5 - O diário de Susana

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Memórias de 2006, 11 anos.


Susana nos seus 16 anos era uma garota muito carismática e conhecida. Estava sempre balançando seus cabelos longos com um sorriso largo no rosto, qualquer lugar que ia. Vez ou outra recebia alguma cartinha de amor de alguém que não tinha coragem de dizer que gostava dela pessoalmente, ou então — os mais corajosos — Apareciam no portão da minha casa com flores e bombons para chamar ela para sair. Com 11 anos de idade eu simplesmente ficava emburrada e contava para a mamãe escondido. Susana era minha irmã, não ia deixá-la sair com garoto algum. Achava que se ela namorasse alguém, deixaria de ligar para mim.

De certa forma, eu não estava errada.

Ela era quase minha heroína. Ela me defendia de Raquel, me deixava entrar no quarto dela e ficar lá fazendo o que quisesse, mas Raquel ela não deixava entrar. Me acobertava nas broncas da minha mãe. Era sem dúvida minha irmã favorita; na verdade eu só não gostava da Raquel.

Claro que ela tinha seus defeitos, era bastante fofoqueira e naquele momento estava metida à adulta. Preferia ir para casa de suas amigas, pintar as unhas ou qualquer coisa desse tipo do que ficar comigo. Quando pedia para ela me levar quando ela saia com suas amigas, ela simplesmente dizia: "Não posso, você é pequena demais pra sair com a gente". Eu só ficava com a cara feia, fingindo que não queria mais falar com ela, mas logo ela me tapeava comprando algum doce para mim. Acho foi daí que surgiu minha mania de tentar comprar Enzo com comida, já que eu não conseguia o mesmo efeito com Rafa.

Já tinha visto ela pegar um sutiã de bojo escondido da mamãe, e quando perguntei a ela "Pra que?" ela simplesmente fazia sinal que eu fizesse silêncio. "Um dia você vai querer usar um assim também", ela sussurrava. Eu fiquei quieta, mas já tinha visto ela na escola inúmeras vezes usando aquilo. Tirava sempre antes de voltar para casa, se mamãe descobrisse seria a bronca do ano.

Raquel ficava com inveja, óbvio. Queria ser "mocinha" como Susana, mas toda vez que mamãe via ela agindo como nossa irmã mais velha, dava uma bronca feia. Eu só ficava fascinada com aquele mundo de gente adolescente que Susana vivia. Me inspirava muito nela, queria ser igualzinha a ela quando crescesse: Bonita, falante e sorridente. Ficava muito irritada quando percebia que eu estava ficando mais parecida com Raquel do que com Susana.

— Você tá ficando a cara da Raquel — dizia minha mãe as vezes.

— Só se for uma versão extremamente feia, nunca que essa coisa vai ser parecida comigo! Credo — dizia Raquel praticamente cuspindo as palavras. — Sério, olha só para ela: pálida parecendo que ta morta, essa juba de cabelo e esses dentes tortos. Tão magrela que se um vento passar leva. Ainda por cima é quatro olhos. Tem certeza que não achou ela no lixão mãe?

Claro que minha mãe brigava sério com ela, mas não que ela ligasse para a bronca. Não tinha vergonha e nem pena alguma de repetir que eu era a feia daquela casa.

Naquele mesmo ano um garoto teve coragem o suficiente de encarar meus pais e pedir a mão de Susana em namoro. Foi um momento engraçado, ele jantando com a gente e com medo de encarar meu pai com suas perguntas antiquadas tipo "Quais suas intenções com minha filha?". Teve que aguentar Raquel fazendo perguntas inconvenientes na mesa. Ele não sabia onde estava se metendo em tentar entrar naquela família.

Susana só ficava quieta e tensa, mas no fundo queria namorar ele de qualquer jeito. Ficava suspirando apaixonada e eu achava que minha irmã estava ficando possuída, pois falava coisas estranhas sozinha.

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