A descoberta consiste em ver o que todos viram e em pensar no que ninguém pensou. A descoberta nem sempre é fácil. É preciso estar atento, ser observador e conservador, ter um pensamento puro e lépido, pelo qual se baseia em teorias que podem levar a uma tal descoberta. É um processo duro e por vezes demorado, mas uma descoberta sempre será algo para desanuviar. Algo para desvendar. Afinal, a descoberta é algo ao nosso alcance. Algo que sempre podemos procurar para discernir. Algo que tomará o nosso tempo, a nossa razão e emoção. Algo que, por mais demorado que seja, será uma vitória para nós um dia. Mas, a descoberta humana é diferente. Digo, a descoberta interior. Descobrir emoções que podemos sentir em relação a momentos e indivíduos. Sensações encantadoras que podemos ter em relação ao toque e palavras ditas e outras não ditas. Reações que podemos ter ao ver determinada perspectiva. Descobrir o que o nosso interior estima é difícil. Eu que o diga. Ao menos não é isso que está em causa neste exato momento. Afinal, descobri algo que ninguém viu e que ninguém pensou alguma vez antes. Algo que posso dizer que é o desconhecido.
Percorri por entre um caminho de terra batida, nas suas laterais e por vezes no meio, avistava várias árvores com variadas formas e tamanhos, seus ramos tinham folhas verdes bastante secas prestes a cair. A cada passo que dava, conseguia sentir a neblina aumentar e se tornar mais densa, o frio também era evidente. Por uma razão misteriosa, o céu que antes estava a escurecer, está a ficar níveo, sem nuvens, sem sol ou lua, apenas existia uma tela em um tom índigo por cima das nossas cabeças. O silêncio era aprazível mas de certo modo perturbador, as respirações dos meus parceiros era a única coisa que assolava a mudez da natureza ao nosso torno. Até que tudo parou.
Foi aberto um caminho, pelo qual o seu final tinha uma curvatura com algo escrito. Dou alguns passos mais à frente apressado e observo melhor. Era um arco feito de madeira acastanhada e velha, esculpido no centro tinha escrito "Santo Berço". Olho ao redor e vejo uma cidade que ao início parecia vazia, era tudo tão vivo, tão sereno. A vegetação estava verde e imatura, em comparação com as folhas da floresta que estavam bastante secas. Animais que nunca vi antes, pairavam no ar, alguns pousados em ramos, outros andavam pelo solo pelo qual pisamos, as suas anatomias eram algo surreal, surpreendente. Casas feitas arquitetonicamente de formas variadas, algumas baixas, outras mais altas de cores divergentes e vivas, seus telhados de madeira maciça ou de palha maçada eram minimalistas, eram diferentes ao que estou habituado. Era realmente o completo desconhecido para mim. Era algo sombrio de se ver.
Analiso as expressões dos outros, estavam igualmente perplexos. A primeira a reagir foi a Liz, eu nem imagino o que vai em sua mente. Tanto tempo a criar teorias, a analisar documentos para no final não encontrar o que tanto analisou. Ela parecia destruída e cansada desde a rejeição de Thiago após sua confissão dos seus sentimentos confusos perante a amizade que eles tinham. Liz sentia algo a mais, mas ela se escondia bem, esconde seus sentimentos e decepções no seu subconsciente e os deixa lá invariavelmente, bem no fundo do coração dela, a mente é o único ponto de fuga em seu corpo. Eu conheço bastante esse mecanismo de defesa interior. Lembro-me que ela não dormiu ainda nem um dia como deve de ser, sempre se preocupando e tentando resolver tudo para nós. Ela estava cansada, assolada, decepcionada eu diria. Ela pisca os olhos múltiplas vezes antes de conseguir falar.
-Espera o quê? - vejo que ficou indignada ao olhar para aquela placa, parecia pensar - Projeto SB. SB significa Santo Berço! Algo que faça sentido ao menos!
Eu ainda fico sem reação, eu aponto para a placa com uma face de espanto
-Estão a ver o mesmo que eu? - questiono ainda achando estranho, parecia um sonho lúcido
-Sem dúvida que sim - comenta o Arthur que recua alguns passos até ao Thiago que tira a arma de seu bolso. Com esse movimento e talvez por causa da curiosidade, Liz avança lentamente até ao grande arco confiante. Mas algo envolve a minha visão por inteiro, um homem, que nunca havia visto antes, nem em vida e nem em sonhos, saltou de uma grande torre espiral que permanecia ao lado do arco da cidade. Quando finalmente coloca os seus pés no solo, consegui observar melhor as suas particularidades. Sua pele era cinza e seus cabelos curtos negros. Em sua face alegre, era possível ver algumas listras negras, bastante majestosas por sinal, duas delas desenhadas em formato espiral por debaixo de seus olhos acastanhados e uma outra lisa, que ia desde o seu lábio ínfero até ao seu maxilar inferior. Ele tinha uma aparência magra, seu corpo coberto por roupas da época mediévica azuladas e acastanhadas com detalhes a rúbio. De canto de olho vejo o Thiago a apontar a arma ao sujeito à nossa frente.
-Eu venho em paz! - o homem misterioso exclama assustado. Reparo que sua voz era grave, mas falhava, provavelmente por causa do medo que sentia. A Liz faz um sinal para o Thiago baixar sua arma e ele obedece contrariado.
-Obrigado - o homem fala mais calmo, aclarando a voz - Bem vindos a Santo Berço! - exclama alegremente para nós, mas as nossas faces permaneciam incrédulas e perplexas no que estava diante dos nossos olhos.
-Santo Berço? - a Liz é a única a proferir, era a nossa porta-voz, pelos vistos
-Sim! Santo Berço! É uma cidade deslumbrante - ele deixa escapar um sorriso - Quem foi o responsável pela vossa vinda? O coletor, eu calculo. O coletor não explicou o que era a nossa cidade? - cruza os braços sobre o peito, parecia indignado agora
-Quem é o Coletor? - desta vez foi Thiago a reagir, o seu tom era brusco, seco, era visível que ele não estava a gostar nada do que estava a acontecer
-Vocês não vieram com o Coletor? - o indivíduo estava confuso
-Não - quando ouço a resposta, olho diretamente para quem a articulou. Joui. Foi a primeira coisa que falou desde que percorremos a grande floresta. Seu olhar parecia sinuoso, duvidoso, vazio. Não tinha visto aquele olhar antes. Talvez um símile ao da noite anterior, após ter um pesadelo com seus amigos finados. Parecia que ele não se importava com aquele homem, que não se importava com aquela descoberta insana. Sua face havia perdido a cor rosada que sempre permanecia em suas bochechas, sua pose estava mais reta, impunha acatamento. Eu via um reflexo provável do Thiago e da Liz nele neste exato momento. Estava usando a mente em vez da emoção. O que era raro nele. Isso colocava em mim um sentimento horrível. Um sentimento de insegurança. Não queria o colocar em perigo, ele precisava de guarida e não de um cenário como este. Eu daria a minha sanidade a ele se eu o pudesse fazer, mas a realidade é que, eu não posso.
-O meu colega perguntou quem é o Coletor. Responda! - acordo do coma de pensamentos com a voz elevada de Liz, que se aproxima quase ao ponto de ficar cara a cara com o homem. Ele arregala os olhos ao ver a mulher de cabelos escuros de aproximar dele, abana as suas mãos nervosamente à frente da sua face cinza
-É um luzidio que é responsável de conduzir indivíduos para Santo Berço, para aqui viverem - ele fala tão rápido que eu não consigo captar nem metade das palavras
-Luzidio? - Thiago questiona
-Não viemos com ninguém - o Joui volta a falar no mesmo tom que antes
-Joui! - Thiago fala molestado ao se ver interrompido - Pergunto novamente e quero uma resposta mais completa. O que é um Luzidio?
