Capítulo 16 - Como é grande o meu amor por você.

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  MIGUEL:

  Era nove horas quando eu tomei a minha decisão. Eu estou á três semanas sem falar com a minha gata e isso está me tirando o sono.

  Ela estava certa. Se eu quiser fazer durar, eu tenho que me abrir com ela. Eu pego o meu celular e vejo a hora. Se eu pudesse, iria do Rio até São Paulo pra me explicar pra ela, mas amanhã eu tenho um campeonato importante pra minha reputação. Preparado para me declarar, eu ligo para o número dela. Só chamou e ninguém atendeu.

— Droga. — Bato na bancada do bar onde eu estava. — Me vê mais uma dose, irmão. — E o carinha me serve mais uma dose de Whisky.

  Eu me arrependo tanto de ter tratado ela como mais uma garota normal que passou pela minha vida. Na nossa última ligação, eu fui ignorante com ela e agora eu estou arrependido. Fico imaginando o que ela está fazendo nesse sábado a noite pra não me atender...

  Soltei um suspiro forte, sentindo um tapinha nas minhas costas e vendo uma silhueta feminina se sentar ao meu lado. Me viro e vejo a Milena.

— Oi. — Sorri.

— Ah, oi. — Digo, virando o copinho na goela.

— O que foi? Tu não bebe, Miguel. — Chama o Bartender com a mão e pede um coquetel.

— Não é da tua conta, Milena. — Digo, apoiando os cotovelos no balcão e depois a testa na mão.

— Não é porque sou sua ex namorada que não me importo contigo, Miguel.

— Tu me traiu, sua vagabunda. Vem de caô pra cima de mim não, irmão. — Indago, fazendo ela bufar.

— Eu já pedi desculpas, Miguel.

— É, só que desculpas, Milena. — Me viro pra ela. — Não vão apagar o que aconteceu. Tu deu pra outro na minha casa, na minha cama. — E ela desvia o olhar. — Tu achou que eu iria apagar isso da mente? Puta merda, hein, Milena.

— Eu não achei que tu ia apagar, Miguel. Pensei que ia me perdoar e não esfregar na minha cara os meus erros. — E eu a encaro. — O que aconteceu?

— A minha namorada. Eu pisei na bola com ela e ela não me atende... — E ela me olha nos olhos.

— Miguel, a garota tem dezessete anos... você tem vinte e três.

— Ela vai fazer dezoito mês que vêm. — Respondo, vendo a Milena tomar um gole da sua bebida.

— Pelo que eu vi dela, ela ainda é uma garota. Muitas meninas amadurecem rápido, mas ela...

— Quem tu é pra falar de maturidade?

— Olha, Miguel, dá pra parar de falar de mim, por favor e começar á falar dela? — E eu passo a mão entre os meus cabelos. — Tu tem que deixar ela viver a adolescência dela em paz, Miguel. Tu sabe o que é ter uma adolescência ruim por causa de garotas.

— Eu sei... — Abaixo a cabeça, pensativo.

— Me desculpa, mas essa é a verdade.

— É... — Eu me levanto, tirando um dinheiro do bolso e colocando no balcão. — Valeu. — Pego a chave do Opala e o celular no balcão, caminhando até o meu carro.

— AONDE TU TA INDO? — Grita lá de dentro do bar.

— PRA CASA. — Grito de volta, fechando a porta do carro e ligando o mesmo, saindo dali.

  Eu fui pra casa ouvindo meu Reggae tranquilão. Chegando em casa, eu caminho até a cozinha e abro a última gaveta do armário, pegando a maconha e indo bolar um beck pra me acalmar. Me sentei sobre uma das cadeiras e larguei o celular na mesa e acendi o baseado, começando á tragar.

  Sozinho no silêncio da noite e rodeado pela fumaça da maconha, eu viajo. Uma vez que já na brisa, eu apago o beck e coloco numa sacolinha, deixando encima da mesa. Eu jogo a cabeça pra trás, ainda sentado na cadeira enquanto olho para o teto. Caralho, essa brisa foi forte.

  Como eu geralmente faço quando estou na brisa, eu fui pegar o meu ukulele e fui lá pra fora. Arrastei o banco do meu carro mais pra frente e me sentei no banco de trás, escorregando e apoiando as minhas duas pernas nos ombros do banco da frente. Começo á tocar o início de "Is this love", do Bob Marley. Assim que eu comecei á cantar, vi a filha da minha vizinha abrir a janela do quarto dela e na maior cara de pau, ficar me observando. Dou uma risadinha e continuo cantando, viajando na música.

  Assim que terminei, ela ainda estava ali na janela me olhando com uma carinha de curiosa. Eu sorrio, passando a mão no cabelo e ela pisca pra mim, com um sorrisinho maroto. Meu Deus, ela tá se oferecendo?

  Ela dubla uma frase que eu não consegui reconhecer o que ela queria dizer, mas depois ela fez um "vem cá" com as mãos. Eu olho pra ela e depois para o meu ukulele. A Gabriela pediu um tempo, mas isso não quer dizer que eu tenho obrigatoriamente que transar com qualquer uma que vejo na frente.

  Olhei para a garota e neguei com o dedo, dando de ombros e dublo um "Eu tenho namorada". Ela revira os olhos e sai da janela, fechando tudo. Uau, achei que ela tava me escutando pelo meu talento. Eu pego o meu ukulele novamente e dessa vez, canto "How deep is your love" de Bee Gees. Eu adoro a vibe dessa música.

Dali em diante eu comecei á tocar só as mais antigas como "Put your head on my shoulder" entre outras. Sem que eu percebesse, alguns vizinhos apareceram na janela e ficaram me ouvindo, olhando fixamente para mim enquanto eu cantava. Quando eu parei, olhei ao redor e todas as janelas estavam ocupadas com diferentes tipos de pessoas me observando. Aquilo me cativava, mesmo sabendo que eu não canto tão bem assim.

  Sem que eu esperasse, eles começam á aplaudir e gritar. Eu rio, abaixando a minha cabeça, envergonhado.

— CANTA MUITO, MOLEQUE. — O meu amigo da casa da frente grita, aplaudindo. Eu olho pra ele e sorrio, balançando a cabeça.

  Eu agradeci eles e mandei um coração.

— Canta mais, Miguel. — A mãe do meu amigo pede, me olhando. — Canta "Como é grande o meu amor por você,".

  Eu sorrio, balançando a cabeça. Eu não sabia se estava preparado pra cantar aquela música, principalmente pela letra dela, mas eles começaram á gritar repetidamente "canta" que eu acabei cantando. Aquela letra realmente me tocou, como eu já tinha previsto. Segurei o choro e finalizei a música, rindo e passando a mão no olho enquanto eles aplaudiam.

— Gente, eu não tenho palavras pra agradecer vocês. — Digo em um tom mais alto, sorrindo. — Vocês são zica.

— CANTA MAIS UMA. — Um dos meus vizinhos pede e eu nego, dando de ombros e me levantando.

— Nem dá. — Vou atrás da capota do carro e prendo-a no mesmo, fechando tudo e me despedindo da galera.

Eu entrei em casa e fui direto tomar banho. Já são quase uma da manhã e eu estou fedendo á pinga. Depois do banho, eu me deitei na cama e fiquei pensando nela até a hora em que eu peguei no sono. Meu Deus, eu não consigo esquecer essa mulher.

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