GABI
- Nós estamos...sem gasolina?
- Sim. - Ele tira o cinto de segurança e passa a mão nos cabelos soltos meio molhados pelo mar. - O próximo posto é a trinta quilômetros daqui. - E eu engasgo. Como que a gente vai sair daqui?
Vejo Miguel sair do carro e encostar as nádegas no capô do carro. Eu desço logo depois e caminho até ele. Ele pega seu celular e disca ao seguro. Sorte que essa belezura tem um seguro. Quando Miguel desligou o telefonema e jogou o celular no banco do passageiro, ele olhou em meus olhos e começou á rir.
- O que foi? - Pergunto, observando seus dentes meio amarelados. Esse é um fã de café.
- A sua cara de preocupada. - Ele balança a cabeça, sorrindo. - Relaxa, é só um carro. E ele tem seguro. - E eu semicerro os olhos, mantendo o olhar preso no daquele moço tão baixinho quanto eu. O sorriso dele é encantador, eu diria.
Nós ficamos alguns curtos segundos em silêncio, um olhando para a cara do outro. Que momento constrangedor. Eu não ouso cortar o silêncio, visto que não tenho nada á dizer.
- Bom, já que estamos presos á esse carro enquanto o guincho não chega... o que você acha de voltarmos para o mar? - Miguel olha profundamente nos meus olhos. Oh, ok.
- Certo, mas você está proibido de tentar me afogar de novo. - Digo e ele faz uma cara de confusão engraçada e dá de ombros.
- Eu até te ajudei, Gabi. - Ri, me disposicionando o braço como se fosse um príncipe encantado. Eu entrelaço o braço no dele e caminhamos até o mar. Ele me chamou de Gabi?
Nós ficamos ali bem na beira do mar, sentados na areia molhada que grudava em nossa pele, observando o pôr do sol. Sério, isso está clichê demais.
- Meu Deus, tem um caranguejo no seu cabelo. - Ele parecia assustado. Eu dou um pulo e bato a mão nos cabelos, na tentativa de tirar o animal. Eu me levantei e abaixei a cabeça mais para o fundo do mar, banhando meus fios e batendo-os. De repente, eu sinto uma beliscada no peito do meu pé e eu grito fino, caindo de vez na água. Ouço a voz grossa de Miguel soar em uma gargalhada gostosa e vejo sua mão puxar a minha, me tirando da água.
- Idiota. - Cruzo os braços e faço bico, encarando ele.
- Sabia que tu fica muito fofa quando faz esse biquinho. - Tenta imitar o meu bico e eu aperto seu nariz, correndo para a areia, sendo seguida por ele.
Caímos na areia feito dois pedaços de carne na farofa e gargalhamos alto, ouvindo o barulho do caminhão chegar. Era o guincho.
Finalmente, nós conseguimos tirar aquele carro do chão. Eu pensei que fôssemos junto na cabine do guincho, mas Miguel interviu.
- Nós vamos no mercado, fica tranquilo, irmão. - Seu sotaque carioca soa aos meus ouvidos como um recital de música. Oh, eu estou caidinha por esse cara. Mas calma, eu o conheço não fazem nem vinte e quatro horas.
Depois que o cara do guincho levou o Opala, Miguel olhou para mim e sorriu.
- Vamos? - Apresenta o caminho com as mãos, com um sorriso acolhedor.
- Para onde?
- Ham...para casa? - Indaga, confuso com a minha pergunta. Espera, não era mais fácil ter ido na cabine?
- Mas tivemos a oportunidade de ir no caminhão agora pouco. - Aponto para o caminho que o caminhão fez ao partir.
- Qual é? Vai dizer que não viu como aquele cara te olhava? Esse cara é muito arroz. - E eu arregalo os olhos, pasma com o tom de voz em que ele disse isso. - Quer dizer, eu não estava afim de ouvir as babozeiras dele para tu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Waves
Ficção AdolescenteGabriela é uma jovem Paulistana que é convidada por uma colega de turma á acompanhá-la em uma viajem ao Rio de Janeiro. Gabi não contava com uma onda gigante que bagunçaria completamente sua vida.