De noite os defeitos se ocultam.
Os mais graves defeitos.
Os defeitos de todos. Os defeitos da noite.
Tudo à noite é belo afinal. Desde da longa escuridão à gélida madrugada. Mas eu tenho medo hoje. Mais uma vez eu sinto medo. A noite não consegue esconder isso de mim. Nem pode esconder os mistérios desta mansão e do que está à sua volta. Eu realmente não faço ideia do que poderá acontecer agora. Caminho por alguns caminhos de erva alta, em cima da minha cabeça existia um céu azul escuro com pequenos pontos brilhantes espalhados pelo mesmo.
Vou ao encontro dos outros, eles estão a carregar as suas armas junto ao carro preto, o que me fez fazer o mesmo com a Magnum do meu pai.
-Antes de irmos, quero lembrar. Nada de movimentos bruscos, podemos não estar sós! Se houver algo suspeito não devemos encostar. E claro, o mais importante. Devemos ficar seguros, se alguém precisar de ajuda não hesite em pedir - eu anuio com a cabeça, eu devo seguir as indicações deles se quero sobreviver mais uma noite.
-Claro Liz, isso também se aplica a você. Não hesite em pedir ajuda - fico meio surpreso com a exclamação do Thiago para a Liz. Ela precisa de ajuda? Alguém precisa de ajuda? Ela apenas ignorou e caminhou para a frente. Eu segui-a, claro. Não vou ficar para trás num momento como este--em uma casa abandonada de noite onde pode haver manifestações paranormais a qualquer momento. Não quero ficar sozinho!
Atrás de mim vejo o Joui a caminhar em passos largos para o lado da Liz, deixando-me na fileira de trás com os outros. Seguimos por alguns minutos por um relvado ralo, que, começou a tornar-se apenas terra fina. Sinto um grande arrepio. Está mais frio do que o normal. Será que tem haver com a membrana? Eu não entendo muito mas...
-Existe uma fina névoa aqui, algo me diz que estamos no local certo para atos paranormais - diz a Liz colocando uma das suas mãos perto do solo arenoso - Isso responde perfeitamente à minha questão anterior. Mas eu tenho mais uma questão agora. Talvez mais mas estas são bem importantes para o momento. Que mistérios escondem aqui? Estamos em perigo?
-Ah, senhorita Liz?
Ela direcciona rapidamente o olhar ao som da voz.
-Sim Joui?
-Acho que parte da névoa vem dali - ele aponta com o indicador para um espaço onde a terra parece fresca, como se alguém tivesse cavado recentemente no local.
Sinto uma troca de olhares entre o Thiago e a Liz. Só eu que acho estranho tudo isto? Que segredos é que eles escondem? Digo os elementos da ordem!
-O que te parece? - interroga Thiago
-Não sei dizer ao certo nesta distância, mas parece que foi cavado recentemente, se repararem bem a terra está mais fina e com uma cor mais forte- ela se expressa muito com as mãos o que nos ajuda a entender melhor - Não queria chegar a esta conclusão tão rápido antes de observar melhor, porém, parece ser uma cova. Parece ter - ela calcula rapidamente um número olhado para o local - 1.70 de altura.
-Será que alguém foi enterrado ali?
-É isso que eu vou descobrir.
-Espera, espera, espera. Vamos desenterrar um corpo? - pergunto indignado.
-Pode não ser um corpo Arthur
Sempre simpático não é César? Chega de sarcasmo nestas situações!
Eu fico mais nervoso do que estou...
-Ele tem razão, pode não ser um corpo. Não morto. Seja o que formos encontrar tenham cuidado.
A Liz começa a caminhar com passos delicados até à suposta cova. Cada vez que ela pisava o solo, deixava pequenas pegadas. Ao contrário do Joui que não deixa praticamente nenhum rastro.
-A Terra está bastante fresca - os seus olhos estavam arregalados. Estava confusa, aposto. Também o estou. As suas mãos cobertas de terra, começam a escavar, fundo e mais fundo, o Joui ajudou-a. Passado algum tempo ouvimos um som.