-Os habitantes de Santo Berço são nomeados de Luzidios, já vocês - ele aponta para nós - São ignaros
A Liz ri baixo e avança mais alguns passos e sorri sarcástica
-Obrigada por nos darem o nome de "Ignorantes" - ouço alguns risos atrás de mim, era Arthur que estava mais confuso
-Bom, nós não conhecemos ninguém com pele cinza, chegamos aqui por uma espécie de mapa - Thiago diz e eu já vejo a face chateada de Liz, eu compartilho com ela a mesma expressão
-Um mapa? - o homem parecia interessado. Eu não poderia deixar o Thiago falar mais sobre aquilo que temos feito ou descoberto, isso iria estragar tudo o que a Liz tem feito! Sim, porque nós não temos feito muito para além de vitimar criaturas paranormais ou estragar a sua linha de raciocínio. Tenho que a ajudar desta vez, só mais esta vez, por aquilo que ela fez por mim, por Joui e por todos aqueles que estavam em risco de perecimento
-Não, o meu amigo não sabe o que diz, apenas estávamos na floresta e chegámos aqui, pois vimos um ponto de luz e estava a ficar tarde - eu minto para a nossa segurança - Certo? - pergunto por fim a Thiago que me olhava sem entender, mas ele apenas encarou o mesmo homem com ar inquisidor. No outro lado, Joui parecia mudar sua feição, foi uma mudança drástica, parecia ter voltado a ser o Joui que eu conheço e amo
-E qual é o seu nome senhor? - ele pergunta ao homem que olhava o Thiago com medo
-Eu sou o Porteiro - ele aponta para o arco - Tal como a situação indica - ele sorri de canto
-Seu nome é Porteiro? - Joui questiona novamente e Liz ri um pouco. Já Thiago olha para mim, eu devolvo o olhar para ele. Eu estava curioso. Eu queria saber e desvendar esta descoberta do desconhecido
-Sim, claro. Porque eu mentiria sobre o meu nome? - ele diz indignado a observar Joui. Ficou um silêncio estranho no ar, então Liz olhou para o Porteiro e esticou-lhe a mão, sua face permanecia inexpressiva e fria
-Sou a Elizabeth, poderá nos explicar um pouco mais sobre Santo Berço? - ela diz a apertar a mão comprida e acinzentada do homem, que primeiro hesita, mas acaba por aderir à ideia de Liz
-Sim, sim. Poderiam vir comigo? Precisarei de dar as boas novas ao Ferreiro! A vossa vinda realmente é estranha, mas nos alegra - ele sorri e solta a mão de Liz com tineta e sorri para ela de leve. Parece que ela ganhou a confiança dele, isso é bom
-Quem é o Ferreiro? - ouço uma outra voz atrás de mim, Arthur, que estava mais afastado da cidade, parecia olhar para o rosto e roupas do Porteiro, fala meio baixo, mas penso que todos ouviram pois começaram aos poucos virando suas faces e olhando para ele
-Vocês iram ver - com um suspiro, Porteiro faz um sinal com a mão - Vamos?
Eu permaneço no meu lugar, vejo que Thiago faz o mesmo e que lança o seu olhar para Liz, como confirmação de ser algo seguro, ou se é realmente esta cidade que estávamos à procura durante a missão, mas não tem o que quer, ela apenas encara a placa tirando alguns apontamentos mentais, ela estava mais séria do que costume. Não a culpo. Afinal, estamos à frente de algo que nunca pensamos ver diante dos nossos olhares nobres e ofuscantes.
Todos nós damos uma troca de enfoques duvidosos.
-Vamos? - questiona Joui
-Não tenho a certeza Joui - comenta Liz
-Não me levem a mal, mas estamos aqui para vos receber - o homem já começa a suspirar e direciona o olhar para a Liz - Penso que o Tecelão irá prezar fazer roupas para você - ele ri um pouco vendo que a Liz olha para o Thiago com um olhar descrente, já Thiago, olha para o Porteiro como se quisesse a morte dele por ter exclamado algo sobre Elizabeth
-Não sei se confio Liz - ele diz completamente protetor e possessivo
-Ficar na porta não vai te trazer respostas - Joui diz quase em tom de súplica
-Ele tem razão de certa forma - Liz começa a caminhar, Joui e Arthur a seguem - Precisamos confiar agora - ela esticou uma mão entre nós dois. Thiago olha para a mão dela com um certo desejo de a agarrar, mas logo desvia o olhar para a face de Liz que sorria - Venham, vai ser melhor não é?
O Thiago a olha e depois para a mão dela novamente, ele coloca a língua na bochecha e rola os olhos passando pela Liz rapidamente e vai até aos outros. Uma atitude que pensei que não iria acontecer. Lanço o meu olhar para Liz após essa ação do Thiago, ela fica olhando para a frente meio vazia, baixando a mão lentamente. O seu olhar já não transmitia nenhuma emoção e seu rosto agora já não sorria, ela parecia pensativa.
E eu sei o que ela pensa.
Vou até ela mas o Porteiro fala primeiro
-Parece que a senhorita é quem manda aqui - ele ri - Sejam bem-vindos - vejo que a Liz ri meio sem emoção e apenas caminha com eles. Eu os sigo sem falar nada, apenas observava tudo atentamente como sempre fazia
-Ferreiro? Quem é? É o responsável por trazer pessoas novas também? - questiona Joui
-Ele é responsável por tudo aqui - o cidadão da cidade explica -Aqui a cidade é pequena, mas todos são muito simpáticos, todos se conhecem e tudo é delicioso em santo berço - comenta feliz
Ao longo do caminho, reparo que a cidade não estava vazia como eu pensava antes. As pessoas tinham um rosto simpático dando cortesia a nós, suas peles magnificamente cinzentas e as demarcações a negro que combinavam com os seus olhos escuros que brilhavam quando nos viam passar, as roupas eram igualmente bonitas e extravagantes. As suas características eram idênticas às do Porteiro. Era invulgar. Incomum.
Ao meu lado esquerdo, uma grande parte da cidade, a parte central, estava inundada de uma névoa fina e esbranquiçada. Em uma determinada altura, uma estátua branca enorme sem rosto e com alguns fragmentos fraturados surgiu, eu me questiono quem será a identidade da escultura
-Isto não me parece certo - sussurro para mim mesmo vendo tudo ainda em choque. O meu olhar agora fixa no Porteiro e para Joui que solta um grande sorriso amável
-Aqui parece ser realmente bom - ele exclama pulando de emoção. Eu suspiro e vejo o Thiago a exaurir -Posso fumar um cigarro aqui senhor? - ele diz segurando suas próprias mãos
-Mas é claro que sim! Esteja à vontade. Não existem regras em Santo Berço - quando Thiago obteve essa resposta, a resposta que tanto queria, começa a procurar por um maço de cigarros, mas em vez de encontrar o que desejava, encontra o olhar furioso de Liz
-Nem pense nisso Fritz!
