O segredo entre nós

Os inimigos da vida

Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida. Afinal ela é a mais misteriosa fase da vida. Ou do final dela. Ninguém sabe o que vem a seguir à morte. Ninguém sabia o que era a morte. Nem mesmo eu. Antigamente eu não tinha medo da morte. De morrer. Sempre achei que a morte era algo impossível de acontecer, até ver pessoas morrerem ao meu redor. Até ver a morte com os meus próprios olhos. Afinal, eu estou frente a frente com ela. Hoje é o dia do meu perecimento. 

Mas eu tenho de viver certo? Viver significa lutar. E é isso que eu vou tentar fazer neste momento. Tentar existir. Tentar sobreviver. Tentar sair vivo. 

Corro o mais rápido possível para ter uma melhor visão do acontecimento. 

Uma grande tensão é lançada no grande salão da mansão. Uma porta é aberta com um estrondoso ruído de madeira a rachar, de seguida um grito masculino. Olho para os lados com o intuito de tentar entender o que está a acontecer. Sem qualquer sucesso. Subo as escadas até o patamar de cima, onde vejo o Thiago e a Liz com as suas armas nas mãos e mais ao fundo da sala perto de uma janela tapada por tábuas de madeira escura o Joui com um ar assustado mas preparado, não vejo o Arthur em lado nenhum. Não tenho muito o que fazer. Coloco-me em um local que me solicita uma visão incrível do andar debaixo. Eu não acredito no que vejo. Penso até por momentos ser uma alucinação minha. Uma criatura, nunca vista por mim. E pelos vistos, nunca vista pelos elementos da Ordem. Ela se assemelha a um ser humano, mas a sua anatomia é completamente diferente. O seu corpo musculoso é feito do lodo negro e na sua parte superior uma caveira bem detalhada, tinha o símbolo esoterrorista vermelho cravado na parte frontal. O símbolo era bem desenhado, até os mais pequenos pormenores estavam perfeitos. Ele andava com um ar arrogante. Triunfante. Ele sabe que vai ganhar a luta. Ele vai sair vitorioso. Digo, é impossível sairmos desta batalha ilesos. 

Para além da criatura, também temos alguns Assombrados que chegaram ao ouvir os tiros de uma batalha anterior. Mas sem dúvida que eles são os nossos menores problemas. Comparado com toda a situação. Relembro que todos os meus companheiros estão feridos. Todos menos eu. Eu tenho essa maldição. Vejo todos feridos. Vejo todos precisando de ajuda. Vejo todos morrendo. E eu fico sempre bem. Não entendo. Não estou a dar o meu melhor? 

Seguro a minha arma bem firme. Observo em total silêncio os acontecimentos no andar inferior, a criatura apenas caminha pelo chão de madeira apodrecida, a cada passo seu, um pequeno som é ouvido. A adrenalina no meu corpo sobe. Tiros podem ser ouvidos. E gritos também. Diria que pelo menos dois Assombrados já eram. E infelizmente um dos Galdérios também, vejo o corpo de um homem de jaqueta de cabedal preta - Marcelo

Com fúria o Brulio apontou a Magnum para a criatura, o tiro acertou no seu ombro, a bala atravessou a sua camada de lodo com facilidade, o que fez a criatura olhar para ele dando um berro arrogante. Admito que me fez estremecer. Mas não vou mostrar ponto fraco. Preciso de manter o foco. Olho para os lados tentando encontrar algo para me proteger caso necessite. Sem sucesso, mais uma vez. Sinto que cada vez que encontramos uma nova criatura só nos damos mal. Volto os meus olhos para o Brulio. Por minutos ele fica paralisado. Perplexo com o olhar fixo na criatura. Mas de seguida, volta ao ataque, dá-lhe mais dois tiros, um deles certeiro, acabando por arrancar uma parte do crânio amarelado. Sorriu. Talvez sejamos nós os verdadeiros vencedores.

O Thiago atira junto com a Liz. Faço o mesmo, mas não acerto o primeiro tiro. O nosso tempo foi passando e a criatura continuava de pé. Perdemos mais dois Galdérios. Talvez eu tenha falado cedo demais sobre sermos vitoriosos. Fecho os olhos para me concentrar. Preciso de atirar, mas para isso tenho de ter uma mira perfeita. Eu sei que consigo isso. Preciso apenas de concentração. Precisas salvar os teus amigos, César, os teus colegas. Devo isto à Ordem. Devo isto a Chris. Tenho de ser como ele neste caso. Dar a minha vida por eles. Sacrifício. É essa a palavra.