CAPÍTULO DEZESSEIS
eu precisava de você, mas você navegou pra longe.
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Ao chegar na enfermaria Pietra hesitou. Seus pés pareciam estar colados no chão e sua garganta doeu. Quando foi a última vez que falara com Tori? Sobre Tris, pensou. Alguns meses antes. Sobre divergentes. Sobre si mesma e sobre George.
Pietra sempre dizia para si que não precisava falar sobre ele ou sobre o que aconteceu. Tori não falava mais com ela, Logan parecia ter sumido da face da terra e Luke estava morto. Mas ela precisava sim. E nos últimos dias havia falado demais sobre ele.
George não ficaria feliz com isso.
Ele faria uma careta e diria que meninas são idiotas. Que Tori e Pietra deviam deixar de serem infantis e superar juntas como sempre faziam. Que ele não queria ser esquecido e que elas estavam fazendo exatamente isso.
— Está tudo bem? — Helena saiu de dentro da enfermaria e quase levou as duas ao chão ao dar de cara com a líder parada a porta.
Pietra engoliu em seco e deu alguns passos para trás, atordoada pelas memórias que vieram a tona.
— A Tori está acordada?
— Sim — ela assentiu e abriu passagem para que ela entrasse — Mas ainda não está bem o suficiente para tomar o soro da verdade, se foi por isso que veio.
O tom alaranjado dos cabelos de Helena estava desbotado e o tempo não havia sido muito gentil com ela. Seus olhos pareciam cansados e as olheiras embaixo deles entregavam que ela não dormira muito bem nos últimos dias. Quando Pietra ainda era uma inicianda haviam mais duas enfermeiras na Audácia, mas em algum momento elas largaram o trabalho.
— Não, eu só vou fazer algumas perguntas, vai ser rápido — ela sorriu — Como anda o Robbie?
— Ah, você sabe como ele é — ela deu de ombros — O ataque o destruiu, ele paga de durão mas tem um coração muito bom, não sei o que vamos fazer agora que Lou está na Erudição.
Pietra sabia que Helena era casada e que sua mulher era uma ótima pessoa, que teve que abdicar do trabalho quando elas adotaram Robbie. Jamais pensaria que Lou trairia sua família dessa forma.
— Tenho certeza de que vocês vão dar um jeito — ela sorriu tristemente — Robbie é um garoto muito forte.
— É, mas ainda assim ele tem apenas doze anos. Precisa da mãe — os olhos da ruiva brilharam com lágrimas e ela virou a cabeça — Tenho que ir; não force muito a barra, ela ainda está instável.
Helena passou por Pietra e fechou a porta ao sair. A morena respirou fundo e caminhou até a maca onde Tori se encontrava deitada. Ela puxou uma cadeira e sentou cruzando as pernas.
— Se você veio pedir uma confissão ou dizer que sente muito, pode ir embora — Tori rosnou.
— Você sabe que não foi por isso que eu vim — Pietra rosnou de volta e Tori riu de escárnio.
— Desistiu?
— Vai se ferrar — seus lábios se formaram em uma linha reta antes dela continuar — Eu sou a líder da sua facção e você vai ouvir o que eu tenho a dizer e responder o que eu perguntar, sem sarcasmo ou deboche. Eu cansei, você quer me acusar de algo que não foi minha culpa? Tudo bem. Mas eu não vou aceitar que você misture o passado com o presente. Nós duas sabemos que George não gostaria disso.
Tori engoliu em seco. Ela sempre soube que era dura com Pietra, mas nunca esperou que ela fosse falar de seu irmão com tanta naturalidade. George nunca fora um assunto fácil de se discutir.
— Tá bom — ela se recompôs mas fuzilava Pietra com os olhos.
— O que você estava fazendo na Erudição? — a líder estava sendo objetiva. Não deixaria Tori a desestabilizar, de novo.
— Espionando.
— Tori, você não está sob julgamento ou efeito de soros — ela ergueu os ombros — Mas isso não é um problema, eu posso chamar Kang agora e começar um bem aqui.
— Eu não estou mentindo.
— Não, mas está sendo vaga. Eu também fui criada na Erudição, caso tenha se esquecido. Eu sei os truques para fugir de um interrogatório, e se você continuar a negar informações pra mim vou te considerar uma traidora da facção antes mesmo de um julgamento oficial.
— Isso subiu mesmo a sua cabeça, não é?
— Não, você subiu a minha cabeça — a morena tinha um olhar acusatório — Me culpar pela morte de George? Isso foi baixo. Você sabia que me derrubaria.
— Sim, e se você não estivesse tão determinada a vingar a morte dele e salvar a maior quantidade de divergentes possível, você teria se tornado líder? Eu...
— Não — Pietra gritou — Pare com isso! Você não é a mocinha da história, você não é uma vitima, Tori.
Pietra estava de pé, ela não se lembrava de levantar. Ou de caminhar até Tori e apontar o indicador em sua cara. Ela caminhou para trás lentamente até suas costas encontrarem a parede branca. Tori estava sentada agora, o sangue começara a atravessar o curativo branco, mas a dor pareceu não a incomodar.
— Quando tudo aconteceu, eu não estava...
— Cala a boca.
— Pietra...
— Cala. A. Boca — Pietra falou e Tori se calou engolindo em seco.
A líder não a olhou nos olhos, seu foco estava no chão e ela não voltou a encarar a amiga. Ela apenas saiu de lá, seu foco no chão e sua cabeça em um lugar muito longe dali.
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DROWN, insurgente² ✓
FanfictionApós fugir para a Amizade e sem saber que rumo tomar Pietra se sente pressionada a voltar para sua própria facção e enquanto lida com as turbulências de um amor platônico tem sua confiança posta a prova por quem deveria ser seu porto seguro. ៚ conc...