8 - Verdade ou desafio

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Memórias de junho de 2008, 13 anos. 


A festa de São João do colégio no meu nono ano foi feita com a desculpa de arrecadar donativos para a caridade. Aquela ladainha de sempre: Esteja presente e você ganha sua nota. Patético. Eles faziam uma única chamada e nunca conferiam para ver se os alunos estavam de fato participando, ou não. Tanto que Rafa havia sumido por horas e deixado todo o trabalho duro para mim e para Enzo.

A decoração da quadra era uma versão malfeita das tradicionais de são João. Tinha fogueiras ridículas feitas de papelão no centro e machucaram vários coqueiros só para tirar algumas palhas e colocar em lugares completamente aleatórios. Inclusive tinha uma atrás de mim e estava me pinicando. Várias barraquinhas que vendiam comida (cuja procedência era completamente duvidosa, feita pelos próprios alunos) estavam espalhadas e tinha uma competição de qual barraca arrecadava mais.

Tocava forró e outras turmas competiam para ver quem havia montado a melhor coreografia da quadrilha. Além de várias outras brincadeiras que eram abertas tanto para os alunos, quanto para os poucos pais que estavam lá participando.

Mas uma coisa estava me deixando extremamente irritada. Rafa tinha feito nada pela equipe.

— Da última vez que fui ao banheiro, ela estava no canto com o ficante trouxa dela — Enzo partilhava o mesmo nojinho que eu tinha sobre o Dida, o garoto que Rafa parecia estar obcecada. — Eles estavam com uma lata de cerveja na mão.

— Rafa está bebendo de novo? — Coloquei as mãos na cabeça preocupada. Da última vez que Rafa bebeu fez muita merda. — Ela prometeu pra gente que não faria isso de novo. É muita irresponsabilidade ficar lá bebendo e largar a gente aqui cuidando de tudo. De uns tempos pra cá ela tem deixado tudo nas nossas costas. Percebeu? — Dei um suspiro cansada.

— Sim, muita sacanagem isso. Mas nem pense em sair dessa barraca para achar ela, se eu ficar só a equipe toda perde ponto.

— Pior que é.

Enzo estava engraçado com sua roupa caipira, chapéu de palha e o bigode que eu criei nele pintado com lápis de olho. Eu estava igualmente brega: com duas trancinhas amarradas com fita, uma maquiagem pesada bem característica que minha mãe fez em mim com pintinhas mais bregas ainda, além de um vestido antiquado de rainha do milho.

A avó de Enzo, que fazia o papel da mãe dele em todos os projetos escolares que o garoto já teve na vida, passou pela nossa barraca.

— Como meus meninos estão bonitinhos! — Falou enquanto nos dava abraços e apertava nossas bochechas. — Se juntem, quero uma foto de vocês. — Eu e Enzo apenas nos entreolhamos e fizemos um meio sorriso pra foto.

— Pronto? — Perguntei meio agoniada, sempre detestei tirar fotos.

— Não meu bem, sabe como eu sou pra tecnologia. Saiu tudo tremida. Se juntem mais um pouco, se abracem. Sua mãe vai achar uma graça!

— Vó, a gente não está mais no maternal — naquela altura Enzo estava irritado com a seção de fotos.

Eu achava vó Ana muito legal, ela me adorava. Fazia bolo de cenoura com cobertura de chocolate quando eu ia pra casa do Enzo e sempre parecia querer me agradar. Acabei adotando-a como minha avó, já que eu não era próxima da única avó viva que eu tinha. Mas com Rafa o tratamento não era flores, ela implicava muito com a menina. Comprou algumas pamonhas da barraquinha só para ajudar mesmo (afinal, ela que preparou todas ali) mas logo vó Ana precisou ir embora, pois tinha bolos para confeitar e pouco tempo para isso.

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