-Que ótimo não é senhor Thiago? - Joui diz ao mesmo tempo que a Liz, parecia uma contradição intensa para a fala da Liz. Thiago fica sem reação olhando para ambos, sem saber quem deve ouvir. Liz acabou por apenas ignorar, apenas olha bem intenso para os olhos de Thiago, estavam brilhantes, mas quanto mais tempo eu olhava para os olhos castanhos dela, eu via ainda aquele vazio. Aquele medo. Aquela decepção. Aquela rejeição. Ela se vira para a frente e continua a caminhar lentamente, sem olhar para trás uma vez que seja
-Porteiro - ela começa a exclamar enquanto olha fixamente para a frente - Onde estamos? Digo, óbvio que em Santo Berço, mas para onde vamos?
Não passou muito tempo da questão até o Porteiro apontar com a mão esquerda uma grande casa feita de madeira alaranjada com uma porta de ferro bem feita e reluzente. Ele bate à porta com o seu punho
-Chegamos à casa do Ferreiro - ele diz e logo a grande porta é aberta por um homem baixo e magro, vestia roupas negras e castanhas, seu cabelo e barba era cerúleo negrume, a sua marca era diferenciada das outras, era parecida com um "F" que transpassava a sua testa e nariz . Ele recebe-nos com um grande sorriso
-Entrem! - ele diz animado
-Bom dia Ajudante, o Ferreiro está? Chegaram uns ignaros que surgiram em Santo Berço sem o Coletor - o Porteiro fala e entra comprimentando o tal Ajudante. Seguimos todos os passos dele e ficamos a admirar o interior da casa. Era aconchegante, não vou mentir, estava soalheiro pois existia uma pequena brasa alaranjada em um recanto, pareciam pequenos cristais simétricos laranjas, talvez vermelhos, de pequena dimensão, queimavam como fogo. Em todas as paredes haviam armas penduradas em ínfimos ganchos, como espadas, adagas, e outras muito bem feitas e formosas, eram bem detalhadas, algumas finas e pequenas, outras maiores e com mais grossura. No centro, uma grande mesa com prateleiras que guardam mais armas e uns outros cristais guardados em frascos de vidro com uma rolha de cortiça. Por cima do tampo da estrutura, um tecido bordô e amarelo estava a esconder algo, ou a proteger algo da poeira que havia no ar. Dou alguns passos para ver se observo melhor a casa, a cada passo que dou, o soalho do chão soltava um sonido irritante
-Bom dia Porteiro - o homem sorri - Sim, ele está. Ele está ocupado mas eu posso chamar. Se quiser, claro - ele fala e tem a nossa confirmação, se vira para trás e grita - Ferreiro!
Naquele momento vários sons de objectos a cair podem ser ouvidos, olho para onde vem o tal som. Vinha de uma porta de madeira mais escura com uma tranca negra de cobre. Vejo duas vultosas mãos com múltiplas cicatrizes arredondadas, seus pulsos estavam cobertos por braceletes de ferro prateadas brilhantes com algumas correntes finas e curtas. Dou alguns passos para trás nervoso, até que o homem atrás da porta saiu por completo e consigo ver o tamanho monstruoso que ele tem. O seu rosto tinha três demarcações, uma desde a testa até à ponta empinada de seu nariz e outras duas paralelas, que desciam dos seus olhos pequenos até à sua barba branca tal como seu cabelo alinhado. Escondido na sua face, encontrava-se mais uma cicatriz menor na sua têmpora esquerda similar às que tem por todo corpo nervudo, parecia a cicatriz do meu pai. Suas vestes eram diferentes, eram mais coloridas e simples, também tinha um cinto de correntes velhas e queimadas.
-Mas o que… - digo vendo aquele homem monstruoso à minha frente. Afasto-me mais um pouco
-Ah! O que foi Ajudante, estava ocupado! - quando perscruta para a frente tem a surpresa de não ser apenas o homem que ele conhecia que estava na casa. Ele olha confuso para nós - Bom dia. Sejam bem-vindo a Santo Berço
-Chegaram uns Ignaros diferentes, Ferreiro, não vieram com o nosso coletor - um dos Luzidios repete a nossa história, para explicar melhor a situação em questão. Estou a ficar sem paciência. Todos nós avaliamos as expressões dos três homens da cidade. Uns mais que outros
-Novos Ignaros? Como chegaram em Santo Berço senão vieram com o Coletor? - o terceiro homem fala em um tom grave
-Nós estávamos a seguir um mapa, mas nos perdemos no meio de uma densa floresta - o Thiago fala cruzando os braços e olhando para o chão
-Oh, um mapa? Onde o encontraram? Um mapa para Santo Berço? - o Ferreiro parece indignado, mas suas expressões faciais pareciam de mais interesse. Mas interesse do quê? De nós? Do mapa?
-Encontramos em uma mansão abandonada, um mapa para uma caverna para ser mais exata. Mas em vez de uma caverna, encontramos esta cidade. Acho que seguimos o caminho errado. Irônico não? - a Liz fala desconfiada como sempre. Ao menos alguém assim. Um silêncio pairou no ar até o Porteiro abrir a porta
-Gostaria de permanecer mais um pouco, mas preciso ir. Nunca se sabe quando chega a noite - por alguma razão, em questão de minúsculos segundos, vejo que lança um olhar desafiador para o Ferreiro. Olho para a Liz e vi que ela também percebeu isso. Iria trabalhar com ela desta vez. Ele sorri para nós antes de sair e diz mais uma vez "Bem-vindos", eu só consigo pensar que não somos desejados nesta cidade. Mesmo com todos os sorrisos em rostos totalmente simpáticos, eu não me sinto aceite, ou desejado aqui. Não posso ser o único a pensar nisso
-Ferreiro certo? - Liz pede uma confirmação e fala com as mãos como costuma fazer - O que é a sua profissão ao certo? - a pergunta foi feita com interesse e logo obteve o olhar pesado do homem
-Eu sou o responsável por todos os cidadãos desta cidade e por tudo o que acontece nela - ele ri
-Ah, eu sou o Ajudante do Ferreiro! O futuro Ferreiro para ser mais exato - o outro fica alegre de falar isso
-Quer dizer que você também vai adquirir músculos? - Joui fala com a cabeça em uma bolha de pensamentos. Eu solto um longo suspiro
-Ele será Ferreiro… Se eu morrer - ele ri - Sou praticamente imortal - ele se gaba, colocando os seus braços na mesa, com esse impacto, várias partículas de pó que estavam naquele pano colorido, esvoaçaram
-Claro, claro, mas mesmo assim eu gosto de pensar que um dia eu serei como você senhor - o Ajudante sorri
-Á quanto tempo reside aqui? - Liz é direta ao ver que a conversa estava a ir para os extremos que ela não queria
-Desde que me lembre. Santo Berço já é o meu lar à imensos anos
-E você? - Joui pergunta ao Ajudante
-Eu nasci aqui
-Certo - começa Liz e pensa em algo - À quanto tempo, ou melhor, à quantos anos Santo Berço foi criado?
Ouço um riso rouco exagerado
-Parece que alguém gosta de fazer perguntas - o Ferreiro olha para a minha direção e a de Thiago - A vossa amiga é sempre assim?
