15 - O encontro

36 5 1
                                    


Memórias de junho 2009, 14 anos. 


Eu ainda não conseguia acreditar que teria um encontro em poucas horas. Eu me sentia desconfortável e sem muita vontade de conhecer melhor Nicolas — o garoto bonito que perdeu para mim no concurso cultural de crônicas. Ele era metido a diferente, me convidando para tomar um café, algo muito estranho para um adolescente; já que a maioria nem de café gosta.

Diana aproveitou-se do fato de que Raquel estava no cursinho pré-vestibular e grudou na minha casa com uma mochila cheia de roupas e acessórios. Quando eu vi tudo aquilo fiquei um pouco assustada com o que ela planejava fazer com minha aparência, mas não tinha muita escolha. Ela disse que não sairia dali até que eu estivesse devidamente arrumada e que me acompanharia até a cafeteria. Ela tinha medo de que no meio do caminho eu mudasse de ideia e fugisse.

Ela me fez provar uns 6 vestidos, que ninguém olhando-a hoje em dia acreditaria que eram dela, todos muito delicados e clarinhos. Bem da época que a avó dela considerava ela de "Deus". Ela escolheu por mim um amarelo, mas eu a fiz pegar outro. Nunca mais usaria um vestido amarelo na minha vida. Acabou que ela decidiu que eu usaria um rosa em tom pastel de alças grossas, com uns botões fofos no busto e bem justo na cintura, ficando rodado após ela. A simplicidade o deixava mais bonito.

Claro que ela achava que o vestido não era suficiente. Ela me fez usar um conjunto de colar e brincos prateados bem meigos, que Rafa havia me dado de presente antes do aniversário do Enzo. Eu hesitei muito, mas sabia que ele estava lá para ser usado e não para ficar pegando poeira no porta joias. Ela deixou que eu usasse sapatilha invés de salto, pois nós duas concordamos que era exagero. Me ensinou a fazer uma trança embutida que era ótima para quando meu cabelo estava uma juba, e realmente, ficou bonito.

Para acabar a seção de tortura ela disse que iria me maquiar. Entrei em pânico com medo de ser uma das maquiagens carregadas em preto dela, mas ela disse que aquele não era meu estilo e apenas fez uma maquiagem básica e suave em mim. Diana era muito boa em moda, aquele tipo de pessoa que parece que já tem um talento nato.

Quando eu estava saindo de casa minha mãe fez questão de me perguntar para onde eu estava indo com aquela roupa, e Diana que já adorava minha mãe, tratou de contar a ela toda a história. As duas riram muito de mim e minha mãe pediu para Diana ficar próxima na cafeteria vigiando a conversa de longe; achei bobagem, mas não discuti.

Eu estava ansiosa. Ajeitava meus óculos a cada minuto, realmente estava detestando tudo aquilo. A bolsinha de pano que eu levava na mão já estava úmida de tanto minhas mãos suarem. Fui então para a praça, que era onde eu tinha marcado de encontrar Nicolas para de lá irmos a cafeteria. Enzo e Rafa estavam lá, a cínica também. Eles me olharam de longe curiosos para saber onde eu ia daquele jeito. Normalmente eu usava jeans e uma camiseta simples geralmente acompanhados de um casaco e quase sempre estava de rabo de cavalo. Então eu parecia anormalmente bem arrumada com um vestido de griff, maquiagem e penteado.

— Não é incrível olhar aqueles rostinhos chocados? — Disse Diana se divertindo com a situação. — Eu disse a você, era só largar de ser desleixada que logo o potencial surgiria. — Mas eu estava tensa demais para falar qualquer coisa. — Olha, ele está ali! Vou me afastar, mas estarei sempre por perto.

Cada passo que eu dava em direção ao Nicolas era como andar cansada em baixo d'água. Quando cheguei à uma distância razoável apenas acenei com o sorriso mais falso que eu tinha e esperei que ele se aproximasse.

— Olá Margot! — Nicolas foi logo me cumprimentando com um beijinho no rosto, e em seguida fez algo que quase me fez pedir para morrer: Ergueu um rosa para mim. Alguns segundos de quase morte pairavam no ar, até eu decidir com um sorriso apanhar a rosa da mão dele. O sorriso mais amarelo da vida.

Minha coleção de biscoitosOnde histórias criam vida. Descubra agora