Dependente Livre- Especial

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Aviso:Esse capítulo pode conter gatilhos. Caso você não esteja em bom estado é recomendado que não leia.
Notas autora: Nesse episódio eu quis fazer uma evolução de personalidade no Gregorio, só não tinha noção do quão baixo ficaria. Sério, até mesmo eu autora senti, peço que se você não passou por algo bom evite ler.

Eu era parte de algo. E esse algo não existe mais.
Achei que iria continuar sem qualquer importância.
No final ele sempre tomava a decisão de tudo e eu concordava.
Não me rebelei tanto quanto devia.
Eles sempre estavam la pra mim.
Agora eu sou um espírito livre.
Carrego um peso em mim  que eu acho que eu não sei se suporto.
Eu tenho certeza que todos eles e ele concordam que nosso legado acabou pra nova geração escrever história.
Eu só não achei que eu era dessa geração.

Naquele momento eu estava meio atordoado, ao olhar nos olhos dele eu só vi sua alma indo embora, eu fiquei puto, eu havia dito pra ele não ir.
Talvez aquilo fosse só impressão minha, então eu continuei a tentar barrar o sangue.
O olhar dele ficou fixo por um tempo olhando a porta e logo eu não o escutei falar nada. Nem senti o movimento de respiração. Ele não se movia nem um  centímetro, seus olhos não piscavam.
Eu toquei na sua face e ela estava gelada.
Eu não acreditei. Me afastei um pouco do corpo, parei de apertar sua barriga, senti um pouco o choque me consumindo.
— Brulio?— Comecei a chama-lo e mexer nele, ele não me respondia e sua pele perdia a cor aos poucos junto de seu calor.
Escuto um grande barulho na madeira, olhei para trás e vi uma mulher andar ate onde o Arthur e o Brulio caídos. A deixei passar porque ela estava com um jaleco e uma maleta. Me lembrei dela la no bar. Se não me engano seu nome era Liz.
—Meu Deus não! —ela de ajoelha e abre a maleta— Senhor Brulio? Está me ouvindo?— ela tenta medir a pulsação dele —Não... Não é possível. Não pode ser...
Eu a olhei e logo voltei a mim. E logo vi o garoto do copo falar:
—Liz? O que se passa? Ele está...
Olha para o mim e depois para o menino aqui do meu lado.
— Não ele não está! — Ela começa a fazer uma massagem cardíaca —Ele vai ficar bem.
Eu volto a ficar mais perto e vejo que a reanimação não está funcionando, vejo que o Arthur mais uma vez estava desacordado e entre dor.
Olho pra ela bem nós olhos e falo:
— Ele iria prefirir que você ajudasse o Arthur, o Arthur ainda ta vivo, ele fica desmaindo e acordando— eu tento manter minha calma e compostura— ELE NÃO TA MAIS AQUI. SALVA O ARTHUR, ele ainda ta aqui.
Eu falhei.
Eu estava me levando pela emoção mais uma vez.
—Não eles vão ficar bem os dois! Imagina se o Arthur recebe a notícia que o pai dele morreu! Ele não vai ficar bem — reflete, para do um pouco, ela direcciona o olhar para o garoto—Eu não vou deixar isso acontecer de novo!
Ele corre escada a cima em uma enorme velocidade.
— Me desculpa, eu VI. ELE SE FOI.
Coloco a mão no olho do Brulio pra mostrar que ele ja havia morrido. Ele fecha seus olhos. Eu permaneço em estado de  quase choro.
— Eu conto pra ele. Eu tomo essa responsabilidade. Como gaudério e amigo do Pai dele, eu quero que o Arthur não perca mais sangue.
— Eu não me perdoaria— Eu falei bem sério pra ela.
Acho que é difícil dizer pra um médico não salvar alguém, mas eu tenho certeza que o Brulho mas iria deixar o Arthur se curar antes dele.
Ela olha para os dois gaudérios caídos no chão.
— Eu também não me perdoaria - ela retira tudo da maleta e tenta desinfectar os três rasgões da face do Arthur.