Dou um sorriso leve para ninguém notar
-Ela é sim! - dou a mesma resposta que Thiago e rimos um pouco
-Posso dizer que estou curioso sobre algumas questões também? Ou vai ser pecado? - Thiago diz a olhar para a Liz rapidamente, trocando o seu olhar para o Ferreiro
-Eu não sou sempre assim! - Liz diz chateada coçando a cabeça e ficando mais calada e com as suas bochechas coradas de opróbrio
-Ferreiro? - surge a voz do Joui de novo
-Sim pequeno? - ele olha para baixo, como se o Joui fosse alguém tacanho
-O que um Ferreiro faz no seu dia-a-dia? Você parece ser bem habilidoso com os punhos além do ofício das armas - os olhos dele passeiam pelas cicatrizes da pele do Ferreiro, não o julgo é uma das coisas que se dá mais nas vistas quando se olha para aquele homem, tirando o tamanho claro
-Eu trato de todos os que estão a viver aqui. Desde cidadãos a animais. É o cargo mais importante de Santo Berço - vejo que, enquanto explica, arruma uma espada comprida e brilhante - Crio armas para os meus se defenderem - ele diz a apontar para a tal arma - A noite aqui é bem perigosa. Se me faço entender
-O que tem de tão perigoso na noite - Liz declama, mas ai reparar que fez mais uma questão, fica em silêncio com os olhos postos no chão. Estava desconfortável
-Sim, realmente é uma boa pergunta - digo para aliviar esse peso dela
-Antes de o Porteiro sair, ele disse que nunca saberia quando a noite chegaria. O que ele quis dizer? - Arthur complementa a nossa conversa
-Todos fazem muitas perguntas - o Ferreiro conclui a rir - Ajudante, você poderá dar as informações necessárias? A Fazendeira precisa de mim - ele olha para a Liz e depois para todos nós, solta um sorriso e deseja uma boa estadia saindo
-Mas é claro! - agora, ficamos apenas com a presença do Ajudante, que ainda continua animado - Explicando melhor sobre a noite… A noite em Santo Berço é irregular, poderá vir a qualquer hora e durar muito ou pouco tempo, dependendo do dia em que ela vem. À noite, vem uma espécie de neblina tépida, onde é impossível ver onde estamos caso estejamos fora de abrigo ou até das nossas próprias casas, várias criaturas aparecem quando a noite cai. Temos algumas pessoas que têm a função de nos ajudar a ficar em segurança até chegar a casa, eles batalham contra essas criaturas. Para não ser atacados, apenas precisamos de estar dentro de casa ou tal como disse em um abrigo, as criaturas respeitam o nosso espaço estrutural - ele lança um olhar para o Arthur - o Porteiro vive na torre espiral que vocês poderiam ver quando aqui chegaram, ele tem o dever de alertar todos os habitantes sobre a caída da noite. É um cargo bem importante para a nossa segurança - ele termina com um sorriso e logo foi inundado de perguntas do Thiago e da Liz
-Uma névoa?
-Essa névoa, como ela é?
Ambos dizem ao mesmo tempo e se entreolham
-Ela é esbranquiçada, porosa e espalha-se como uma nuvem - ele explica com as mãos
-Porosa? - o Arthur sorri
-Parece a nossa neblina - Eu concluo
-Ela só costuma aparecer à noite, certo - a Liz faz a típica expressão de tirar apontamentos mentais dela
-Poderíamos caminhar pela cidade para vocês a conhecerem melhor - o Luzidio propõe
-Claro! Eu iria amar! - o Arthur se empolga mas olha para a Liz primeiro - Ah… Certo Liz?
-Porquê que me questiona tal coisa? O Thiago é o nosso líder - ela ri com a piada que disse e eu faço o mesmo colocando a minha não esquerda nas costas do Thiago
-Ela tem razão "Líder"
-Vamos então, fiquei curioso para descobrir mais - ele diz retirando a minha mão é dando um ínfimo sorriso
-Vamos! - diz Joui animado já a sair com o Arthur. Fico para trás com os outros enquanto caminho, mais próximo do Thiago como o de costume
-Thiago, eu não gosto desta situação - cruzo os braços enquanto o encaro
-Eu também não, por mim, eu sairia deste local. Mas temos de descobrir a fundo o que é isto - ele diz com os braços esticados a mencionar o espaço ao nosso redor - Nós dormimos no carro depois - após dizer, ele desloca, o seu olhar para a Liz, isso me deixa altamente desconfortável, ele a devorava com o olhar, o que era estranho observar após os momentos passados.
Uma conversa se forma no ar, sobre os nomes que são dados aos habitantes desta cidade. Consegui constatar que, consoante a profissão de determinado ofício, esse será o nome do Luzidio. Não são dados nomes humanizados para eles. Apenas são trabalhadores, são apenas indivíduos insólitos.
Ao fim da conversa, caminhamos até um pequeno bosque com vários troncos de árvores cortados praticamente rentes ao chão de relvado verdoso. Uma mulher, bastante familiar, corria até nós, com as suas mãos agarrando um vestido negro que vestia por baixo de uma bata simples e branca, amarrada por trás do seu torso e pescoço. Seus cabelos amarrados eram castanhos escurecidos. O que mais me chamou a atenção, foi a falta das marcas que todos os luzidios tinham em suas faces. O ajudante acena para a mulher com um sorriso
-Cibele? - a Liz exclamou incrédula e foi nesse momento que eu percebi o porquê que o seu rosto me parecia familiar. Cibele foi a enfermeira que ajudou e cuidou do meu pai no hospital de Carpazinha
-Cibele? Mas… - eu fico agora em choque ao ver como a sua pele brava se tornou cinza
-Oh, vocês também vieram? - ela se aproxima de nós - Eu sou a enfermeira aqui, já não sou tratada por Cibele - após isso ela acena para o Ajudante. Fico perto da Liz e do Joui. Arthur parecia distraído, sempre a olhar para todos os lados possíveis com animação em sua expressão
-Você foi chamada? Digo, pelo Coletor? - eu levo um pequeno susto com a voz do Thiago que apareceu em questão de segundo ao lado direito de Liz
-Eles fazem tantas perguntas - o Ajudante ri. Tão ingénuo - Estou apresentando os lugares de Santo Berço para eles
-Sim, eles são assim - ela ri - Especialmente a garota - olho para a Liz e a vejo esconder o rancor que sentia em relação às observações dos habitantes - Espero que gostem de Santo Berço, aqui é maravilhoso! Quando o Coletor falou as maravilhas desta terra, eu fiquei completamente apaixonada
Solto um riso contido. O que esta cidade tem de tão maravilhoso? Apenas é algo maníaco, algo esotérico criado à anos pelas mãos de cientistas competentes, que usam sua habilidade para colocar o mundo no pélago de escrúpulos
-As maravilhas desta terra? - como se tivesse lido o meu pensamento, Liz questiona com uma voz que impunha respeito
-Eu disse que ela fazia muitas questões - a mulher diz a rir. Por sua vez, ajudante viu o humor a diminuir, então, aclarou a sua doce voz e indicou o bosque à nossa frente
-Este é o Bosque da Aprovação. Santo Berço é uma terra de paz, onde ninguém mente, por exemplo nós Luzidios não temos essa necessidade… - ele sorri para nós e depois começa a caminhar em direção a uma grande casa, bem construída perto da entrada, ou da possível saída, da cidade- Claro que temos mais maravilhas
-Como é uma terra de paz, se criaturas surgem à noite em uma neblina? - Thiago se questiona
-Eles normalmente atacam Ignaros - Uau, isso me acalma imenso ao saber isso Ajudante, está de parabéns por ser o pior guia que alguma vez tive a oportunidade de ver - Digamos que a cidade não gosta muito de indivíduos novos, mas aceita em questão de duas, é um processo normal. Ah, algo bem importante, Santo Berço não gosta de fogo, então usamos os cristais para nos aquecer. Vamos passar pelo Hotel para eu vos mostrar - ele continua sereno a caminhar com Joui e Arthur ao seu lado. Vou com os outros para que eu não me distraia com potenciais conversas fora da investigação
-Santo Berço, o lugar maravilhoso - Liz diz irônica e logo recebe a sátira de Thiago também
-Sim, a cidade é maravilhosa, nunca imaginei-me em uma cidade desse calibre, quase um paraíso, se eu posso comparar a tal glória - ele sorri e se coloca no lado direito de Liz, o que fez a mulher ficar entre mim e Thiago. Eu tinha umas questões, precisava libertar as minhas dúvidas com ela. Liz iria me ajudar certamente a entender os meus pontos e os transformar em conteúdo lógico, em pistas que nos serão válidas e valiosas. Eu olho para ela antes de falar
-Porque a Cibele estaria aqui? Quais as razões que a levaram a ter vindo para este local? Ela tinha uma vida incrível construída! Um trabalho em um hospital, uma casa - dou um suspiro e vejo a Liz pensar. Ela queria comentar algo, mas primeiro ela observa o meu rosto curiosa
-Penso que a cidade convenceu a Cibele a viver aqui. Por alguma razão isso não me excita nem um pouco
-Então, será melhor cuidarmos de Joui e Arthur. Eles parecem bem suscetíveis a isso - Thiago indica após a fala, os dois homens animados a falar com o cidadão de Santo Berço
-Eu trato disso - exclama Liz em concordância - Mas preciso investigar primeiro, César?