-Eu encontrei algo senhorita Liz!
Tensão. Sim. Era o que pairava no ar agora.
-Joui vamos retirar os dois com cuidado tudo bem?
Ele aceita. Eles, com pouquíssima força conseguiram trazer o "Tessouro escondido". Eu sei não é tempo para piadas. Eu estou nervoso não me julguem.
Eles limparam com as mãos o objeto para melhor visualização do mesmo.
O meu olhar paralisou. Um caixão?
-Um caixão? Senhorita Liz?
-Calma, vamos ter todos calma.
-Tu não pareces calma.
-Eu estou calma Thiago! Estou a pensar! É isso que eu faço! - faz uma pausa - é um caixão velho, as madeiras estão apodrecidas, se alguém tocar com muita força elas quebram com facilidade. - ela demonstra o que diz com uma tábua já solta no lado direito - O caixão também está leve o que me leva a duas hipóteses - diz olhando para nós
-E quais são? - pergunto
Ela suspira.
-Ou o corpo está em um nível de decomposição muito avançada, ou seja, em que o corpo já não tenha qualquer tipo de carne ou músculo, apenas o esqueleto e talvez alguns fios de cabelo e peças de roupa humedecidas ou nulas. E a outra é... - ela abre o caixão com medo, à medida que abria, as placas de madeira partiam-se fazendo um som abafado não muito alto- não ter nenhum corpo.
Todos nós olhamos por dentro do caixão. Liz tinha razão. Nada estava lá dentro.
-Isso não faz sentido, quem enterraria um caixão velho atualmente? - começo César
-Talvez faça. Eu trabalho na ordem à algum tempo e aquilo que eu aprendi é que existem pessoas que adoram enfraquecer a membrana com lendas, o Virgulino, pelos vistos é uma lenda poderosa, digo, uma lenda que se espalha facilmente em Carpazinha. Se a minha teoria não estiver errada, esta poderá ser a casa dele. Coisas paranormais vão acontecer, aliás a névoa é um sinal disso - finalizou o Joui.
Ouve um silêncio.
- Não poderia concordar mais Joui, temos de seguir em frente. Não vamos estar a perder tempo com um caixão vazio, enquanto temos uma casa cheia de documentos importantes!
-Tens razão. Bom trabalho Joui!
-Obrigado! Aprendi com os melhores - ele sorri meio tímido. Ele confia muito neles... Devo confiar também? Deus não sei!
Eu estou preocupado. Um caixão vazio com uma névoa a esvoaçar no ar. Isso não pode ser um bom sinal. O que devo fazer? Em quem devo acreditar?
Sim, eu sei subconsciente, eu questiono muito. Mas se eu não questiona-se tanto, talvez seria um homem morto. Talvez eu fosse o homem daquele caixão. O dono daquela cova.
Pelo caminho encontramos várias garrafas vazias partidas por todo o terreno à volta da casa, várias revistas mais indecentes e explícitas e sem falar do cheiro a urina e a álcool misturado.
-Não tem ninguém nas redondezas. Por sorte.
-Vamos avançar então.
Entramos com confiança na mansão e aquilo que eu vejo é aterrorizante.
Não o aterrorizante assustador. Não. Algo como... Foi uma surpresa que eu não esperaria ter.
A casa estava cheia de símbolos estranhos desenhados nos móveis, que acredito que sejam dos esoterroristas, o chão de madeira apodrecida está coberto de papéis e por vários cacos de vidro de garrafas.
Nesse espaço existiam várias estantes que decerto têm informações importantes. A nossa busca insana começou. Dividimo-nos por toda a sala. Eu comecei por ver uma estante que estava ao lado de um pequeno sófa. Achei alguns documentos que julgo ser importantes ou que apenas chamaram um pouco a minha atenção . Espero que todos acabem de fazer as suas indagações para podermos partilhar tudo.
