Capítulo 22 - Saber Voar

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GABRIELA:



Hoje era o último dia que Miguel tinha para acordar. Noite passada eu chorei rios, minha pressão baixou e eu acabei no hospital, mas logo fui liberada. Estou saindo de casa com os meninos em direção á escolinha deles, já que a desnaturada da Ana não teve coragem nem de levar os pequenos para estudar.



— Pronto, estão entregues. — Forço um sorrisinho de canto.


— Tchau, tia. — Micael me dá um abraço e um beijão na minha bochecha, correndo com sua mochila de rodinha dos carros pra dentro da escolinha e passando por cima do pé da professora, que ri.




— Tchau, tia Gabi. — Matheus dá um beijinho na minha testa, abraça meu pescoço e corre pra dentro da escola.





— Bom, agora é você, Murilo. — Me viro pra ele.



— Ele tá morrendo, né? — Me viro pra ele.


— Quem? — Engulo seco e me contenho.


— O Miguel. — Olha o chão fixamente. — Ele tá morrendo e ninguém tá fazendo nada. Por que?


— Ninguém tá morrendo, Murilo. — Apoio a mão no ombro dele, mas ele se desvia.



— Tu pode facilmente enganar os meus irmãos, mas tu não pode me enganar. Por que vocês estão assistindo ele morrer sem fazer merda nenhuma?



— Porque... — Eu respiro profundamente para me manter calma. — Não tem o que fazer, Murilo. — Eu olho os olhinhos azuis dele, já sentindo os meus se encherem. — Você acha que eu quero perder o meu namorado? Ele é seu irmão, mas também é o amor da minha vida.



— Se ele é o amor da sua vida, por que tu dormiu com a titia?



— Como você sabe disso?


— Eu já te disse, você engana apenas os meus irmãos. — Ele me julga com os olhos e depois dá as costas, entrando na escola. A professora me olha de um jeito caridoso e eu limpo meus olhos marejados.



— Ele não acordou ainda?


— Não. Hoje era o último dia, eles vão...desligar os aparelhos. — Eu coço o meu queixo, tentando me distrair para que o chororô não voltasse á me invadir.



— Ah...eu...sinto muito. — Ela apoia a mão no meu ombro e eu acabo cedendo ali na frente das crianças. Encosto a cabeça no ombro da professora que eu tenho conversado quase todos os dias das últimas duas semanas. Ela me abraça firme e acaricia meu cabelo enquanto outra professora encaminha os pequeninos perto da gente para dentro da escolinha. Ah, Miguel...como eu queria te ter aqui do meu lado.



Me ofereceram um copo d'água, mas eu recusei e fui direto pro hospital. Devem ser umas sete da manhã, eles marcaram para desligar os aparelhos ao meio dia e meio, então eu quero passar o máximo de tempo com o Miguel.




Abri a porta do quarto do meu namorado e no mesmo instante eu senti um frio me invadir. O clima não está como sempre esteve, parece que hoje tudo está mais escuro, frio e triste. Largo a minha bolsa do lado da poltrona e me aproximo da cama onde fazem 4 semanas que o Miguel nem ao menos se levanta.




— Você está bem hoje, meu amor? — Eu acaricio a mão dele de maneira carinhosa, observando seu rosto angelical. — Eu... — Respiro fundo. — Eu te amo.



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