— Obrigado, por me salvar.— Falei com umas lágrimas nos olhos ao olhar pro Brulho mais uma vez. Ele sempre foi mais próximo do Rodolfo, só que, eu também estava ali. Quando ele me recrutou pra essa idéia eu nem sabia que eu faria parte de algo tão grandioso. Eu me orgulho de ser um gaudério abutre. Por tudo, pela vida e por quem nos amamos.
Olhei a volta e me lembrei dos tempos que tudo começou, cada convite e cada novo membro.
Eu sei que talvez ele soubesse que acabaria assim, porém eu sinto isso doer no peito, a saudade está me rasgando sem dó. Eu sei que eu era um bêbado maldito, que ia la jogar e conversar. Tudo vai ser tão silêncioso sem esses olhos velhos.
Eu olho para o Arthur mais uma vez e até dou um sorriso de leve.
Solto umas lágrimas bem másculas, elas correm pelo meu rosto da mesma forma que eu bebo no bar, as limpo de imediato. Vejo duas pessoas descendo com mais um homem. Eu reconheci ser aquele que jogou contra mim nós dardos.
Ele estava com um rombo na bochecha, cheio de gase e curativos. Aquilo foi de cortar meu coração, só de lembrar como ele era animadinho me deixou bem abalado. No final o que era aquilo? O que é esse bicho?
Olho para a carcaça de gosma preta no chão.
Eu precisei de um tempo para raciocinar sobre o que era aquilo. Quando eu vi aquele homem gosma pela primeira vez eu fiquei chocado, a minha arma mal ficava na minha mão.
E ao ver o caus que estava no andar de cima eu concluí que estava acontecendo fogo amigo. Vi dois dos membros com lágrimas pretas nos olhos.
Aquilo foi bizarro. No entanto  quando eu vi o Brulio mirar no Arthur eu fiquei em choque. Em circunstâncias normais ele jamais faria aquilo.
Eu tentei descer a escada o mais rápido possível. Ivan estava junto do Arthur, quando o Arthur ia gritar meu nome eu vi o Ivan pular na frente do Arthur e levar um tiro na testa e na mesma hora ela estourar.
O Arthur não conseguiu se mover então eu tive que pular do meio da escada até o chão.
Aquele demônio ele tentou me agarrar mas eu enfiei uma bala no seu crânio. Ele ficou meio atordoado, então eu aproveitei a situação para tirar aquela arma do Brulho e ver se ele ta são. E com muito custo eu o imobilizo e grito no seu ouvido.
Após isso uns segundos depois ele acorda e me empurra com toda sua força, eu bato minhas costas em uma mesa.  Então eu vejo a cena:
O demônio havia arranhado a cara do Arthur, o bicho levou um tiro e o Brulho o chutou bem pra longe.
Eu tentei recuperar um pouco de mina saúde e ir até eles.
Eis que eu me decido. Após relembrar essa cena de minutos atras penso se o Brulio aceitou lutar ao lado deles eu vou os ajudar também, aquele doce menino  e o nosso querido Arthur mereciam viver muito mais que qualquer gato velho que nem nós.
Chega perto da "Liz".
— Precisa de alguma ajuda?— Fico mais ou menos da altura que ela tava.
—Não. Quer dizer. Existe um hospital aqui perto. Óbvio que você sabe disso. O senhor pode ir lá? É avisar que chegará um carro com pessoas feridas?
Ele ve o Cesar falar aquilo e entende.
— Claro, eu posso ficar responsável por falar com o Arthur.
Antes de eu sair ela diz com um ar triste:
—Lamento. Eu sei que eles eram a sua família.
Eu só faz um sinal com a cabeça e saio d perto. No final uma hora ou outra algo assim iria acontecer.
Me levanto e vou até a frente, olho bem em volta e vejo as varias motos que ali estavam.
Percebo que minha moto não esta ali e volto.
Isso me doeu um pouco mas eu continuei a agir.
É melhor assim.Cacei nos bolsos do Brulio sua chave da sua moto.
—Me desculpa, eu prometo que te devolvo— Ja falei com o peso na consciência.
A encontrei e sai ali pra fora. Eu avaliei a moto do Brulho, era uma que eu queria comprar, é frustrante a forma que eu consegui andar nessa moto.
Vi entre todos os capacetes qual me servia melhor, no caso foi o do Ivan, isso me foi bem desconfortável, montei na moto e fui em direção ao hospital com a maior velocidade que pude.
Chego la no hospital de Carpazinha. Provavelmente o que eles deviam conhecer e cheguei na recepção.
Eu fiquei meio em dúvida sobre o que falar, mas quando uma enfermeira passou pela minha frente eu Comecei a gritar:
— AJUDA! AJUDA!
Eu consegui atrair atenção de umas três moças.
Elas vieram até mim preocupadas .
— Qual a urgência senhor?
Elas olhavam pra mim.
— MEUS AMIGOS ELES ESTAM FERIDOS, ELES VÃO CHEGAR DE CARRO, POR FAVOR AJUDEM ELES, UM DELES FOI ACERTADO NA CARA POR UMA ONÇA. ELA ERA ENORME E O OUTRO MENINO LA ELE TA COM UM BURACO NA BOCHECHA.
Eu tentei ser convincente, no final, ninguém acreditaria que foi uma figura musculosa com um símbolo na cabeça .
As enfermeiras tentaram me acalmar.
Eu me prontifiquei a ficar responsável pelo Arthur.
E não muito tempo depois eles chegaram e as macas ja estavam a postos.
A movimentação eufórica das enfermeiras me deixou em desespero, vi a imagem do Arthur entrar pra dentro daquele Hospital, aquilo me deixou com as mãos tremendo. Espero que ele sobreviva, se não tudo que ele sacrifícou será atoa. Os outros membros daquele grupo discutem sobre passar ou não passar no hospital. Eu olho para o meu corpo, apesar de estar bem cansado após tudo isso, uma dor nas costas, acho que as enfermeiras precisam focar no Arthur. Fico sem passar pelo hospital, afinal eu ja estava enfaixado, então eu achei melhor não entrar. Então fiquei ali na recepção esperando o resultado. Minha mente estava inquieta, eu não sabia ao certo o que fazer, acabei me lembrando de ligar para a Ivete. Procurei pelos meus bolsos o meu celular,  porém eu não o encontrei. Aqueles desgraçados devem ter me roubado.
Eu lembrava o celular da Ivete. Ela não muda de número. Procuro por alguém mais jovem, normalmente os mais jovens sempre andam com o celular, não havia mais ninguém ali na recepção alem daquele garoto de antes que estava com o Arthur. Ele parecia estar tão abalado com o acontecimento, vi o jeito que ele olhava pro garoto de roupa vermelha, ele deve estar preocupado.
Aquilo me lembrou de alguns momentos que eu tive com o Brulio. Me lembro de quando ele levava uma bala, a gente tinha que correr pro hospital. E foi assim que ele acabou encontrando a mulher dele.
Após esse momento nostálgico eu me aproximei do "Cesar", e pedi por um celular.
— Me desculpa te perguntar, mas você tem um celular? Eu preciso ligar para alguém.
Ele olhou para mim
—Sim claro. Pode usar - Ele entrega o celular a mim ja aberto no telefone no teclado, disco o celular da Ivete e espero ela atender.
[Ligação]
—Alô?
— Alô! Sou eu Gregório.
— Gregorio ainda bem que esta bem! Nossa ainda bem o Brulho e os meninos conseguiram te salvar. Quando vocês vem ? Vocês poderiam me falar o que aconteceu com vocês, se você ta bem.
Ela estava eufórica de felicidade. As palavras mal sairam da garganta após isso.
— Ivete... Eu e o Arthur somos— eu não consigo falar estava com um nó na garganta— nós somos os únicos sobreviventes.
Eu voltei a chorar devagarzinho.Pude escutar do outro lado da linha um choro.
— Não isso não é possível— Ela parece limpar o nariz ela toma um tempo—E como o Arthurzinho ta ?
— Ele ja ta aqui no hospital, um outro garoto aqui da equipe foi ferido. Aquele japonês da blusa vermelha.
Fiquei um pouco calado fechei os olhos e abri lentamente. Eu continuei:
— A gente deve muito a eles, achei que eu não fosse sair vivo dessa. Eu não entendi o que estava acontecendo — pausei pra respirar— Tentaram salvar ele até o final Ivete. Eu vi, eu vi quando a alma dele foi embora, ele parecia feliz, ele deu apoio ao Arthur até o final— Eu seguro o choro bem forte.
A Ivete fica calada na ligação.
— Me manda notícias quando o Arthur estiver bem ou estiver disponível para visita— Ela fala com um tom amargurado.
— Eu falo pode deixar.
Desligo a ligação, limpo as lágrimas e devolvo o celular para o menino. Depois disso eu fui procurar algum lugar para beber água, o nó que estava na minha garganta ja estava doendo.
Eu tomo a água lentamente enquanto vejo o jovem andar de um lado ao outro, ele parecia bem nervos, após ele andar mais um pouco ele resolve sentar.
Coitado, aquele jovem era um anjo, ele deve estar preocupado.
Então me vem um flash na minha cabeça bem rápido da imagem desse jovem em pranto enquanto o outro estava sendo socorrido.
Eu acordei no susto com um tiro vindo ali daquele andar.
Quando esse jovem se virou para mim por causa do barulho que eu fiz, eu vi em seus olhos lágrimas pretas e seu rosto cheio de terror como se ele fosse o culpado. Foi apartir disso que eu percebi que havia algo de errado.
Agora com essa lembrança eu compreendo a dor desse rapaz, provavelmente foi ele que atirou no jovem de blusa vermelha.
Isso me lembrou de mais um momento junto do Brulio, quando ele atirou no Rodolfo sem querer uma vez, ele ficou muito preocupado achando que o mesmo tinha morrido.
Aquilo estava me trazendo mais uma crise de choro. Em toda a minha vida eu nunca chorei como uma mariquinha que nem eu estava agora, eu preciso me recompor. Fui na direção da placa que dizia ser o banheiro masculino, enquanto lavava minhas mãos, olhei no espelho, pensei em como iria falar para o Arthur essa notícia tão trágica. Ele resistiu tão bravamente até antes do momento daquela jovem chegar, parece que ele queria só se certificar que a ajuda chegaria. E então foi embora.
Eu bati com força na pia daquele banheiro.
— Por que? Porquê você teve que partir tão cedo amigo?
Eu só queria beber um pouco de Whisky, sentar la no bar e afundar essa mágoa, porém eu não podia deixar o jovem filho do Brulio desamparado. Na verdade eu não consigo me sentir calmo quanto a isso. Eu jogo um pouco de água na minha cara, olho para aquele espelho sujo, vejo minhas olheiras e os pé de galinha. Como eu tava velho. Como ele era velho. E todos eles, eles acreditavam nele assim como eu.
Eu me lembrei do que o Ivan fez pelo Arthur, vi o Marcelo e o Murilo ja mortos ali no chão.
Aquilo era meu pior pesadelo. Porque eu deveria, talvez eu deva me juntar a eles eventualmente.
Eu sou velho, logo a morte vira me buscar, será que eu devo me aposentar de ser um gaudério?
Digo agora apenas só sobrou a Kelly e o Arthur.
O que vai ser da Ivete?
O Brulio planejava mante-los soltos para eles fazerem seus próprios caminhos. A Jovem ela se formou em publicidade e mora a umas horas daqui.
Arthur planeja ser músico, agora sem sua banda provavelmente ele vai encontrar algo pra fazer. Talvez esses forasteiros se tornem algo pra ele, parecia que eles estavam em conjunto.
Brulio, por quê você confiou neles? Por que estava la junto deles, o que trouxe, o que fez você se meter nisso? O que era aquilo? Quem são esse caras de verdade?
As perguntas, choro, minhas pernas não se aguentaram e eu cai no chão. Segurava na pia mas eu não conseguia. Aquilo havia me feito me sentir sozinho, aquilo estava me fazendo perder o sentido da vida.
Se eu não for um gaudério, se os assombrados não existirem, o que será de mim? Pra que existo?
Eu tento respirar fundo, respiro, e mais uma vez.
Estava inundado em minhas lágrimas e meleca.
Eu nunca abandonaria o sonho que todos nós compartilhavamos. Fazer parte de um lugar, fazer parte de uma gangue. Eles morreram defendendo esse pensamento.
Eu me lembro da expressão que o rosto do Brulio fazia antes de morrer e eu aperto meus olhos mais uma vez. Escuto passos vindos de fora, me escondo nas cabines fechadas e continuo ali a chorar.