Quando todos estavam prontos, começamos a falar sobre tudo o que descobrimos. Vários documentos são colocados em uma pequena mesa:
algumas páginas rasgadas e riscadas, uma fotografia a preto e branco de 2 mulheres uma mais nova do que a outra e junto a elas um homem alto e, também, alguns papeis a falar sobre "cobaias", onde em um papel estava desenhado uma grande aranha negra com o sinal esoterrorista no seu casulo e em baixo da mesma aranhas menores, em uma outra folha despedaçada, estava desenhado uma caveira, também com o símbolo esoterrorista cravado na sua parte frontal.
-Cobaias? Com o quê que estamos a lidar? - questiono a olhar para os papéis que chamaram mais a minha atenção.
-Estamos a lidar com criaturas criadas por seres humanos - responde rapidamente a Liz
-Seres humanos? Eles nunca o serão. Não sejas tão simpática com eles Liz! Eles são monstros a criar monstros e nada mais.
-Não Thiago - começa ela - eles são humanos, têm carne e osso, tem coração e cérebro, eles apenas não os usam, não de forma correta. Eles são como nós, eles fizeram as suas escolhas e tiveram as suas consequências. Tal como nós. Nós somos humanos. Eles são humanos. Sei que tens rancor, eu também tenho. Mas eles não deixam de ser humanos e nunca deixaram de ser - ela segura o ombro direito do Thiago que está pousado com as duas mãos na mesa de cabeça baixa.
Nunca pensei que a Liz fosse boa com palavras. Sempre pensei que o Thiago fosse o melhor nesse assunto. Ou o Joui talvez? Aliás o que se passa com ele?
-E quem são as pessoas da fotografia? Virgulino com a sua esposa e filha?
-Eu penso que sim Joui - concorda César - mas não podemos precepitar as nossas decisões sobre isso, temos de investigar fundo.
Mesmo a fotografia sendo em preto e branco é possível imaginar cores, as duas mulheres loiras, com peles claras e com longos vestidos azuis a condizer. O homem tinha uma barba rala e cabelo castanho, as suas roupas eram banais, digo para a altura. Eles pareciam felizes. Eles eram felizes?
De longe era possível ouvir uma batida. E logo a seguir outra. E outra.
Vem de uma sala no canto superior direito.
Todos trocamos olhares.
Deslocamo-nos até à sala.
-Eu vou abrir a porta, preparem as armas caso algo aconteça.
Colocamos as armas apontadas para a porta. O Thiago chutou a porta e ouvimos um grito.
É um ser humano. Não é uma criatura!
Eu conheço aquele grito de algum lugar.
-Gregório?
Eu largo tudo, empurro o Thiago para o lado, ele quase caiu. Por detrás da porta estava um corpo ensanguentado, mas com vida. Gregório.
-Meu Deus o que aconteceu aqui? Gregório?
Ele mal abre os olhos. Mas tenta falar. Eu dou-lhe uns minutos.
-Arthur?O que fazes aqui? Temos de sair aqui é perigoso!
-Perigoso? O que te aconteceu?
Eles entram, o Joui e o César ajudam-me a levantar o Gregório, Thiago e Liz foram para um canto oposto.
-Sim Arthur! Perigoso, nenhum de vocês deveria estar aqui.
Percebi que os outros sussurram fora do nosso alcance:
-Um cadáver de um Zombie de sangue? O que eles fazem aqui?
-A sala está coberta de sangue, o senhor Gregório está completamente ferido.
-Achas que foi ele que matou o Zombie?
-Pelo estado dele diria que sim. Tenho que cuidar dele antes que ele fique pior ou que morra.
-Concordo. Vamos ajudá-los
Eles se aproximam de nós e eu desvio o olhar rápidamente para o Gregório.
-O que aconteceu aqui? - pergunto mais uma vez
-Uma luta Arthur. Uma daquelas! Mas o meu adversário não era um Assombrado... Era uma espécie de criatura? Que loucura eu devo estar a alucinar! Como eu estaria a lutar com uma criatura? - ele começa a rir, mas ao sentir dor pára - foram os Assombrados que me trouxeram para aqui. Passei dias preso nesta sala. Sem ver luz. Sem comer. Eu vou matar aqueles....
