CAPÍTULO UM
este é o mundo que fizemos.
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Dentro dos dezoito anos que vivera Pietra nunca tinha imaginado estar onde estava naquele momento: suja de sangue, cabelos bagunçados, abrigada na Amizade e sendo caçada por algo que nem fez. Uma grande ironia, ela diria, já que a mulher que tinha a posto nessa situação era a mesma que Pietra considerava como figura materna dois anos antes.
Fingindo que não havia arma alguma no cós de sua calça a morena caminhou junto com Peter, Tobias e Tris até o escritório de Johanna; atual representante da Amizade. Marcus e Caleb estavam com alguns membros da Abnegação que fugiram durante o ataque e procuraram abrigo ali — Johanna sabia que não precisava se preocupar com eles dois causando problemas.
— Bem, nós decidimos tornar nossa facção um refúgio para os que desejarem, mas com algumas condições — começou ela — A primeira é que nenhuma arma de qualquer tipo é permitida dentro do complexo. A segunda é que, se qualquer conflito ocorrer todas as partes envolvidas serão convidadas a se retirar. A terceira é que o conflito não deve ser discutido dentro dos limites deste complexo. E a quarta é que todos que permanecerem aqui devem contribuir para o bem estar deste ambiente trabalhando.
Alguns minutos antes Tobias tinha um sorriso no rosto, mas sua expressão mudou após as palavras de Johanna. Pietra se remexeu certificando de que a arma não estava a vista e trocou um rápido olhar de canto com o moreno que estava ao seu lado.
— Vocês serão bem vindos aqui, desde que consigam seguir nossas regras.
— Não vamos conseguir ficar por muito tempo — a morena sussurrou para Tobias.
— Não, não vamos.
Assim que concordaram com os termos Pietra e Tris foram levadas ao quarto onde passariam os próximos dias. Era pequeno, duas camas e uma cômoda entre elas; havia uma caixa encima dela escrito "costura" no topo; uma janela que iluminava mais do que o necessário e um armário que não cabia muita coisa. Era algo definitivamente temporário. Havia uma troca de roupas alaranjadas sobre a cama e só nesse momento Pietra notou que havia uma porta do lado esquerdo que era provavelmente o banheiro.
— Pode tomar banho primeiro — a ruiva disse.
— Não precisa pedir duas vezes — tirou a arma do cós da calça e a estendeu para Tris — Guarde isso pra mim e não deixe que ninguém veja. Não acho que estamos seguras só por essa ser a "facção da paz".
Tris assentiu e pegou a arma. Pietra entrou dentro do banheiro com seu conjunto de roupas alaranjadas e ficou se perguntando como alguém conseguia usar roupas com uma cor tão chamativa todos os dias e não vomitar em si mesmo.
Ao se encarar no espelho Pietra não viu a mesma pessoa que vira no dia anterior. Ela viu uma assassina que não hesitou nenhuma vez em apertar o gatilho; alguém que levou uma facada do melhor amigo e que abandonou sua facção por medo da morte.
Assim que a água morna caiu sobre seu corpo ela fechou os olhos sentindo o calor a atingir e levar todo aquele sangue e terra para o ralo. Queria que ele levasse outras coisas também, como o peso que ela sentia por ter fugido, ou a culpa que ela sentia por ter matado tanta gente; mas infelizmente não era assim que funcionava mesmo que esfregasse até sua pele arder nada podia tirar o que ela havia feito e o que havia se tornado.
Pressionou com a mão esquerda o corte em seu abdômen e prometeu a si mesma que daria um soco em Tobias por isso mais tarde. Depois de se secar ela vestiu as chamativas roupas das quais não gostava e saiu do banheiro.
— Você fica ridícula de amarelo — Pietra lhe mostrou o dedo do meio e Tris adentrou o banheiro rindo.
Ela estava com uma calça amarelada um pouco larga e uma camisa de mangas laranja que deixava a mostra a maioria das suas tatuagens já que era uns dois números a mais. Seus pés ainda estavam descalços e os cabelos molhados deixavam as costas da camisa úmidas.
— Seguir em frente — murmurou e se sentou na cama — Eu consigo.
Não era tão fácil quanto ela esperava.
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Naquela noite a líder não foi capaz sequer de fechar os olhos; talvez por estar sem sono, talvez por ter medo do que veria se os fechasse. Ela ficou sentada na cama a noite toda, vez ou outra se assustava com Tris se remexendo graças aos pesadelos que também a importunavam.
Foi uma longa noite.
E quando a ruiva finalmente acordou a morena agradeceu por isso, estava começando a achar aquele lugar solitário. Ela se sentou na cama e as duas se encararam por alguns minutos antes de dizerem algo por mais curto que fosse. Pietra estava encostada na parede abraçando os próprios joelhos. As olheiras em seus olhos denunciavam muita coisa.
— Não conseguiu dormir? — perguntou.
— Não consegui encarar o que apareceria se eu dormisse.
— Queria ter feito como você — deu de ombros.
— Tem sido noites bem difíceis.
— Nem me fale — Tris soltou uma risada nasalada — Hey, você pode me ajudar com algo?
Depois que a cortina exageradamente laranja foi aberta e a luz diurna surgiu, Tris abriu a caixa de costura que continha agulha, linha e uma tesoura. Pegou o objeto de metal e o entregou a Pietra que segurou suas longas madeixas com a mão direita e a tesoura com a esquerda.
— Eu entendo porque quer fazer isso — disse antes de fazer qualquer coisa — Mas saiba que não adianta; eu já tentei.
— Eu não quero me olhar no espelho e ver a pessoa que atirou em Will — lágrimas surgiram em seu olhos verdes — Que matou meus pais e várias outras pessoas.
— Tris, essa é você agora — suspirou — Eu sinto muito mas um corte de cabelo não vai mudar isso.
A ruiva se virou para Pietra que tinha um olhar tão trágico quanto o dela. As bochechas de Tris estavam molhadas e a líder segurou seu rosto com as mãos e secou as lágrimas com o polegar. Tris não derramou mais lágrimas, mesmo que quisesse.
— Não foi sua culpa e você não precisa se culpar por isso — seus lábios se curvaram em um sorriso — Agora vamos mudar seu visual.
A ruiva sorriu e se virou de costas outra vez. Com a tesoura em uma mão e uma mecha do cabelo de Tris na outra ela usou suas habilidades inexistentes de cabeleireira e tentou apenas manter o corte o mais reto possível; bem acima do ombro como a mais nova pedira.
Estava certa ao dizer que isso não a ajudaria a superar o que houve, mas havia arrasado e Tris estava linda.
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DROWN, insurgente² ✓
FanfictionApós fugir para a Amizade e sem saber que rumo tomar Pietra se sente pressionada a voltar para sua própria facção e enquanto lida com as turbulências de um amor platônico tem sua confiança posta a prova por quem deveria ser seu porto seguro. ៚ conc...