Memorias de agosto de 2009, 14 anos
- Eu odeio fazer esses trabalhos idiotas que escola passa. -Diana reclamou pela décima vez só aquele dia.
- Já está acabando.
-Não me venha com otimismo fora de hora.
Diana tinha um trabalho do colégio do qual precisava tirar várias fotos da cidade inteira, em algum ponto crítico. Ela estava sozinha, a dupla dela furou o trabalho nos 45 minutos do segundo tempo e ela decidiu por usar um tema simples para facilitar as coisas.
Decidimos retratar o abandono de animais nas áreas urbanas, já que todo mundo provavelmente falaria sobre acumulo de lixo e problemas de saneamento básico. Diana com certeza tiraria nota máxima por originalidade.
-Só faltam duas ruas. - Falei e dei uma pausa para me abrigar na sombra.
- Ainda faltam duas ruas. Você precisa mesmo aprender a falar do jeito certo. - Apenas ri, os papéis estavam invertidos naquele dia, normalmente eu que sou a ranzinza.
- Admiro muito vocês góticos.
- Porque? Isso foi tão aleatório.
- Diana, você está de preto dos pés à cabeça nesse sol dos infernos. No seu lugar eu já teria ido pro hospital por ter passado mal.
- Ser gótico nesse país realmente não é fácil. As vezes parece que eu vou cozinhar.
Reclamamos mais um pouco e subimos a ladeira para chegarmos à última rua daquele bairro. Reconheci de imediato, por ter a antiga igreja evangélica que minha mãe frequentava quando deixou de ser católica.
Obviamente não continuava mais a mesma, ampliaram deixando-a com o dobro do tamanho de antes e parecia um tanto mais luxuosa, o que destoava bastante daquele bairro que tinha o aspecto de abandonado.
Era uma rua sem saída, e Diana facilmente encontrou o que estava procurando; tinham muitos cães e gatos de rua. À medida que íamos passando, as pessoas que viam Diana cumprimentavam ela, e ela conhecia praticamente todo mundo.
- Você morava aqui? - Perguntei curiosa. Mas pensando melhor, parecia uma pergunta boba.
- Não, mas Vanessa mora e eu era dessa igreja. Eu cresci vindo pra cá todo dia praticamente. Todo mundo aqui me conhece.
Diana podia ser extremamente simples e gente boa, mas era bastante rica. Seus pais provavelmente tinham uma casa na parte sul da cidade mais próxima do rio. O motivo pelo qual eles se mudaram para rua da casa de Enzo ainda era um mistério na minha cabeça e eu não queria parecer inconveniente e perguntar.
- Não brinca...
- Estou falando sério. Naquela casa amarela ali, 219. Do lado da igreja.
- Eu ia pra aquela igreja! E eu ficava brincando com umas meninas que eu não lembro mais. Tinha uma menina de cabelo castanho, uma que era bem alta e uma moreninha.
- Então, você brincou com a gente. - Rimos alto. - A alta se chama Laila, não tenho mais contato. Mas era eu e Vanessa. Depois a gente precisa ver as minhas fotos de infância. Deve ter foto sua e eu nem sabia.
- Parece vida paralela sabe, nunca ia pensar que eu e Vanessa brincamos juntas na igreja.
- Pois é!
Enquanto Diana tentava a melhor posição para as fotos, eu encarava disfarçadamente a casa de Vanessa. Naquele momento chegou na casa de Vanessa uma garota que devia ter no máximo 20 a 22 anos vestida formal, exatamente do jeito que Susana usa quando precisa ir ao ar em alguma matéria. A mulher procurou na bolsa as chaves até que avistou Diana e sorriu.
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Minha coleção de biscoitos
Fiksi UmumMargot é especialista em colecionar eventos não agradáveis. Dividir a casa com uma família problemática, ter amigos impulsivos e ser altamente excluída... parece bastante, mas é só uma amostra grátis. Apesar das adversidades, ela anseia encontrar se...