-Senhor Gregório? Por favor venha comigo, irei tentar cuidar dos seus ferimentos.
-Não precisa cuidar de nada, eu estou bem!
Ela torna-se em outra pessoa. Com uma simples troca de postura.
-Com devido respeito senhor, se eu não tratar rapidamente das suas feridas o senhor pode morrer! Eu sou uma profissional no assunto e sei bem o que irei fazer. Você confia em mim?
Ele olha para mim. Eu aceno com a cabeça.
-Muito bem então... Nesse caso. Eu ajudo a levar o Gregório para um local mais aberto. A Liz pediu para o pousar atrás de umas escadas semi-espirais. À medida que o vou colocando no chão ele fecha os olhos lentamente.
Eu só sou capaz de pensar no que ele passou. Eu sei é imaginável. E eu não estive aqui para o ajudar.
-Ele desmaiou - enuncia Liz - ele está cansado é normal, eu vou cuidar dele não se preocupa
-Eu sei que sim - eu dou um sorriso - Obrigada por ajudar o Gregório.
-É o meu trabalho - ela olha para o vazio - tirando quando estou na morgue. Onde só sou eu e os cadáveres. Eu não cuido deles. Eu só desvendo os seus segredos e histórias. Com vivos é diferente. Podem ser eles a contar o que aconteceu. É bem irónico às vezes.
Ela tem razão, mais uma vez. Penso como será o seu dia a dia. Acordar e ver pessoas mortas de manhã até à noite. Ver suas entranhas, cortar sua pele. Que profissão horrível. Talvez seja por isso que ela é tão fria às vezes.
Ficamos em silêncio. Novamente. Eu estava a assistir a Liz, ajudando-a em tudo o que pude, os outros estavam a explorar a casa. Até que, claro o sossego tinha que acabar, ouvimos motas no lado de fora da mansão. Reconheço bem aquele som.
São as motas dos Assombrados. Elas têm um som diferente das dos Galderios.
-São os Assombrados! O que fazemos?
Eles se entre-olham.
-Claro que não seria tão fácil! Vamos proteger o Gregório. Preparem as armas, vamos para a batalha mais uma vez - as palavras saem calmamente da boca do Thiago. Ele é uma espécie de líder? Se for ele está bem no papel!
Carregamos o Gregório mais para dentro das escadas, ficando quase invisível aos olhos de quem entrasse. Ele ainda está muito ferido. Coloquei a Magnum na minha mão, ela está pronta para atirar.
-Qual é o plano afinal?
-Esconder seria uma boa opção - digo
-Concordo com o Arthur. Espalhem-se pela sala!
Por incrível que pareça todos corremos para o mesmo lugar. O Thiago ficou ao lado da Liz por detrás de um sofá. Eu fiquei com os rapazes atrás de um outro móvel presente na sala. A porta prencipal abriu fazendo um estrondo. Quatro homens musculados e bronzeados entraram em cena.
Todos eles com tatuagens de serpentes pelo corpo, as suas vestimenta de couro rasgadas mostrando melhor os seus braços. Um deles, um homem mais baixo, com uma cobra esverdeada a cobrir a sua cabeça. Eu sei quem ele é. Rodolfo. Bem vindo de novo ao meu mundo.
Eles começam a caminhar com longos passos pesados pelo chão de madeira que chiava. Eles sabiam que nós estávamos ali. Eu sei disso.
-Teremos mais convidados para a luta hoje!
-Vá lá apareçam, vocês são os convidados de honra!
Eu odeio-os tanto. Sempre a pensar que são superiores. Não vou deixar que isso aconteça.
-Ouvi dizer que sou bem vindo aqui? - digo saindo do meu esconderijo
-Arthur o que estás a fazer? - pergunta-me César a sussurrar
-Olhem só quem está diante dos meus olhos. Pequeno Brulio?
