Capítulo 23 - Você não me engana

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  GABRIELA:





     Toquei o último acorde com dor no coração. Eu sabia que aquilo não traria o meu amor de volta pra mim, mas eu queria ter uma despedida digna. Eu estava perdida, fazia tão pouco tempo que o conhecia, eu comecei á fazer planos com ele. Planos esses que jamais serão concretizados. Eu lutei até o fim, teria lutado mais um pouco. Eu podia ter insistido um pouco.






   — S-será que tu pode cantar o refrão...mais uma vez? — Ouço uma voz rouca e falha soar ao meu ouvido esquerdo. Me viro bruscamente para a maca onde estava o meu amor.




   Meus olhos não sustentam as lágrimas. Os olhos do Miguel estão entreabertos e a pele dele começou á tomar cor novamente. Isso deve ser algum tipo de sonho.




  — Miguel, você tá me ouvindo? — A Érica chama por ele e ele vira sua cabeça bem lentamente ao encontro dela.




  — Sim, eu estou te ouvindo. — Ele acena.



  — Miguel, acompanha o meu dedo. — Érica continua testando-o, incrédula.



  — Eu tô bem, Érica.


  — Você sabe o nome dela? — O doutor questiona o Miguel.



  — Eu que pergunto pra ela se ela se ajeitou com o ex marido dela. Meu Deus, como eu fiquei curioso. — Ele dá um risinho e eu largo aquele violão em um canto da sala e vou correndo ao encontro do meu namorado. Meus olhos se encharcam no mesmo momento em que meus braços o seguram. O Miguel dá uma risadinha e encosta a testa na minha.




  — Tu é a mulher da minha vida, Gabriela. — Me olha nos olhos e eu dou um sorrisinho satisfeito acompanhado de um suspiro forte. — Foge comigo?




  — M-Miguel.



   — Tu não precisa responder agora. Para e pensa. — Ele acaricia a minha mão que está apoiada sobre a cama do hospital. Eu estou sem palavras. Ele estava realmente escutando esse tempo todo?


 — Muito bem, rapazinho. Depois vocês planejam a fuga de vocês, mas agora nós temos que fazer alguns exames em você. — O médico verifica os batimentos do Miguel. — Você se importa de deixá-lo por enquanto, Gabriela? 


 — Claro que não, doutor. — Eu sorrio de lado e beijo a testa do meu namorado. — Eu já volto.


 — Estarei esperando ansiosamente. — Sorri sem vergonha e eu balanço a cabeça, me afastando.

 — Então, Miguel, tô vendo que você acordou melhor do que estava antes de tudo. Você se lembra do acidente?


 — Sim, como se fosse ontem. — Os ouço iniciar uma conversa e eu decido finalmente sair. 



  Quando saio por aquela porta e caminho pelo corredor em direção aos elevadores, meu coração se aquece. Jamais imaginaria que sairia de lá alegre como estou agora, mesmo que saiba que ele ouviu a rejeição que toda a família deve ofereceu-lhe ao invés de estender a mão. 



  Cheguei na sala de espera da recepção e a Ana e o João estão ali, ele com um notebook no colo e ela com seu celular na cara. 

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