Após ouvir meu nome eu a olho
-Claro, conta comigo, eu posso tratar deles também
-Certo, eu vou conversar com algumas pessoas depois - Thiago fala suspirando. Nunca o tinha visto interessado em investigação, ele sempre empurrava esse tipo de trabalho para Liz, seja para ler e examinar documentos, ou pensar em alguma pista sólida necessária. Talvez ele esteja a fazer isso para impressionar Elizabeth. E está a conseguir.
Caminhamos durante mais algum tempo até chegarmos a um grande edifício com janelas entreabertas com vidros quebrados nos cantos. A porta estava aberta para fora, como um convite para nos fazer entrar. Espero a indicação do homem que nos tem mostrado a cidade
-Este é o hotel - indica com a sua mão o edifício acastanhado de podridão - É aqui que os Ignaros, como vocês, passam a noite - ele entra animado e todos nós o acompanhamos - Bom dia Hoteleiro!
-Olá, bom dia! - um homem sai por detrás de uma bancada velha e empoeirada, novamente, tal como todos os Luzidios que passaram aos nossos olhos, tinha a sua pele acinzentada, mas seus cabelos e barba eram alvos o que contrastava com as suas roupas esverdeadas, as suas marcas faziam curvaturas por cima dos olhos e do nariz. Parecia alguém descontraído e com um humor apurado pela forma que ele se posiciona por cima do balcão
-Eu ia somente passar no seu hotel para mostrar algo para os novos Ignaros - o Ajudante fala a prenunciar todos nós
-Oh, bem vindos então! - o homem fala amigavelmente, enquanto Ajudante procura por algo pelo cômodo
-Aqui! - ele exclama alto e eu tomo um pequeno susto. Ele trás para perto de nós uma espécie de brandão, que em vez de uma chama, continha ínfimos cristais avermelhados que emitem um calor formidável . Eram os mesmos cristais que eu avistei na ferraria mais cedo. Consegui perceber que os candelabros de cobre que existiam no estuque do interior do hotel, também tinham esses cristais como fonte de luz - Estes cristais são o nosso fogo, o nosso calor, a nossa iluminação
-Mas Ajudante, não era melhor mostrar na ferraria? - ele fala dos cristais
-Ah… Mas o hotel estava no caminho e já tínhamos estado na ferraria, foi falta de memória eu não ter explicado isso para eles - ele fala bem envergonhado
-O Ajudante não sabe onde nos levar - Liz diz com secura - Hoteleiro certo? O que pratica durante o dia? - o olhar dela é levado ao Ajudante, ela fica com uma raiva interior - Sim, eu faço muitas perguntas senhor - ela volta ao seu foco suspirando e se aproximando do hoteleiro fingindo interesse
-Ah, não fale assim do Ajudante, ele está a nos mostrar a cidade de uma forma indulge - Thiago solta o seu sorriso velhaco e Joui também se pronúncia
-Adoro ver a Liz chateada - eu comento a rir - Fica adorável - uso um tom sarcástico e recebo o sorriso do homem ao meu lado
-Tudo bem, tudo bem - Ajudante comenta triste - Eu ia mostrar rápido para que pudessem andar melhor pela cidade. Para não se perderem. Mas se eu não estou sendo muito útil eu posso ver alguém melhor para apresentar Santo Berço para vocês
-Não diria que está a ser inútil Ajudante, mas podemos apressar as coisas por aqui? - pergunto em um tom mais calmo que consigo
-Está a ser muito gentil senhor, não ligue para ela - Arthur indigita a Liz que ainda falava com o Hoteleiro - Ela é assim mesmo, mas quando se apega, é um amor de pessoa. Acredite em mim!
-Muito bem,, vamos voltar pela rua da Ferraria, lá, nós, vamos ver a Torre do Porteiro, a casa do Doutor e a Taberna! - agora, motivado com todas as falas inspiradoras, Ajudante exclama mais alto em um sonido vivente e começa a movimentar-se para o exterior do edifício, acenando com a sua mão para nós, como sinal para o seguirmos. Joui e Arthur, mais uma vez o seguem a passos exultantes
-Hoteleiro? - ouço uma voz masculina rouca ao meu lado. Thiago - Pode me dizer quem são estes homens nestas pinturas? - ele fala a movimentar-se até uma parede revestida de quadros de, pelo menos, seis homens sentados na mesma pose reta, com um queixo erguido e um sorriso falso o que fazia seus olhos ficarem bem abertos à perspectiva do artista que pintou tal indivíduo
-Ah - o Luzidio desvia sua atenção de Elizabeth e olha para os quadros com um sorriso de canto - São todos os Hoteleiros que exerceram sua função desde que Santo Berço existe! Aquele era meu pai, pode ver, é o último quadro colocado - ele até se aproxima para nos mostrar o quadro de um sujeito calvo com uma cicatriz sobressaída em sua parte superior da cabeça, que rastejava até à sua parte frontal, onde começavam as suas demarcações em formato de "X" por cima do seu nariz alcantilado. Sua barba reduzida era nívea. Suas roupas extensas eram acastanhadas em suas longas mangas que cobriam as mãos do homem que permanecia a segurar um bastão de madeira velha, pousado-o no colo. Em princípio, não diria que era pai do Hoteleiro, não vejo parecenças entre os dois - E aqui, estará o meu quadro, quando meu condado de Hoteleiro acabar ou até minha vida ter um final - ele ri e Thiago sorri de leve
- Certo, são bonitos, seu pai tinha uma expressão fechada, exigente, não é?
-Sim, ele era bem impertinente, mas era um dos melhores Hoteleiros que Santo Berço teve a honra de ter - sinto orgulho na fala
-Sei como é - Thiago apenas diz isso olhando nos olhos do homem. Eu apenas neguei com a cabeça e saí do edifício bem decorado até aos outros que já haviam saído faz tempo. Passamos pela torre espiral do Porteiro, que nos acena alegremente bem lá no alto da sua varanda.