-Não me chame assim, não tem esse direito!
-Direitos? Quem precisa deles? - Rodolfo retira a sua Pistola Glock negra - Eu não uso direitos pequeno.
Vejo a Liz a sair do esconderijo e põe-se à minha frente.
Ela está a proteger-me? Porquê?
-A amizade é linda realmente. Pena que maior parte das vezes nunca é real, apenas uma ilusão de um ser humano - ele caminha de um lado para o outro com a arma na mão - e normalmente termina com a morte de uma dessas pessoas. Trágico não é? Foi demais? - ele ri com o seu comentário.
-Não, por favor, dê-nos mais - Diz Liz destemida, como é que ela consegue?
Ele apenas aponta a arma para ela.
-OH! Assim está melhor? Digo, mais perturbador?
-Não, eu disse mais! - continua ela.
-Liz? O que estás a fazer? - pergunto preocupado
-A dar tempo ao tempo. Quando ele atirar... Se ele atirar foge, não vou te colocar em perigo, devo isso a Brulio. Por favor - diz num tom baixo.
-Vamos deixar isto um pouco mais divertido? - O Assombrado está prestes a premir o gatilho, ele avança o dedo lentamente. Minutos parecem horas neste momento.
A Liz não pisca, apenas encara o Rodolfo com fogo nos olhos. Ele finalmente prime o gatilho. A bala dourada sai do cano da arma girando pelo ar eu corro para trás do sofá, a Liz também o tenta fazer mas a bala a atinge mesmo assim.
Ela cai de joelhos agarrada ao ombro, os outros saem e começam a disparar. Uma grande luta começa. Ecoaram vários tiros, algumas balas perdidas podem ser vistas. O Thiago conseguiu derrobar um deles, um homem com uma barba ridiculamente mal cortada, o César consegui ferir dois e o Joui está a ajudar a Liz a se proteger. Eu? Bem... Estou escondido.
Ao som de inúmeros tiros, ouve-se outro som distinto, totalmente diferente dos de arma. Um som mais ruidoso. Parecia uma porta a ser arrombada. Mais? Meu Deus! Estou a dar em louco! O som é proveniente de uma porta perto das duas grandes escadas principais no fundo do grande salão onde estamos. Uma porta voa. Ou parte dela. Vejo um grande monte de carne vermelha e veias a sobressair, uma criatura enorme com garras negras e pontiagudas, ela movia-se como um autêntico animal selvagem. A criatura é idêntica à que estava morta na casa de banho onde encontramos o Gregório. Ela corre em direção ao Joui.
-Joui cuidado! - grito com a adrenalina, acelero até ele com a Magnum na mão.
Ele repara mas não consegue esquivar-se a tempo, a criatura está em cima dele neste momento. Um grito de dor pode ser ouvido. Joui não! Eu, com a emoção atiro na criatura. Três tiros e errei todos. Boa Arthur.
Recarrego rapidamente a arma e atiro mais uma vez. Olho nos olhos da criatura.
E com um tiro, desta vez certeiro, acerto na criatura. Ela cai sem vida em cima do Joui.
-Meu Deus Joui! - eu vou em sua direção, o seu corpo está todo ferido. Já chega de pessoas feridas hoje!
-Eu estou bem trata dos Assombrados!
Confirmo com a cabeça apontando a arma para um dos Assombrados. Desta vez vejo um homem com uma pele mais bronzeada com uma cobra desenhada simetricamente em um dos seus braços. Acerto. Ele cai morto no chão. Apenas resta mais um - Rodolfo
-O objectivo é matar todos Arthur? O que ganhas com isso? É que eu ganho tudo!
Eu sei o que ele está a falar. São eles. Eles querem enfraquecer a membrana do nosso mundo, tal como o Thiago disse. Tal como a ordem profana.
