17 - Quebra de sigilo

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Memórias de 2009, 14 anos. 


Naquele começo turbulento do meu primeiro ano Raquel arrumou um namorado. Meus pais ficaram preocupados, eu senti isso. Mas eles sabiam que proibir seria muito pior do que deixar e vigiar. Davi era um cara da turma dela, extremamente popular e exibia uma postura narcisista muito irritante. Meus pais também pareceram não gostar dele quando ele foi jantar na nossa casa, ele tinha lábia demais. Raquel nunca gostou dele verdadeiramente, ela é incapaz de amar alguém. Devia estar se aproveitando de alguma situação ou então apenas gostava do que a popularidade dele era capaz de fazer com ela. Então sempre estava exibindo um sorriso falso e tratando ele como se ele fosse o último chocolate do planeta.

Acontece que um dia eu notei a falta da minha câmera, mas eu nem mesmo fiquei preocupada. Apenas minha mãe – que as vezes pegava para tirar fotos dela- sabia onde ela ficava. Quando eu tinha terminado meu banho para dormir, passava de toalha para meu quarto e vi a porta do quarto de Raquel entre aberta e me aproximei para ver se tinha alguém lá dentro. Estava vazio, mas um detalhe chamou minha atenção: Minha câmera estava em cima da cama dela. Peguei de volta e tratei de voltar para meu quarto o mais rápido que eu pude. Depois que troquei de roupa e sequei meus cabelos com a toalha, fui ver se ela tinha mexido em algo na minha câmera ou estragado alguma coisa.

Tinha apenas uma filmagem longa. Fiquei curiosa e decidi assistir. Estava todo mundo se preparando para dormir na minha casa, então eu coloquei os fones para não chamar a atenção de ninguém. Dei play e fiquei assistindo.

Inicialmente nada acontecia. Era apenas um quarto muito bem decorado e pelas cores e forma como as coisas se localizavam eu julgava ser um quarto masculino. Fiquei esperando algo acontecer e nada. Até que depois de uns 10 minutos eu a vi.

Vanessa.

Primeiro ela sentou naquela cama e ficou conversando com um garoto que estava de costas e quando virou, eu quase fiz barulho com o susto, mas era o namorado de Raquel. Eles continuaram conversando e aos poucos a conversa foi ficando com um conteúdo muito sexual, estava muito perplexa. Pouquíssimo tempo depois eles já estavam sem roupa e entre muitos sons estranhos e gemidos eles estavam fazendo sexo. Eu só tirei os fones e parei o vídeo na metade, não queria ver mais nada.

Era muita informação que eu não via ligação. Minha mente dava nós tentando entender. O namorado de Raquel estava traindo ela com Vanessa, esse era um fato. Raquel usou minha câmera para filmar tudo aquilo, aquilo era outro fato. Mas até então eu não conseguia entender como Vanessa conhecia o namorado de Raquel, e eu achava que até então ela estava namorando Enzo.

Fiquei com pena de Enzo, mas depois isso esvaiu. Ele mereceu. Na verdade, parte de mim queria que ele descobrisse aquilo da forma mais trágica possível para perceber que Vanessa não passava de uma vagabunda mentirosa. A parte consciente da minha cabeça queria ficar longe de tudo aquilo e deixar as coisas como estavam. Mas uma coisa era certa, Raquel tinha descoberto e não ia deixar aquilo quieto de forma alguma. Ela devia ter alguma coisa em mente com aquele vídeo.

Liguei para Diana tremendo um pouco e depois de quatro chamadas perdidas, ela atendeu.

— É bom você não estar de brincadeira Margot, meu sono é sagrado! — Falava ela com uma voz rouca e meio mal humorada.

— Vai ter alguém na sua casa amanhã depois da aula? Vou precisar ficar aí.

— Não, quer dizer, minha avó. Mas é quase como se tivesse ninguém em casa. Porque não me perguntou isso amanhã de manhã? Eu estava num sono tão bom!

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