Memórias de 2006, 11 anos.
Rafa em seu estado normal era uma menina meio problemática.
Quando nós tínhamos 7 anos, ela foi expulsa da escola quando empurrou uma menininha da escada porque ela simplesmente pegou seu salgadinho. Aquela foi a primeira vez que mudei de escola por causa da Rafa, eu implorei para meus pais para ir para a escola que ela estava pois temia ficar sozinha depois que ela foi expulsa.
A segunda vez — quando nós estávamos no sexto ano — foi por uma causa ainda mais patética. Um garoto da nossa turma chamou ela de peituda e vaca leiteira, ela caiu na porrada com ele. Ela era incrivelmente mais forte e deixou ele num estado deplorável. A diretora surtou (aquela não era a segunda e nem a décima vez que Rafa se metia em brigas) e queria dar expulsão imediata.
Tia Melissa — mãe da Rafa — praticamente implorou para que a menina terminasse o ano letivo ali mesmo, pois já estava em outubro e era praticamente impossível achar outra escola naquela altura do campeonato. Pelo acordo, Rafa ficaria o resto do ano no colégio, mas no próximo ano, não poderia mais pisar os pés ali. Eu e Enzo mudamos de colégio com ela depois de muito choro, muita birra e ameaças de parar de comer. Nossos pais no fim concordaram, éramos mesmo inseparáveis.
A terceira vez não vem ao caso agora.
A escola nova era legal, mas Rafa ainda não estava com a gente. Ela caiu de uma árvore nas férias de janeiro e fraturou o dedinho do pé, estava com o pé todo imobilizado e no fundo adorou aquilo para estender as férias até depois do carnaval com o seu atestado médico. Na escola nova foi também a primeira paixonite da minha vida que durou mais de uma semana. Lembrar disso é até meio engraçado.
A primeira vez em que o vi eu ainda era uma pirralha do sétimo ano, que mal tinha se livrado de todas as Barbies do quarto. Lembro como se estivesse acontecendo agora mesmo: Ele desceu as escadas do colégio e deu um sorriso lindo em minha direção. Eu, iludida, sorri de volta. Ele franziu o cenho em estranheza quando olhou em minha direção, até que eu finalmente percebi que tinha uma garota atrás de mim. É péssimo ter miopia.
Ele deu um selinho na garota. Esse foi o meu primeiro amor e o momento em que o meu coração partiu mais rápido na minha vida. Seria cômico se não fosse comigo.
Eu "inconscientemente" o observava pelos cantos bem de longe e montava estratégias para fazê-lo me notar. Todas elas fracassadas.
Eu achava o achava lindo. Não era nem de longe o garoto mais bonito do colégio e as outras garotas o achavam estranho, mas para mim ele tinha algo de diferente e especial; mesmo alto, magrelo e com cabelos que pareciam que nunca viram um pente. Na minha cabeça ele era quase um galã. Ele tinha um jeito charmoso que me fazia suspirar. Nem preciso dizer que eu estava encantada pelo garoto estranho que aparentemente tinha namorada.
Ele era mais velho que eu, ou seja, obviamente não éramos da mesma turma. Isso não era um problema pra mim, sempre dei um jeitinho de caçar ele pelos corredores do colégio, principalmente naquele momento que Rafa estava de atestado em casa e eu tinha nada de interessante para fazer naquele lugar tedioso sem ela, e Enzo estava muito, mas muito estranho.
— Você olha ele como se ele fosse um pedaço de carne. Que nojo — disse Enzo enquanto lia sua revista em quadrinho preferida (que ele quase surtava dizendo que era um Mangá, quadrinhos era coisa de criança): One Piece.
— Não faço ideia do que você está dizendo.
— Sei. — olhou para mim com total descrença. — Aquele garoto babaca, Diego. Já ouvi dizer que ele adora partir o coração de pirralhinhas como você.
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Minha coleção de biscoitos
General FictionMargot é especialista em colecionar eventos não agradáveis. Dividir a casa com uma família problemática, ter amigos impulsivos e ser altamente excluída... parece bastante, mas é só uma amostra grátis. Apesar das adversidades, ela anseia encontrar se...