-Eu posso não ganhar nada. Mas não tenho nada a perder - digo com fúria. A causa de maior parte das mortes foram eles! A fraca membrana. Os monstros. Não posso admitir isso! E tendo-o à minha frente, tão perto, eu posso vingar a morte de várias pessoas!
-Além de uma peste é um assassino o teu pai deve estar tão orgulhoso de ti. Não é menino prodígio?
-Não reajas. Reagir com raiva não é nada! - Thiago exclama com uma voz bem clara ao meu lado. Ele tem razão. Eu posso amar sentir. Eu posso amar as emoções. Mas reagir com raiva não é nem mesmo uma opção. Ele coloca a mão dele na minha Magnum baixando o cano para o chão. Ele aponta a sua arma.
-Arthur? A decisão é tua. Não vou deixar tu matares mais ninguém. Tu não és um assassino. Tu não és como nós!
Eu reflicto e fecho os olhos e digo baixo. Eu não sou um assassino é verdade. Mas eles também não o são!
-Atira - digo sem piedade alguma.
O gatilho foi pressionado bem antes do meu consentimento, o Rodolfo nem notou que o Thiago aponto a arma para a sua face sorridente. E sim. Ele morreu. O seu corpo caiu duro no chão junto de um dos Assombrados.
A Liz corre na direção dos feridos, digo por outras palavras - foi socorrer o Joui que pediu para cuidar primeiro do Gregório.
Olho uma última vez para os corpos. Merda. Kelly. Desculpa. Mas precisamos de o fazer, ele ia-nos matar. Ele ia-me matar. Não tenho o direito de tirar a vida de ninguém. Nem mesmo de um criminoso como Rodolfo. Desculpa. Não me culpes pelas minhas ações. Pelas minhas escolhas.
Eu e o pessoal que não estava ferido colocamos os corpos mais para o lado, para não atrapalhar futuras batalhas. Tal como previsto os galderios chegaram ao ouvir tudo. Tentei explicar ao meu pai o que aconteceu. E cheguei a contar sobre o Rodolfo também. Falei do Gregório e do estado de saúde do mesmo. Ele aceitou tudo com um olhar severo.
-Vamos nos preparar! Não podemos correr mais riscos esta noite
-Thiago antes de o fazeres, podes me ajudar com o Gregório? - exclama Liz
O Thiago não a ouve. Ou apenas ignorou. Continuou a empurrar móveis pesados para o chão e para algumas portas.
Ela olha para o chão arranjando forças para carregar o homem sozinha.
-É por isso que não peço ajuda - sussurra
Eu ia ajudá-la mas ela é bem forte e carregou-o sozinha até um local mais tranquilo.
Após isso concordamos e formamos barreiras protectoras com algumas mesas e sofás.
Vi que a Liz estava bem aterefada a cuidar do Joui, retirando vários utensílios da grande e simples maleta médica. Sendo que ela também está ferida. Ela salvou-me. Eu poderia ter levado aquele tiro.
-Eu posso ajudar? Eu não aceito um não como resposta.
-Então porque perguntou Arthur-San?
Sorriu. Eu quero parecer mais maduro para eles. Faz sentido?
-Não se preocupa Arthur está tudo controlado. Aliás o Joui é o meu prodígio, eu não ficaria bem se não fosse eu a cuidar dele.
Vejo um sorriso enorme a aparecer na cara do Joui.
-Eu entendo Liz. Mas tu salvas-te me! Diria que impedis-te a minha morte. Tu estás ferida deixa me ajudar - eu começo a agarrar algumas ligaduras e coloco para fazer pressão no vazamento de sangue do Joui, vejo que Liz analisa com bastante interesse todos os meus movimentos.
-Desculpa a pergunta mas, onde aprendeste medicina? Pode ser bem básico o que estás a fazer mas a precisão com que realizas é como se fosse profissional!
-Bem, eu não sou profissional, isso eu garanto - olho para ela que estava atenta - eu aprendi um pouco mais de medicina com a minha mãe. Ela era uma enfermeira muito experiente e amava o que fazia. Eu sempre pedia para ver e para me explicar quando cuidava dos meus ferimentos e do Henrique. Ela realmente era muito boa no que fazia - lembranças. Doces lembranças.
