GABRIELA:Faz uma semana que eu estou aqui do lado do Miguel. A Ana me trouxe algumas roupas e objetos pessoais para que eu pudesse tomar banho aqui. As minhas olheiras tomam conta de 80% do meu rosto e a oleosidade do meu rosto aumentou as minhas espinhas. Resumindo: eu estou só o pó.
As enfermeiras aqui do hospital até já me conhecem. Elas falam que eu sou muito esforçada e que eu devo amar demais o Miguel por todo esse esforço que eu faço pra ficar com ele.
— Ah, Miguel. Nem te conto quem me mandou mensagem. — Passo a mão pelo meu celular que a minha mãe me devolveu somente por causa da viagem. — Lembra que eu te falei dos vacilos da Sílvia? Ela tentou puxar assunto comigo, mas eu só ignoro. Você acha que eu faço certo? — Olho para o meu namorado, ainda imóvel.
— Conversando com o Miguel de novo, Gabriela? — A enfermeira entra com o meu almoço, cuidadosa.
— Sim. — Dou um risinho. — Ele é o meu melhor ouvinte no momento.
— Ah, e eu não sei? — Ri, deixando a bandeja encima do balcão. — Sério, eu acho o amor de vocês uma coisa linda. — Nos olha.
— Por que?
— Mesmo com os obstáculos vocês continuam juntos. Vocês são tão jovens mas estão me dando uma surra sobre o que é amar. — Sorri enquanto nos observa e eu abaixo o olhar com um curto sorriso nos lábios. — Enfim, eu tenho que ir. Continuem com os assuntos, vocês. — Se retira e eu olho o Miguel.
Eu solto um forte suspiro. Eu queria tanto que ele estivesse aqui para me abraçar e garantir que tudo ficará bem. Mas tudo o que eu tenho são olheiras, dor de cabeça e ansiedade.— Quem eu estou enganando, Miguel? — Eu observo seu corpo paralisado. — Eu te amo mais do que eu pensava que amava. Eu...traí você.
O barulho do vento batendo nas folhas das árvores do lado de fora soa. Eu sei que ele não está me ouvindo e terei que falar tudo novamente depois mas eu não me importo. Eu me arrependo amargamente de ter me aproximado da Luísa. Droga, por que ela tinha que ser tão sexy?
Meu telefone vibra na mesinha ao meu lado e eu atendo a ligação. É a Letícia.
— O que você quer?
— Eu preciso que tu desça pra eu poder subir. Eles só estão aceitando uma visita por vez. — Sua voz de sono revela que não faz muito tempo que a mesma está acordada.
— É mesmo? Por que você decidiu se importar?
— Porque ele é o meu irmão. — Suspira. — Olha só, Gabriela. Só desce daí de uma vez.
— Posso confiar em você, Letícia? Jura?
— O que? Gabriela, tu sabe o que tu tá falando? — Ela parecia surpresa. — Tu quer um calmante? Um suco de maracujá?
— Cala sua boca, Letícia. Você chamou o Miguel de semi-morto e depois disse que ele não ia sobreviver como se isso fosse verdade. — Silêncio do outro lado. — Eu não vou descer pra você entrar.
— Eu me arrependi, tá legal? Eu estava estressada.
— Acontece, Letícia... — Eu respiro fundo. — Que você não pode sair falando bosta quando está estressada. As coisas que você fala afetam as pessoas e atraem coisas ruins.
— Porra, vai me dar uma lição de moral ou vai me deixar ficar com o meu irmão hoje? — Por um momento eu penso se eu poderia ou não confiar. Já faz uma semana que eu não passo uma hora sequer longe do Miguel. Eu quero garantir a proteção dele. Acima de tudo, a Letícia é irmã dele e eu não posso interferir na relação deles.
— Ok. Estou descendo. — Desligo o celular e me levanto olhando o Miguel.
Eu sinto saudades. Saudade de olhar em seus olhos castanhos e dizer o quão amado ele é. Saudade de vê-lo sorrir
— Vai ficar tudo bem, meu amor. — Acaricio seu cabelo e beijo sua testa.
Dei as costas e saí do quarto. Peguei o elevador e desci até a recepção, onde a Letícia está esperando antes da catraca. Caminhei até ela e o segurança ao seu lado e passei na catraca.
— A senhorita pode subir. — O segurança passa o cartão dele na catraca e libera para a Letícia.
Por alguns segundos a Letícia me encara e depois bufa e passa na catraca, correndo em direção ao elevador e apertando o botão do andar. Eu reviro os olhos e caminho até o lado de fora do hospital. Fazem cerca de quatro dias que eu não vejo a luz do dia e por isso o sol ofuscou suavemente a minha visão quando eu saí. Céus...
Olhei os lados e como de costume quando se está no Rio de Janeiro, várias pessoas de roupa de banho passam de um lado para o outro com seus parentes e amigos e com sorrisos estampados no rosto. Do outro lado da rua vejo um casal de mãos dadas: ele com uma prancha no braço e ela com uma bolsinha de praia no dela. Ah, como eu queria...
Comecei á caminhar em direção a casa da Ana e do João. Eu preciso urgentemente de um banho demorado e um descanso.
Caminhei debaixo do sol escaldante do verão do Rio e em algumas dezenas de minutos eu havia chegado. Dois dos trigêmeos logo correram até mim para me cumprimentar.
— Gabi!! — Um deles corre até mim e me abraça.
— Matheus, vocês não foram pra escola? — Ele abraça minha perna e me olha, balançando a cabeça. — Por que?
— Porque, ô titia. A mamãe disse que o Miguel tá dodoi e não tem como ela buscar a gente na colinha. — A voizinha meio fanha do Murilo explica, logo atrás do Matheus. — Cadê o Micael?
— Ele tá no banheiro, titia. — Matheus explica, ainda agarrado na minha perna.
— Sozinho!?
— Sim, titia. O papai e a mamãe saíram. — Murilo explica e eu saio correndo pra dentro.
— MICAEL? MICAEL, CADÊ VOCÊ? — Berro correndo em direção ao primeiro banheiro da casa mas ele não estava ali. — MICAEL!
Eu revirei a casa toda enquanto os outros dois me seguiam. Eu procurei o Micael na casa toda mas eu não achei ele. Meu pai amado, cadê esse menino?!— MICAEL! — Eu me esgoelo e depois me viro pro Murilo. — Cadê o Murilo, Matheus?
— Eu não sou o Matheus.
— Quem é você, pelo amor de Deus?
— Micael. — Eu pego na mão dele.
— Vem aqui, menino. — Puxo ele e começo á procurar os outros. No meio do caminho, eu achei outro gêmeo. — Quem é você? Matheus?
— Não, tia. Eu sou o Murilo. — Eu bufo e agarro na mãozinha dele também, indo procurar o outro.
— MATHEUS! — Berro e corro com os dois pela casa.
— Oi! — Ouço uma voizinha ao meu lado e eu olho os três finalmente reunidos. Meu Deus.
— Chega, nós vamos assistir desenho na sala, nós quatro. — Arrasto eles para a sala.
— Podemos assistir Thomas e seus amigos? — Matheus pergunta, nos seguindo.
— Mas eu quero Patati e Patatá. — Exclama Micael.
— Desenhos de bebê? Eu quero assistir Força G.
— Nós vamos assistir tudo. — Eu suspiro e caminho com eles. Vai ser uma longa tarde.
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Waves
Novela JuvenilGabriela é uma jovem Paulistana que é convidada por uma colega de turma á acompanhá-la em uma viajem ao Rio de Janeiro. Gabi não contava com uma onda gigante que bagunçaria completamente sua vida.