casa toda mais sombria e mais insuportável os tenha espantado.

Sentou-se no primeiro degrau da escada. O sol iluminava o ambiente todo. Já era quase hora do almoço. Se Leonardo estivesse lá estaria obrigando-a a comer qualquer coisa. Pensar nele era uma tortura, não tinha mais forças, não tinha mais lágrimas. Se sentia fraca. A cabeça doía, a ausência de Leonardo doía.

Andou até os fundos, ficou em pé na beirada da piscina. Ficou um tempo hipnotizada pelo tilintar das luzes no movimento das pequenas ondas. Como queria que os dias felizes naquele ambiente nunca tivessem terminado.

Apesar de ser inverno o dia estava quente, resistiu à tentação de se jogar no lado mais fundo mesmo ainda vestida com a camisa e a calça jeans do dia anterior, não por medo de não ter roupas para usar, mas por medo de permitir que a água acabasse com todo aquele sofrimento.

QUERIDO MEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora