18 - Vida dupla

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Memorias de agosto de 2009, 14 anos



- Eu odeio fazer esses trabalhos idiotas que escola passa. -Diana reclamou pela décima vez só aquele dia.

- Já está acabando.

-Não me venha com otimismo fora de hora.

Diana tinha um trabalho do colégio do qual precisava tirar várias fotos da cidade inteira, em algum ponto crítico. Ela estava sozinha, a dupla dela furou o trabalho nos 45 minutos do segundo tempo e ela decidiu por usar um tema simples para facilitar as coisas.

Decidimos retratar o abandono de animais nas áreas urbanas, já que todo mundo provavelmente falaria sobre acumulo de lixo e problemas de saneamento básico. Diana com certeza tiraria nota máxima por originalidade.

-Só faltam duas ruas. - Falei e dei uma pausa para me abrigar na sombra.

- Ainda faltam duas ruas. Você precisa mesmo aprender a falar do jeito certo. - Apenas ri, os papéis estavam invertidos naquele dia, normalmente eu que sou a ranzinza.

- Admiro muito vocês góticos.

- Porque? Isso foi tão aleatório.

- Diana, você está de preto dos pés à cabeça nesse sol dos infernos. No seu lugar eu já teria ido pro hospital por ter passado mal.

- Ser gótico nesse país realmente não é fácil. As vezes parece que eu vou cozinhar.

Reclamamos mais um pouco e subimos a ladeira para chegarmos à última rua daquele bairro. Reconheci de imediato, por ter a antiga igreja evangélica que minha mãe frequentava quando deixou de ser católica.

Obviamente não continuava mais a mesma, ampliaram deixando-a com o dobro do tamanho de antes e parecia um tanto mais luxuosa, o que destoava bastante daquele bairro que tinha o aspecto de abandonado.

Era uma rua sem saída, e Diana facilmente encontrou o que estava procurando; tinham muitos cães e gatos de rua. À medida que íamos passando, as pessoas que viam Diana cumprimentavam ela, e ela conhecia praticamente todo mundo.

- Você morava aqui? - Perguntei curiosa. Mas pensando melhor, parecia uma pergunta boba.

- Não, mas Vanessa mora e eu era dessa igreja. Eu cresci vindo pra cá todo dia praticamente. Todo mundo aqui me conhece.

Diana podia ser extremamente simples e gente boa, mas era bastante rica. Seus pais provavelmente tinham uma casa na parte sul da cidade mais próxima do rio. O motivo pelo qual eles se mudaram para rua da casa de Enzo ainda era um mistério na minha cabeça e eu não queria parecer inconveniente e perguntar.

- Não brinca...

- Estou falando sério. Naquela casa amarela ali, 219. Do lado da igreja.

- Eu ia pra aquela igreja! E eu ficava brincando com umas meninas que eu não lembro mais. Tinha uma menina de cabelo castanho, uma que era bem alta e uma moreninha.

- Então, você brincou com a gente. - Rimos alto. - A alta se chama Laila, não tenho mais contato. Mas era eu e Vanessa. Depois a gente precisa ver as minhas fotos de infância. Deve ter foto sua e eu nem sabia.

- Parece vida paralela sabe, nunca ia pensar que eu e Vanessa brincamos juntas na igreja.

- Pois é!

Enquanto Diana tentava a melhor posição para as fotos, eu encarava disfarçadamente a casa de Vanessa. Naquele momento chegou na casa de Vanessa uma garota que devia ter no máximo 20 a 22 anos vestida formal, exatamente do jeito que Susana usa quando precisa ir ao ar em alguma matéria. A mulher procurou na bolsa as chaves até que avistou Diana e sorriu.

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