Memórias de 2010, 14/15 anos.
Algo que eu sempre odiava era admitir que Enzo estava certo.
As semanas que seguiram depois da conversa constrangedora na casa de Enzo foram o que a melhor definição de pesadelo pode expressar. Nicolas continuava meu namorado secreto. Secreto só para a família, porque o resto todo já sabia de nós dois.
Agora eu, Enzo e Diana estávamos sentados na pracinha de frente ao colégio, num silêncio constrangedor ao saberem que eu e Nicolas sairíamos naquela tarde.
Até Diana que não se dava tão bem com Enzo, se juntava a ele e fazia questão de esclarecer o quanto eu estava sendo falsa em estar mentindo sobre meus sentimentos daquela maneira. Agradecia imensamente a ela por me dar esses momentos de pura lucidez, porém me deixava irritada a maneira como todos sempre queriam se meter na minha vida.
Eu gostava de Nicolas? Não.
Era sempre uma sensação estranha. Era muito fácil estar com Nicolas, ele era sempre tão gentil e atencioso. Todas as vezes que ele olhava para mim prestando atenção nos mínimos detalhes do que quer que eu tinha a dizer, era tão... era bom de certa forma. Talvez eu não tivesse dado um basta naquela situação porque no fundo tinha esperanças de que se eu permanecesse mais um pouco, passaria a gostar dele. O que ainda não tinha ocorrido. Eu me sentia mesquinha, egoísta, insensível. Logo eu que julgo quando alguém brinca com os sentimentos alheios, estava fazendo a mesma coisa sem notar. Nicolas era lindo, gentil, carismático e tantos outros adjetivos que me deixam agoniada, seria bom um defeito, é seria. Pelo menos eu não me sentiria a pior pessoa do planeta.
Eu precisava dar um basta, ou tudo isso terminaria da pior maneira possível.
— Eu já entendi como vocês se sentem com tudo isso que está acontecendo comigo. — Enzo e Diana pararam de falar e olharam pra mim. — Agradeço a preocupação. Mas ninguém pode cuidar da minha vida melhor do que eu mesma, certo?
— Eu só queria que você entendesse... — Começou Diana.
— Mas eu entendo. E me sinto uma escrota pelo que estou fazendo. Agora vocês querem por favor me deixar lidar com isso sozinha?
— Tudo bem. — Disse Enzo para nossa surpresa.
***
Eram muitos problemas para eu administrar. Eu me sentia pilhada desde que eu descobri que Rafa estava envolvida com drogas. Eu tentava falar com ela pessoalmente e em particular, mas ela fugia de mim igual o diabo foge da cruz. Nesse mesmo momento eu estava subindo a escada rolante para o terceiro piso do shopping, depois de ter visto Rafa e Dida de longe como se fossem o casal mais feliz do universo. Meu coração batia mais rápido. Calma, um problema de cada vez.
De qualquer forma, eu tinha que focar no que faria a seguir: Terminar com Nicolas.
Cheguei no cinema meia hora antes da seção começar. Iríamos assistir " A rede social" por ideia de Nicolas, por que eu mesma não estava afim. De longe eu avistei Nicolas conversando com alguém que estava de costas e não consegui identificar. Assim que ele me viu deu um sorriso amarelo e pediu licença a pessoa que ele estava falando e veio me cumprimentar.
— Oi! — Sorri, mas ele não acompanhou o meu sorriso. — Aconteceu alguma coisa?
Ele suspirou pesadamente e baixou os olhos. Eu não conseguia entender nada, o porquê daquela mudança brusca de comportamento.
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Minha coleção de biscoitos
General FictionMargot é especialista em colecionar eventos não agradáveis. Dividir a casa com uma família problemática, ter amigos impulsivos e ser altamente excluída... parece bastante, mas é só uma amostra grátis. Apesar das adversidades, ela anseia encontrar se...