Um tempo depois eu saio, lavo meu rosto e mãos mais uma vez, me recomponho, tomo água mais uma vez e me sento la na recepção.
Aquele menino parecia totalmente perdido, pensei em falar pro jovem ali tomar uma água, mas do nada vi a figura daquele jovem, o Thiago, ele era bem interessante. Ele estava com umas sacolas na mão.
Eu me lembro que ele havia entrado para ser tratado também, quando foi que ele saiu?
Ele olha para nós dois com um semblante meio cansado e fala mostrando as sacolas:
— Eu sei que nenhum de vocês está com fome, ou tem vontade de comer, mas eu comprei um salgado pra cada um pra quando estiverem com fome.
Ele entrega para nos dois o salgado e guarda duas sacolas para si.
Olho para aquela embalagem nas minhas mãos e nem ao menos sente vontade de comer. Talvez eu coma mais tarde. Agradeço a ele silenciosamente e desvio meu olhar pro menino.
—Obrigada Thiagão— ele pega na embalagem e fica a olhando pra ela também. Deve ter sido um choque pra ele também.
— Ele vai ficar bem. Ve se descansa— o mais velho consolar o mais novo e logo sair após olhar as horas.
—Assim o espero— O jovem falou meio solitário até que ele me encontrou olhando para ele e seu olhar se fixou em mim.
Eu abri a embalagem e dei uma mordida no salgado.
Tinha dificuldade para engolir, então eu parei de comer e guardei o salgado na embalagem.
—Lamento o que aconteceu na mansão— escutei o jovem falar e olhei para ele que me olhava e logo mudou para a embalagem.
— Todo dia que a gente vivia sendo gaudérios a chance de morrer era a mesma— Ele da um sorriso— Bem que  a gente sabia que nossas mortes seriam para algo tão especial.
Eu só fico calado por um tempo. Olho para todos os lados com o olhar ao chão. Eu podia sentir o gosto da morte na minha boca. No final era para todos nós estarmos juntos né? O Arthur e a Kelly já são  livres desse destino.E após muito tempo calado ele vem e fala:
— Você é amigo do " Joui" né?—Eu me forcei a lembrar o nome do jovem.Ele foi um jogo inevitável e marcante.
Ele fecha os olhos com força para impedir que as lágrimas saiam dos seus olhos.
—Sim, nós somos amigos. Ele é a pessoa que me apoiou desde que estou na Ordem. Eu não acredito no que eu fiz....
Eu não sei o que dizer. Eu não sou o Brulio.
—Ele vai ficar bem, o tiro só passou na bochecha— Eu me lembrei do mesmo acontecimento de anos atrás onde acertaram um dos Assombrados e eles sobreviveram. Aquilo talvez o ajudasse.
—O hospital daqui faz milagres— Ele olha bem pro Cesar e resolve vir  pra mais perto dele— Salva até os inimigos.
—Nada vai ficar bem. Esse é o ciclo da vida. Onde as pessoas pensam que estão bem por não ter feridas exteriores, mas na verdade, todos temos feridas interiores dolorosas. O Joui... Ele nunca me irá perdoar. Eu não deveria estar a falar sobre isto — o César levanta-se do acento onde estava sentado e caminha para perto de uma janela pequena —você deveria se cuidar. A Liz disse que estava bem ferido em estado de vida-morte.
— Eu ? Eu vou ficar bem, eu vou até beber com a Ivete— ele para um pouco— Bom, acho que se você for que nem o Brulho certamente o jovem não vai te perdoar.
Eu vou até o bebedouro mais uma vez. Essa conversa não me é estranha. E nem agradável.
— Seus amigos vão te punir por fogo amigo?— Perguntei por curiosidade. A gente acabou não punindo o Brulho também, ele era nosso lider.
Essas memórias me trazem nostalgia.
Eu vi o rosto dele  se transformar para falar mais uma vez comigo o seu corpo me trazia repulsa.
—Para quê punir as armas quando elas são as que nos protegem?
— Eu não falo isso por menos, existem grupos que fazem isso, não é o caso de vocês— Eu vejo o desespero do jovem e vejo a cagada que falei. Eu não sirvo pra conversar. Se eu não consigo conversar com esse jovem com o Arthur vai ser a mesma coisa.