-Oh... Lamento eu não queria fazer você lembrar do seu passado doloroso
-Não é mais doloroso. Devemos viver no presente para esquecer o passado. Esse é o verdadeiro segredo da vida - eu menti claro.
Sim ainda dói.
Ela fica mais séria. Acho que toquei num ponto fraco.
-Joui? Ficas bem nas mãos do Arthur?
-Sim senhorita Liz, vá se cuidar.
Ela sorri para nós dois e foi para um canto com uns itens que estavam espalhados pelo chão. Eu apenas continuo a cuidar do Joui.
-Dói muito?
-Um pouco sim. Mas passado algumas lutas ficas acustumado - ele tenta sorrir, mas acaba por ficar com uma expressão estranha
-Entendo. O que te trouxe a entrar na Ordem?
Ele fica meio pensativo e vejo que segura bem firme uma pulseira com pingentes prateados com pouca cor e brilho.
-Alguns anos atrás eu presenciei um dos momentos mais tristes na minha vida, vi a morte a passar bem na minha frente. E naquele mesmo dia, eu prometi para mim mesmo que, estaria disposto a salvar a vida de vítimas.
-Lamento eu não sabia disso. Eu sei que pode não ajudar muito mas eu estarei aqui para tudo. Afinal agora estamos na mesma equipa e estamos aqui pelo mesmo preposito. Eu quero apoiar.
Ele estavas prestes a falar algo quando ouvimos gritos e logo a seguir mais um tiro. Não podemos descansar nem um minuto? Estou tão cansado, já lutamos tanto hoje!
-César? - Diz o Joui em pânico, diria que preocupado.
-Está tudo bem! Fica aqui Joui! Eu viu ver o que se passou com os rapazes. Thiago o que fizeste desta vez?! - ela sai a correr com o seu ombro destapado.
-Joui eles estão bem! - digo tentado acalmar - o César está bem!
-César? Sim ele tem que estar. Meu Deus! O que aconteceu? - ele tenta se soltar dos meus braços, mas eu o agarro de volta.
-Não! Estás muito ferido. Por favor confia em mim, está tudo bem lá em cima.
Ele se acalmou e ficamos a conversar um pouco, a Liz chegou e pediu para nos posicionar em locais seguros de ataque, até chegar de novo à hora da luta. Preparados. Eu fiquei no andar debaixo com os Galderios e os outros estão no andar de cima para ter uma melhor visão.
Tiros e mais tiros. Morte e desespero.
Foi o que aconteceu durante alguns minutos até outro som reinar o ambiente. Sim mais um som! Um homem de aparecia velha, desesperado abre uma porta que estava por detrás de uma estante cheia de livros cobertos de pó. Ele entra para lá dentro onde ouvimos gritos agonizantes. E, como por magica, uma nova criatura está entre nós.
Uma forma semelhante à forma humana, onde a sua pele era uma espécie de lodo negro, ele era bem musculado e no lugar de uma cabeça um grande crânio com um símbolo vermelho cravado na sua parte frontal. Eu não tenho mais esperanças.
Eu penso que encontrei a minha morte. Eu sei que encontrei a morte. Ela está bem ali. A andar arrogantemente na minha direção. Eu tentei. Lutei.
Fiz de tudo o que podia hoje para continuar vivo. Mas a morte veio me pegar.
Sinto o meu corpo inteiro imóvel. Não tenho mais forças. Hoje é o dia da minha morte. Afinal eu sou o homem daquele caixão.
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O segredo entre nós
ParanormalUma fanfic do RPG O segredo na floresta. Escrita por : @joanna.guerreiro como Cesar, Liz e Arthur. @ana_lovesissick como Thiago, Joe e Brulio. A magia não vem para a nossa realidade de maneira facil.o mundo tem uma base de sanidade difícil de abala...