25 -Deixando claro

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Memórias de 2010, 15 anos. 


Cama bagunçada, cacos de vidro no chão. Aquele não parecia o mesmo quarto de Diana, que era totalmente avessa a bagunça e desorganização. Depois que meus olhos varreram toda a extensão do quarto, a vi chorando escondida ao lado da cama. A maquiagem estava borrada e ela havia desfeito as duas tranças ficando com o cabelo completamente solto. 

Enzo chegou poucos segundos depois e ficou do meu lado assistindo toda a cena. Olhei para ele sem saber o que fazer e ele desviou o meu olhar.

- Saiam daqui. – Disse Diana rouca.

- Não. A gente precisa conversar. Por que você saiu correndo daquele jeito?

Do lado de fora do quarto o barulho era intenso. Pessoas conversavam alto, a música mais alta ainda. Enzo fechou a porta atrás da gente para que ninguém visse a nossa discussão.

- Não é óbvio? – Disse em tom de acusação. – Cara, você nem gosta dele! Isso não se faz, Margot.

- Está falando do beijo? Foi ele que me beijou, tive nada a ver com isso!

Ela revirou os olhos e me encarou. Não tinha deboche na sua expressão, mas puro desânimo e cansaço.

Como eu não percebi antes? Como eu não notei as trocas de olhares, a forma que ela usava para falar com ele e o quando ela parecia estar mais irritada que o normal quando eu insistia em tornar aquele namoro real? Eu estava tão imersa nos meus problemas que aquilo cresceu bem embaixo do meu nariz.

Encarei Enzo e ele desviou o olhar, aquele gesto o entregou. Ele sabia! Era tão óbvio que provavelmente todos já tinha notado, mas eu estava tão focada no meu próprio drama que fui incapaz de notar o que estava gritando ao meu redor.

Me aproximei da cama, sentei do lado dela.

- Diana, você gosta dele? - Sussurrei, mas de uma maneira que ela escutasse com clareza. 

Ela ficou em silêncio, o que confirmava minha suspeita.

- Eu queria não gostar. O Nico é tão legal, tão... tão... - Ela fez um grunido com a boca. -Ele não merece ficar mendigando a sua atenção, o momento que você simplesmente vai começar a gostar dele.

- Diana, olha...

- A pior coisa que eu fiz foi aproximar vocês dois. Que inferno!

- Não é minha culpa...

Ela levantou do chão bruscamente e em seguida fiz o mesmo. Percebi que ela estava tensa e tremia.

- Sim, você tem razão. - Colocou a mão no meu ombro enquanto parecia estar tomada em raiva- A culpa é minha. Eu deveria ter contado a ele muito antes.

O silêncio no quarto era tanto que era possível escutar todas as conversas alheias do corredor com clareza. Enzo apenas observava nossa discussão sem dizer um ai sequer, aquilo era estranho. 

- Espera, o que disse?

- Eu contei para ele que você queria terminar mas não estava conseguindo. Ele é inteligente, só ligou os pontos e percebeu que eu não estava mentindo.

- Você não tinha esse direito! Eu ia terminar isso sozinha!

- Não ia! Sabe por quê? Porque você estava confusa. Além de que você parece adorar ver ele aos seus pés mendigando o mínimo de atenção.

- NÃO SEJA RIDÍCULA! EU JAMAIS BRINCARIA COM OS SENTIMENTOS DE ALGUÉM!

- MAS FOI O QUE VOCÊ FEZ!

Eu não tinha palavras para rebater aquilo. Principalmente quando ela tinha razão. Naquele momento eu me senti suja, eu estava fazendo a mesma coisa que Vanessa fazia, as mesmas coisas que eu tanto julguei.

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