O caminho continuou com as indicações do Ajudante cada vez que passávamos por alguma casa ou Luzidio, ele era alguém que falava demais para mim, mas não era o único a falar. Liz e Thiago conversavam algo que mal consegui escutar, já os outros, permaneciam com as suas expressão de abismados enquanto miravam a urbanização.
Alcançamos por fim, uma casa em um tom azulado com uma pequena porta, comparada com todas as que vi em outros imóveis, com uma pequena janela arredondada no seu centro.
Um homem baixo de cabelos pretos, que usava óculos de arame negro arredondado que pousava no seu nariz pontiagudo e com marcas quase idênticas às do Porteiro, abriu a porta com um sorriso e nos encara atentamente
-Bom dia! Vieram me conhecer? - vejo o Ajudante concordar com a sua ingenuidade
-Este sujeito à vossa frente é o Doutor, meu pai- ele se comunica um pouco desajeitado - E esta casa é onde ele presta assistência a todos os luzidios que se molestaram, podemos entrar?
-Mas é claro que sim! Entrem! - Doutor indica alegremente fazendo um movimento monótono com a sua mão para nos fazer entrar rapidamente
-Prazer senhor! - Arthur e Joui falam ao mesmo tempo ao entrarem. Eu lanço o meu olhar duvidoso a Thiago e Liz que tinham, finalmente, terminado a sua conversa. Eles fazem um meneio de cabeça e adentrar a casa com a minha companhia. A casa é bastante arrumada, tudo no seu devido lugar. Vários armários com frascos de vidro de variadas formas e tamanhos que continham alguns cristais, órgãos humanos ou pequenas flores e folhas de vegetação. Outras prateleiras estavam revestidas de variados livros de capa dura. Era um ambiente agradável, para quem é interessado na alopatia
-Doutor? - uma outra voz é ouvida um cômodo adjacente - Precisa de ajuda? - um homem alto e de cabelos negros, com seus olhos ainda em um tom glauco, não totalmente escuros, apareceu enroupado com roupas azuis petróleo amarradas com um cinto de couro. Ele examina todos nós que estamos na sala, até parar o seu olhar calmo em Liz. Ele automaticamente dá um sorriso enorme - Senhorita Elizabeth? - ele se encosta à ombreira da porta com os seus braços cruzados em pose atrativa. Liz o olha e sorri também o conhecendo
-Ei! O que você faz aqui? - ela dá uns passos até ele, analisando o seu rosto e corpo por total. Eu fico confuso e curioso, uma mistura de sentimentos incertos que tenho sentido bastante ultimamente.
-Prazer em revê-la novamente! - ele estica a mão e Liz aperta a mão dele - Vejo que está com melhor cara, melhor que naquela noite do Hospital - ele loquela sorridente. Um sorriso encantador eu diria
-O prazer é todo meu. Nunca cheguei a perguntar, qual o seu nome? - Liz pergunta interessada
-Isaac, mas agora, por favor, me trate por Enfermeiro
-Isaac? - Joui exclama e vai até ao homem - Você também veio para Santo Berço? Não esperava encontrar você aqui!
O tal homem, Isaac, olha para Joui ainda sorrindo e bagunça os cabelos dele
-Olá! Você também está com uma boa cara, ainda bem que vos vejo!
Continuo confuso e Thiago bem até mim
-Ele é o médico que tratou deles após a mansão do Virgulino - após falar ele tira um pequeno caderno de capa maleável e azulada, com uma caneta de tinta vermelha presa na lombada. Ele começa a escrever com uma letra que mal consigo ler, mas, com um pouco de mais concentração, consigo decifrar algumas palavras chaves para conseguir compreender o que escrevia. Eram sentimentos. Dou um sorriso maléfico
-Virou garota agora Fritz? Tem um diário para colocar seus sentimentos? - eu rio
-É um diário infantil só para mim - ele suspira e vai até ao Doutor, lançando a sua manipulação e carisma. Logo Liz o puxa para perto de mim novamente, trazendo pela outra mão Isaac
-Oh, Enfermeiro, este é Thiago e este é o César - ela nos apresenta e desloca seu olhar para o chão. Recebo um aperto de mão gentio do homem e Thiago também, mas Thiago recebe um comentário
-Uma cicatriz dessa dimensão? O que você fez? - pergunta curioso indagando a sua cicatriz
-Longa história. Foi um acidente. Um dia não muito agradável - Thiago comenta a colocar a ponta dos dedos na cicatriz - Disseram que ia ficar surdo pelo resto da vida. Não tinha jeito. O tímpano estourou por completo. Mas, não atrapalha o meu dia-a-dia, mesmo que uma situação crítica e lastimoso, a Liz sempre está aqui para me ajudar com isso - ele fala a segurar o braço dela com um sorriso reconfortante. Ele fala com uma certa emoção - Fico grato pelo trabalho que fez, salvando Joui, Arthur e Elizabeth. Eu e o César estamos eternamente gratos
-Pelo o que pude ver da Elizabeth, ela é realmente alguém de bom coração e caráter - Isaac diz a fazer uma espécie de vénia, agarrando a mão de Liz e leva os lábios até à sua pele, dando um pequeno e delicado beijo - Sabe Elizabeth, aqui em Santo Berço, você daria uma ótima enfermeira, se você ficar aqui, acredito que o Doutor te aceitaria em sua casa. Se ele não te aceitar, eu daria um jeito - ele ri piscando o olho para a mulher - Foi um prazer - ele vai até ao cômodo ao lado novamente, acompanhado do doutor que foi chamado por Cibele, que se encontrava a trabalhar após a sua passeata pelo bosque. Eu olho para o Joui à espera de aprovação, se eu deveria confiar em Isaac, ele anui para mim e eu me acalmo, agora com a minha atenção para Liz que tinha suas bochechas mais rosadas do que o costume e com um sorriso amantético vendo Isaac se deslocar para fora da divisão da casa onde estava
-Ele é incrível não é? - após essa frase, Thiago caminha a passos curtos até ela, agarrando o rosto dela, colocando o dele próximo. Deixando os lábios no ouvido esquerdo dela. Eu me aproximo discretamente para ouvir
-Não se esqueça do porquê que estamos aqui. Tente não se distrair com galãs amadores. Esse homem que você estava falando, não presta! Distrai os outros, eu vou observar a casa - ele se afasta dela e começa a examinar a casa. Joui ouve e começa a abduzir a atenção de todos com questões. Eu me junto a ele também, para o ajudar na pequena distração que precisávamos causar para que os outros investiguem o terreno. Reparo que eu uma das camas improvisadas com vários cobertores sobrepondo-se uns aos outros e uma almofada com costuras na sua frontal, havia deitado um homem ruivo e corpulento, seu corpo revestido de lanugem fina e negra, suas vestes eram peculiares e mais arejadas, tendo apenas um par de calças e algumas peças brilhantes de armadura em seus ombros. Suas marcas pareciam caminhos de lástima, lágrimas. Doutor, enquanto respondia às nossas inúmeras perguntas, tratava desse homem com cuidado e com alguns cristais esverdeados. A certa altura, doutor pousa o cristal, que agora parecia translúcido, por conta de estar vazio, assim o penso, o homem se levanta com um sorriso e se ajeitando
-Muito obrigado Doutor! - ele caminha até à saída dando um sorriso amarelado a todos nós presentes na sala
-Não precisa de agradecer Minerador - Doutor fala a ajustar os seus óculos e olhando para nós - Quem é o próximo? - ele fala e Joui é Arthur manifestam vontade
-Eu! - Joui se pronuncia. Eu lhe lanço um olhar de negação, intimidação. Não iria deixá-lo ser uma cobaia de um cristal que cicatriza ferimentos em cerca de segundos, um material vindo do inferno de uma cidade de pessoas de sorrisos falsos em suas faces de porcelana. Uma cidade criada pelas mãos de Esoterroristas. Quando seus olhos encontraram os meus ele nega com todas as suas forças para o Doutor - Na verdade senhor, penso que não seja uma boa ideia. O que você faria, sendo mais preciso?
