O meu dever a minha emoção

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Por que quanto mais temos para dizer, mais difícil é de falar?

Tenho tanto para dizer às pessoas ao meu redor. Dizer que estou sempre aqui. Dizer que não vou deixar mais ninguém para trás. Dizer que as amo. É tão difícil dizer tudo isto. Especialmente nas nossas circunstâncias do momento. Tenho medo de os perder e não poder dizer nada. Dizer aquilo que sinto de verdade. Tenho medo de não poder dizer mais nada a ninguém. Palavras não ditas, ficam presas na nossa garganta e nunca saem. Mesmo que eu tente. Mesmo que eu queira. Nunca é o momento de elas saírem. Nunca é um bom momento para as dizer.

Talvez seja esse o grande motivo de eu estar assim. Mais emotiva. Mais preocupada. Mais com contacto humano. Talvez eu não consiga dizer como me sinto a relação a eles. Mas posso demonstrar que me importo. E muito. Talvez a missão passada tenha trazido esse meu lado. Sobressaindo esse meu lado. Se eu tenho que mudar? Talvez. Talvez não seja bom estar emotiva. Tenho menos concentração quando estou mais ligada ao emocional. Devo voltar ao meu normal. Ou, o mais comum para mim. Tenho de ser racional. A mente à frente do coração. A lógica à frente da emoção. Só assim é que vamos conseguir desvendar tudo isto. Todo este mistério. Não posso desistir agora. Preciso de salvar as vítimas. Não me posso tornar em uma.

Estou sentada em uma cama pequena e desconfortável. É o normal de um hospital. O quarto onde estou é bastante amplo, mas o seu espaço é muito pouco aproveitado. O quarto em geral tem apenas uma cama, um modesto sofá e uma minúscula mesa de cabeceira feita de madeira castanha. As suas paredes eram brancas, tal como maior parte da estatura do hospital. 

Olho para os meus curativos, o meu ombro foi cosido novamente, a linha estava a autropassar a minha pele quase como invisívelmente, ainda é possível ver alguns fios de sangue, mas são ínfimos. As minhas costelas laterais direitas já não doem tanto como na mansão onde estivemos anteriormente. As enfermeiras fizeram um bom trabalho. Espero que estejam a fazer um bom trabalho, também, nas cirurgias do Joui e do Arthur. Espero que eles fiquem bem. Fiquem vivos. Eles já passaram por muito. Nós todos passamos por muito. Começo a pensar que não foi uma boa ideia ter entrado para a Ordem. Mas o meu pensamento sempre volta para o dia da morte da minha mãe. Esse dia sempre ficará marcado na minha memória. O dia onde eu vi o meu mundo desmoronar. Onde eu vi a pessoa que eu mais amava morrer. Eu tinha a certeza que algo paranormal acontecera. Ainda tenho essa certeza. Espero que eu consiga desvendar esse mistério. Eu devo isso a ela. Devo isso à minha consciência. Oh mãe, sinto tanto a sua falta. O que é que eu faço? Sigo o meu lado emocional? Ou o meu lado racional? Possivelmente irias dizer para seguir o meu coração, tal como os atores mais famosos dizem em filmes que gostavas de ver. Mas eu não sou uma atriz. Eu sou humana. E estou confusa. O que o Thiago pensará sobre isso? Eu gostaria de falar com ele, tirar alguns pesos da consciência. Falar o que sinto. Falar o que penso. Falar o que sinto em relação a ele. Eu deveria fazê-lo o quanto antes. Mas para ser sincera nem eu sei o que sinto. Porquê que é tão complicado saber? 

Quero dizer, deve ser o meu lado emotivo a falar, afinal ele foi o único que ficou ao meu lado, sofreu o que eu sofri. Ele faz-me sentir bem. Sentir viva. Eu não sou de me apaixonar. Porque eu não quero magoar ninguém. E eu tenho a certeza que eu o faria a Thiago, ou a qualquer outra pessoa que eu ame. De qualquer das formas nós não podemos nos relacionar. Foi feita uma regra. É o melhor para nós. A imagem de Alex, um homem negro com um olhar traumatizante, apontava a sua arma na cabeça, está presente na minha mente. Ele viu o homem que amava morrer. Daniel. Era o nome do homem que Alex amava. Não aguentou a dor e tirou a sua vida. Eu tentei impedir. Eu tentei o salvar. Mas mais uma vez, não consegui fazer o meu trabalho. Eu sou a culpada pela sua morte. Eu poderia ter feito algo. Mas não o fiz. Eu me sinto culpada. Alex. Desculpa. As lembranças trazem sempre lágrimas. Mas dizem que é bom chorar. Limpa a dor. Limpa a alma. 

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