Capítulo 11. - Um feliz Natal para mim

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  GABI:

  Eu acordei com dor de cabeça por volta das oito da noite, numa cama de hospital com a minha mãe ao lado.

— Mãe? — Passo a mão no meu nariz, que por receber dois socos um quase no mesmo momento que o outro, está enfaixado.

— Ah, que bom que você acordou. — Ela caminha até mim, me dando um beijo na testa. — Vai ficar tudo bem.

— Cadê a Giovana? — Pergunto, olhando ao redor e tendo minha não apertada por minha mãe.

— Ela não mora mais com a gente. — E eu arregalo os olhos. Uau, quanto tempo eu dormi? — Hoje ela vai dormir na casa da amiga dela e amanhã ela busca as coisas dela.

— Você expulsou ela?

— Não, ela decidiu por livre e espontânea vontade sair de casa. Já não posso fazer nada. — Minha mãe parecia afetada com a mudança da minha irmã, mas somente suspira. — Bom, vocês duas não estavam se dando muito bem mesmo...

— Não é por isso que a senhora tem que deixar sua filha sair de casa, mãe. — Digo, olhando em seus olhos.

— Gabriela, já passou. Ela já foi. Agora faça-me o favor de descansar. — E se retira do meu quarto, rapidamente.

 
Fazem três dias que a Giovanna saiu de casa e essa noite é noite de Natal. É lógico que os ares dentro de casa são outros, visto que a fonte das brigas não está mais conosco. Hoje iremos para a casa da minha prima, passar o Natal. Pedi para minha mãe para que eu pudesse ficar em casa, mas como previsto, não me deixou.

— GABRIELA, VAMOS LOGO! — Berrou meu pai, lá da cozinha. — É quase dez da noite, minha filha.

  Eu saio á força do meu quarto, me arrastando com a minha calça de moletom larga juntamente com uma blusa velha do meu pai com meu crocs, com o cabelo amarrado num coque bagunçado e cara limpa.

— Estou pronta, vamos.

  Minha família me olha de cima á baixo. Todos estão bem arrumados e cheirosos, ao contrário de mim.

— Que porra é essa, Gabriela? — Gustavo indaga, olhando minha roupa e minha mãe dá um tapa leve na boca dele. — Foi mal. — Passa a mão onde a mãe bateu.

— Eu vou assim. Eu já falei que não quero ir. — Puxo a touca da blusa de frio larga e desbotada e coloco as mãos nos bolsos, me sentando na cadeira sobre a mesa.

  De repente o celular do meu pai toca e ele atende. Depois de uns minutos, ele desligou e nos olhou.

— O carro da tia de vocês quebrou bem hoje e ela, o marido dela e o Arthurzinho já estão arrumados. — Diz, me olhando.

— Eles que vão de ônibus. O carro já está cheio. — Minha mãe diz, arrumando a barra do seu vestido longo.

— Mãe, o Arthurzinho tem dois meses, é perigoso ir de ônibus. — E a minha mãe revira os olhos.

— Não interessa. Você vai sim.

— Poxa, Heloísa. A menina não quer ir. Se for pra ir, ficar de cara amarrada e estragar o Natal é melhor ficar em casa. — Meu pai indaga, olhando para minha mãe. E ele é assim, ás vezes é infantil demais, mas sempre nos defende da minha mãe.

— Não. Ela vai. Eu falei para minha mãe que ela iria e ela vai nem que eu arraste ela pelos cabelos. — Ela semicerra os olhos pra mim. — Você jurou que ia, sua vaquinha mirim. — Diz, na brincadeira.

— Mãe, eu não estou bem. — Digo, fazendo bico. — Qual é, eu quase perdi meu nariz á três dias atrás!

— Isso não tem relação, Gabriela.

— Claro que tem. Me deixa ficar em casa pelo amor de Deus. — Junto minhas mãos e imploro, recebendo um "não" com a boca bem cheia.

  Bem, vocês acharam que eu escapei? Errado. Eu tive que ir até a casa da minha avó e eu fui daquele jeito mesmo, enquanto minha mãe estava toda cheirosa, maquiada e com um penteado impecável.

— Gabi, meu amor? Como você cresceu! — Minha tia Virgínia me puxa para um abraço e eu suspiro, me segurando para não revirar os olhos. Calma, não é isso o que vocês estão pensando!

  Assim que a minha mãe começou á namorar com o meu pai á vinte e um anos atrás, minha tia estava solteira e a inveja queimou em seu coração. Ela tentou seduzir o meu pai, em vão. Depois disso, minha mãe se afastou, mas reaproximou quando a Giovana nasceu. Nisso, quando minha irmã tinha seis meses, a Virgínia jogou a mesma por uma escada de vinte degraus, fazendo ela ficar internada. Minha mãe se afastou de novo, mas quando o Gustavo nasceu, eu me lembro como se fosse ontem: minha mãe estava á amamentar meu irmão na sala e meu pai estava no quarto. Essa foi a pior coisa que me aconteceu. Imagine uma garota de sete anos, entra no quarto procurando pelo pai, mas acaba o vendo bêbado no ato com a sua própria tia. Nessa, meus pais se separaram depois que eu saí correndo dizendo "Titia Virgínia tá pulando no papai". Eles só voltaram á quatro anos atrás, e depois disso tudo, minha mãe perdoou a minha tia. Isso mesmo, depois de quase matar a filha dela de propósito e quicar no marido dela após ela acabar de ganhar bebê.  Bom, quem sou eu para julgar? 

  Saí de perto da família com celular e fones em mãos e me tranquei no pequeno banheiro debaixo da escada. Há mais dois banheiros na casa, minha família que se foda. Ao pegar meu celular, pude ver vagamente uma notificação do Miguel no WhatsApp. 

"Pior Natal da minha vida ;)"

 Visualizo a mensagem e abro a mesma no aplicativo, vendo o meu namorado online. Bom, pelo menos não sou apenas eu. Sem pensar duas vezes, eu ligo para Miguel, que atende na hora.

— Momentos difíceis? — Pergunta num tom brincalhão e minhas bochechas queimam.

— É, considerando que eu estou na casa da minha tia que tentou matar a minha irmã e transou com o meu pai na cara da minha mãe, tá uma merda. — E eu ouço um suspiro da parte do meu namorado.

— Um instante. — Emenda e o ouço gritar. — PARA DE GRITAR, LETÍCIA, MEU. — E eu o ouço trancar a porta. — Meu, não aguento mais a Letícia brigando com a Pietra. 

— Oh, então esse é o motivo de seu Natal estar sendo tão ruim assim? 

— Acertou em cheio. Desde as quatro da tarde essas duas estão quase se pegando pelos cabelos. — E eu ouço um barulho de janelas se fechando. — Queria estar aí contigo. 

— Eu não queria ter te deixado, chuchu. — E ele suspira. — O que foi? 

— Tu tem obrigações aí encima e eu tenho aqui embaixo, então vamos ter que nos acostumar á viver longe um do outro. 

— É... Mas amor, me conta, você surfou hoje? Encontrou os meninos na praia? — Eu pergunto, arrumando meu capuz e me sentando ao lado da privada fechada, encostando a cabeça na parede e me encolhendo.

 Ficamos na companhia um do outro através daquela chamada de áudio que tampouco satisfazia a vontade dos nossos corpos de se abraçarem, se tocarem. Ao chegar da meia noite, ouvi fogos de artifícios, mas não mais ouvia a voz de Miguel pois o mesmo dormira durante a chamada. Tudo o que eu ouvia era sua respiração tensa e árdua do outro lado da linha. Um péssimo Natal para mim.

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