Após a indagação de Joui, Doutor analisa o rosto dele por completo, até chegar a um veredicto
-Enfermeira! - ele fala ajeitando os seus óculos, como um trejeito - Traga-me um cristal de tamanho mediano - em pouco tempo, em sua mão enluvada, Doutor tinha um cristal - Posso tentar ajudar a cicatrização do seu ferimento? Me dá a autorização de entrever sua bochecha?
Eu volto a negar
-Ninguém toca no Joui, muito menos com esse tipo de cristal paranormal! - digo em um tom autoritário. Não iria ver a pessoa que amo se transformar em um ser como estes Luzidios
-Oh, César - oiço a voz masculina do Isaac, que estava a segmentar cristais e organizá-los em pequenos frascos - Estes cristãs têm fins medicinais, são mais poderosos e eficazes do que a mão humana. O senhor Jouki irá permanecer bem, apenas com a sua cicatriz em melhor estado. Confie em mim - ele transmite tranquilidade, mas mesmo assim eu rejeito a proposta
-Sabe Doutor, para tal tratamento preciso da permissão dos meus progenitores - Joui se explica, ou tenta o fazer e volta para o meu lado, se escondendo atrás de mim, apenas com a sua cabeça de fora para observar o que acontecia. Doutor estranhou, como era óbvio, ele apenas avança e tira o curativo sujo de terra e sangue da bochecha de Joui que solta um som de dor lépido e não muito duradouro
-Não se preocupe pequeno, vai ser melhor para você. Seu curativo estava sebento, precisa de ser tratado e ser absterso. Você é lactente, digo uma criança, ou algo do gênero?
-Exatamente senhor! - eu digo para a endrômina gerada
-Certo. Então onde estão seus pais Jouki? - Isaac pergunta a rir. Ao som da risada, Thiago aparece e se coloca na frente do Doutor. Ele pensa no que dizer
-Acredita que eu seja o protetor dele, o que necessita do meu filho?
-Eu ia debelar do seu filho, mas aparentemente ele absteve-se - Doutor exclama a encarar Thiago contemplativo
-Ele deve temer que algo condenável aconteça, trate de mim primeiro. O que pode fazer por mim? - Thiago se oferece como cávia, recebendo de imediato a atenção do homem
-Me diga então, essa cicatriz que tem no rosto, à quanto tempo se exibe?
-Pelos menos uns quatro meses e também, na mesma altura da cicatrizes, eu perdi a audição deste ouvido
-Não! - ouço mais uma contradição, desta vez de Liz que agarra o braço do Thiago o levando para longe daquele cristal tentador - Ele não está autorizado a fazer tal tratamento. Sou a médica responsável pelo estado dele e eu não lhe darei autorização! Nem ao Joui… Sou mãe dele - ela diz meio nervosa mas sua voz sai perfeitamente como desejava. Opressiva.
-Sim, eu concordo com a minha irmã? - digo para a ajudar, entrando um pouco nesse esquema inventado. Tento não rir com a hipótese de ser irmão de Liz.
-Então estão me dizer que vocês dois são casados? - Isaac indica Thiago e Liz - E que têm um filho vindo do vosso matrimónio? - agora seu dedo indicador aponta para Joui e de seguida para mim - E que existe um tio?
-Sim! Eu sou o filho adorável adotado - Arthur diz a rir demasiado alto e tem a confirmação de Joui, que o abraça de lado
-Um ato um tanto querido - Thiago começa - Mas Liz, alguém tem que saber exatamente como funciona esta nova medicina não é? Vamos experimentar comigo - ele tenta convencer ela com um pouco do seu carisma. Talvez com manipulação. Doutor cruza os braços e pede ao Isaac para segurar Thiago, que iria fazer o tratamento mesmo assim, parecia que a pessoa simpática que conhecemos quando abriu a porta, está ficando sem paciência para as nossas narrativas fictícias
-Me deixem mostrar-vos. Seria um milagre, mas como é um ferimento tenho a completa certeza de que conseguimos salvar, não é Enfermeiro e Enfermeira? Observem, observem - ele chamamos com a mão livre - Veram que não dói
-Tem certeza? Digo, seu tímpano padeceu. Eu apenas feri a bochecha e tenho algumas mordidas no meu pescoço. Pode testar em mim, será mais fácil de visualizar certo? - Joui fala desesperado e recebe um sorriso de Thiago
-Desculpe, mas eu não posso deixar isso acontecer. É impossível que a minha audição volte
Não se preocupe. Apenas se mantenha calmo - ele fala a se sentar na mesma cama antes estava Minerador - Temos pessoas, médicos de experiência aqui. Apenas não se preocupe
Em seguida, Doutor, começou a tratar do ouvido de Thiago, mas uma outra cena em questão me chamou mais a atenção. Liz, que está no outro lado do cômodo, retira a sua navalha da maleta e corta o seu braço, um corte reto horizontal, ela nem parece estar em dor, apenas fez o que fez, deixando de seguida a sua navalha com a lâmina coberta de sangue, cair no soalho de madeira. O que fez um sonido alto que obteve a atenção de todos
-Testa em mim em vez dele, Isaac, por favor eu imploro! - ela fala com o seu braço a formar vários caminhos de sangue, escorria várias gotículas de líquido acerejado que caiam lentamente até ao chão, junto da navalha, à medida que desciam pelos dedos finos e frios da mulher com expressão de choque. De preocupação. De um potencial trauma. Isaac não perdeu tempo, despertando ao ver a cena, agarra rapidamente em um pano inicialmente branco, mas com o contacto do líquido interno, começou a se tornar carmim
-Ah, Doutor? - ele fala a tentar estabilizar o corte
-Você é louca? - é a única reação que consigo ter ao ver o episódio à minha frente
-Estou ferida não é? - ela insiste esticando o braço dela, como se mostrando.
Primeiramente, após um longo suspiro, Doutor coloca um cristal com a ajuda de um alicate no interior do ouvido de Thiago e em seguida o retira, após isso, ele solta o material e logo busca cuidar do braço da Liz
-Enfermeira, por favor, me ajude a cuidar dela - a voz dele saiu calma, como se todos os dias uma mulher insana cortasse o braço à sua frente para tentar poupar a higidez de alguém que ama. Thiago, com uma expressão de terror, se desloca a passos largos até Liz para tentar ser o primeiro a socorrer-la
-Você está louca? - ele avulta a minha fala anterior, sua voz falhava e em comparação com o outro homem, Thiago estava com um tom desesperado a ver a quantidade de sangue que escorria pelo braço e que caia agora nos pés dele. Doutor não esperou muito mais tempo, com rapidez, ele faz um desfalque reto com o tal cristal. A pele da Liz ia cicatrizando lentamente, o sangramento pára como de imediato
-Pronto, pronto. Não precisa ficar assim senhorita - enquanto o doutor exclama, Cibele, com o seu avental, limpa o chão e os pés do Thiago, que segura o braço da Liz ainda assustado.
