20 - Calmaria

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Memórias de 2009, 14 anos. 


A claridade era incômoda. Não sei porque raios esqueci de fechar as cortinas da minha janela no dia anterior. Tentei abrir os olhos, mas pela manhã as pálpebras parecem pesar uma tonelada. De qualquer forma, eu precisava levantar.

Quando finalmente consegui abrir os olhos, notei a presença de minha mãe sentada na beirada da minha cama. Minhas mãos tentaram buscar na escrivaninha meus óculos, mas lembrei que eles estavam destruídos depois de ontem.

Só me restou suspirar profundamente e aceitar que seria um inferno até eu ter novos.

— Levante com calma.

A voz era realmente dela, então não era um delírio. Minha mãe estava ali.

— Eu estou atrasada. O colégio...

— Esqueça. Você não está em condições.

— Que inferno!

— Não se preocupe com isso agora. Enzo vai passar o assunto para você depois.

Foi então que notei ao olhar para o chão que havia um colchão. Mesmo com a visão com quase nada de nitidez consegui notar que o casaco de Enzo estava em cima dele, ele provavelmente dormiu ali.

Depois de levantar com o máximo de cuidado que eu tive, desci as escadas. Diana me esperava ainda com a farda do colégio e com um sorriso amarelo que ela dava toda vez que não queria me preocupar. Estava sentada na mesa, assim que me viu, levantou e me abraçou.

— Você tá legal?

Fiz que sim com a cabeça, mas ela sabia que não.

Não havia sinais de Raquel em casa. Meu pai provavelmente já tinha ido trabalhar. Não sei o que minha mãe falou para ele da briga, mas não estava assim tão disposta a descobrir. Eu sabia que devia esclarecimentos a minha mãe. Então eu decidi que abriria o jogo ali mesmo, sem me prolongar mais.

Contei desde o início. Quando encontrei minha câmera mexida no quarto, a filmagem. Os planos de Raquel em divulgar aquilo, já que ela queria se vingar do namorado. Minha mãe parecia horrorizada. Mas ela não pareia surpresa, era quase como se esperasse algo desse tipo.

Quando Raquel deixava a casa quieta por tanto tempo, é porque ela estava aprontando. E algo grande. Aquilo era quase uma lei.

A todo momento Diana ia me complementando com as informações que nós duas juntamos ao longo do tempo.

— De início eu tentei fazer Raquel mudar de ideia. Mas Raquel quando quer fazer uma coisa, ela faz. Ninguém é capaz de para-la. Eu sei que fui covarde em não falar nada, mas Raquel colocaria a culpa em mim. Eu tive medo.

— Não se culpe, meu bem. Mas você deveria ter me contado. — Disse minha mãe me abraçando. — De qualquer forma, vamos ter que resolver tudo isso por partes. Eu e seu pai vamos ter que tomar alguma providência, pois o que essa menina fez com você não vai ficar impune. — Minha mãe tinha uma certa raiva na voz, mesmo ela sustentando uma postura calma. — Raquel também não vai ficar impune. O que ela fez foi grave.

—Mãe, sério. Já chega. — Choraminguei, mesmo ela tendo uma expressão irredutível — Eu só quero ficar em paz, quieta na minha.

— Fique tranquila, depois a gente conversa. Tome um banho e relaxe um pouco.

Minha mãe saiu da cozinha. Olhei para Diana que tinha uma cara de "Precisamos falar a sós".

— Hoje eu vou passar o dia aqui com você. — Diana sorriu, era reconfortante.

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