— No final, o que são vocês e porque o Brulio tava la ? O que era aquele músculo preto?— tentei mudar o assunto pra ver se melhorava.
Ele desvia o olhar e fala num tom calmante:
—Somos apenas um grupo de pessoas no mundo que tenta salvar vidas de pessoas que são vítimas de criaturas como aquelas. Sim. Parece meio impossível mas você lutou contra criaturas, não as mais fortes, mas não é alucinação da sua cabeça. Vamos controlar tudo isto, depois de estarem todos bem.
— O que o Brulio decidiu ? Pelo o que conheço ele, ele não iria se envolver se não tivesse os assombrados— Ele se lembra de uma pessoa— E aquele velho musculoso, O Christopher, ele também estava la? Eu não vi ele.
Vejo o jovem cravar as suas unhas nas palmas das suas mãos, causando alguns fios de sangue, aquilo me fez me sentir culpado. Eu falei algo errado?
—O Brulio sempre nos apoiou. Ele sempre nos ajudou! Ele é esse tipo de pessoa, posso não o ter conhecido à muito tempo mas eu sinto isso! Eu sinto que ele estaria sempre lá connosco para lutar e não deixar ninguém morrer. Mas quem acabou morto foi ele! Você viu o que aconteceu! Não precisa que eu narre! - ele fecha os olhos mais uma vez - o Arthur vai saber o que aconteceu e vai estar em dor. Em vez de me questionar o que aconteceu como se você não estivesse lá, dê apoio ao Arthur. Christopher? O meu pai ele lutou igual ao Brulio, ambos são heróis que nunca vão ser esquecidos, nem por mim, nem pela ordem.
Morreram em nome da ordem! Para salvar todos os que estavam em perigo!—ele coloca uma mão que estava a escorrer sangue na sua face para limpar as suas lágrimas quentes. Ele desviou seu olhar Ele não olha mais para mim. Eu fiquei destruído.
Ele da uma leve batida no ombro do Cesar mas logo volta a si e volta a chorar compulsivamente que nem estava no banheiro ele se afastou mais.
Eu sou muito ruim. Se não for pra beber eu não sirvo de nada.
— Desculpa... Eu não sou inteligente que nem ele.
Ele vai em direção ao banheiro mais uma vez.
Eu caminho apressadamente em direção ao banheiro masculino do hospital, é um local bem agradável. Os azulejos azuis eram o que dava cor ao local. Era um espaço bem vazio, apenas com duas pias de cerâmica branca, com um espelho partido pendurado em cima.
Olho para o meu reflexo. Quem sou eu? O que eu estou a fazer? Oh Brulio o que é que eu faço agora? O que faço sem ti? Tu eras o meu ponto seguro. O local mais seguro. Eu sinto um vazio enorme a consumir todo o meu ser, não sinto nada. Apenas sinto caminhos de lágrimas quentes a escorrer no meu rosto até caírem ao chegarem ao meu queixo. Não estou no meu corpo.Eu estou partido! Em todos os sentidos possíveis de se imaginar. Eu estou em dor. O meu reflexo? O que eu vejo? Um homem completamente perdido. Eu não quero morrer. Talvez. Só quero que as vozes da minha cabeça parem de ecoar, eu não sei mais quem sou eu.
Sinto a minha mão a procurar algo no meu casaco de couro, sigo o movimento sem qualquer consciência. Uma faca velha é retirada, o seu cabo totalmente detalhado com duas letras escritas "B & G", a faca que o Brulio me ofereceu quando entrei nos Galderios. Um sinal de que ele sempre estará lá para mim. Ele confia em mim. São nossas iniciais.
No espelho eu vejo a lâmina a se aproximar. Eu fecho os olhos. Não é isto que eu devo fazer. Ele não queria que isto acontecesse. Preciso de proteger o Arthur, é isso que me vai dar forças. Aquilo que me vai fazer sentir vivo. Não posso desistir tão facilmente. EU NÃO QUERO ISSO!
Jogo a faca no chão para ficar mais afastada do meu corpo. Não quero a morte! EU QUERO RESPOSTAS! Eu preciso recomeçar, me entender.
Vejo que alguém entrou no banheiro. Thiago. Eu não estou bem.

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