-Liz, não volte a fazer algo assim! - ele articula a passar os seus dedos na cicatriz do grande corte existente no braço
-Porque não o faria? - a resposta da Liz foi rápida, ela retira a mão dele - Não é como se importasse realmente. Vê se se comporta Thiago Fritz - pelo tom dela consegui decifrar duas facetas. Uma delas, que novamente houve uma discussão entre os dois. A outra, que Thiago terá que se desculpar de alguma forma. Dou um sorriso de leve, sempre será assim no final das contas.
-Porque não pode Elizabeth! Não diga como se eu não me importasse, sim? Aquilo que eu mais desejo é te proteger! - Thiago fala suspirando e Liz lhe cobra com um riso
-Sim, claro. Você se importa muito comigo
Em seguida, ambos começam a se olhar com olhar de decepção ou de mágoa, não sou tão bom em percepção a sentimentos e emoções em tais situações, ou em qualquer uma, prefiro descobrir cada sentimento, cada sensação com o tempo. Eu solto um murmúrio baixo antes de colocá-los em ordem, mais uma vez.
-Muito bem, já entendemos que vocês gostam muito um do outro. Agora, podem parar de discutir à nossa frente?!
Ambos colocam o olhar em mim e cruzam os braços, pareciam dois adolescentes neste momento. Volto a negar com a cabeça como um sinal de perda de paciência.
-Posso agora cuidar de você jovem? - ouço a voz obsoleta do Doutor perto do Joui que estava distraído com todo o acontecimento.
-Espera! - ele tenta impedir Doutor, mas o homem foi mais rápido e curou de seu ferimento também. De seguida, Joui correr para perto de mim, abraçando meu torso, colocando a mão dele em sua bochecha
-Mais alguém precisa de tratamento? - Doutor oferece - Como podem ver o cristal estimula as células a se restaurar mais rapidamente - ele passeia o seu olhar cansado por cima das lentes dos óculos embaçados - Você meu jovem? - ele indica Arthur que rapidamente olha para a Liz sem saber o que fazer - Eu insisti, deixe tratar de você. De longe, o senhor é que está em pior estado. Quem foi o médico que te tratou ? Que cicatrização horrenda - ele logo começa a limpar a face de Arthur que permanecia a olhar para a Liz à espera de uma confirmação e quando a teve, ele segura firmemente a gola da sua própria blusa
-Se não se importar, pode ir - ele fala nervoso. Volto o meu olhar para Joui que estava há demasiado tempo agarrado a mim. O contacto me incomodava um pouco, não era habitual ter alguém que me abraçasse ou que quisesse me tocar de qualquer forma. É algo que eu me acostumei com o passar do tempo. Que me acostumei com a falta de um pai para me abraçar quando tive um dia desagradável. O tato de uma mãe que sei que nunca mais virá, pois sua hora chegou cedo demais. Ou até, um abraço de um antigo amigo, a quem confiava minha vida, que desapareceu da minha vida tal como apareceu, de repente, do nada. Até que a força do hábito fala bem no meu ouvido que está tudo bem. Que é assim que a vida é para ser. Que é assim que me tornarei mais forte, mais persistente, mais ambíguo. Que é assim que me tornarei solitário, com todos ao meu redor mas mesmo assim não sentir um calor por perto, um amor, um carinho. Mas, é bom estar sozinho. Não preciso perder meu tempo com discussões, com planos que demoram anos a serem feitos e que nunca serão realizados, com promessas feitas e não cumpridas, com palavras de falsidade que saem por suas bocas como se fossem os termos mais acertados. Estar ermo tem as suas vantagens. Mas pelo outro lado, vejo que me tornei alguém frio, calculista, vazio. Dentro de mim existe um enorme vazio, pelo qual não sei como o preencher mais. Talvez Joui preencha esse espaço vazio.
-Você está bem Joui? - digo após de um longo pensamento
-O Doutor… Estou assustado, o meu ferimento está curado!
Eu o olho chocado e direciono minha voz aos Luzidios
-Primeiramente, o que vocês fizeram ao Joui? Isto não é possível! - digo um tanto incrédulo, iria descobrir mais e mais para que finalmente possamos terminar esta investigação vitoriosos.
-Ah, tenham calma senhores, os cristais são muito eficazes e seguros - Cibele garante com uma voz baixa, com o intuito de o nosso tom de voz baixar tal como o dela
-Eu não senti dor, nada. Eu nem sequer vi o que tinha acontecido - Joui exclama apenas para mim mas vejo que Thiago também ouve. Calma, ele ouve?
-Como assim? Me explique melhor o seu ponto - ele se aproxima de Joui mas logo se desvincula por alguma razão que desconheço. Eu apenas analiso o rosto do homem ao meu lado.
-Como? - eu volto a falar com choque - Acordem-me se eu estiver a sonhar! Que lugar é este?! - eu começo a fazer um drama para retirar algumas informações. Mas, no fundo, estava genuinamente em conflito. O Joui apenas repete "Eu não sei César" inúmeras vezes até eu ficar mais calmo, seu olhar é levado para o chão, acho sua ação estranha
-Mas, você realmente está bem, não é? - peço uma confirmação
-Sim, apenas estou um pouco assustado, eu estou bem - ele dá um ínfimo sorriso
-O cristal acelera o processo de cura e de cicatrização. É normal que arda ou doa um pouco. Você apenas não percebeu. Seu amigo também já está cuidado. Já não irá infeccionar - Doutor olha para Arthur com um sorriso. Notei apenas agora que Arthur havia sido cuidado também. Realmente as suas cicatrizes estão em melhor estado e assim ele não terá que usar faixas para cobrir o seu rosto.
-Não faça isso nunca mais - Eu digo para o Joui tocando de leve no braço dele
-Sem problemas, não voltarei a fazê-lo - Joui fala tímido. Após isso ouvimos uma porta bater com força, fazendo a casa estremecer - O que foi isto? Foi o Thiago? - com a curiosidade, eu e Joui vamos até a uma janela que existia naquele cômodo, ao olhar, pode-se ver Thiago e Liz falando
-O que acha que estão a falar? - Joui me questiona e logo Arthur se colocou ao nosso lado para ver também a cena em questão. Eu dou de ombros
-Não faço ideia - apenas tento ler os lábios deles mas não sou muito bom nisso, então Joui o faz e vai retratando o que os dois falam. Pelo o que consegui perceber, Thiago não estava muito animado por Liz ter reencontrado Isaac, pois pensa que a mesma o ama, ele tinha ciúmes do homem de olhos esverdeados, mas a fala dele, a forma com que ele fala, que se comunica, ajudou a Liz a piorar o seu astral, ela estava novamente fria, vazia. Até que chegou a um ponto que Thiago deu um final à conversa, saindo com o caderno azulado em mãos, deixando Liz desolada à entrada da casa.
-Então o Thiago…. - Joui tenta colocar os pensamentos em ordem - O Thiago gosta da senhorita Liz? - ele fica desacreditado, eu nem tanto, eu já sabia.
Eu sempre soube
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O segredo entre nós
МистикаUma fanfic do RPG O segredo na floresta. Escrita por : @joanna.guerreiro como Cesar, Liz e Arthur. @ana_lovesissick como Thiago, Joe e Brulio. A magia não vem para a nossa realidade de maneira facil.o mundo tem uma base de sanidade difícil de abala...