Memórias de 2007, 12 anos. Oitavo ano.
O sol estava forte aqueles dias. A quadra maltratada do colégio agora era palco da disputa de dois times que jogavam futebol no recreio. Rafa e Enzo participavam. Meninas e meninos brincavam juntos sem nenhum problema. Algumas garotas fofocavam em seus grupinhos, sempre tinha algum idiota fazendo bobagens — como Matheus que a pouco tempo ganhou suspensão por jogar chiclete no cabelo de uma menina — tinha também os "tiradinhos" que tocavam o terror, e bem longe de tudo e de todos tinha as pessoas que não queriam muita visibilidade.
Entre elas estava eu. Na arquibancada da frente estava uma menina que provavelmente era a única pessoa daquele colégio que permanecia tão sozinha quanto eu.
O nome dela era Diana, fizemos trabalhos no mesmo grupo algumas vezes e fazíamos ballet juntas, mas nada além disso. Não sei se somos tímidas demais para conversar ou se preferimos ficar na zona de conforto de apenas observar uma à outra de longe. Ela era legal, mas não sabia se iria me querer como amiga dela. As pessoas espalhavam que eu era bobinha e chata.
Às vezes eu me perguntava o porquê ela estava quase sempre sozinha. Com certeza não era pela aparência, ela era uma das meninas mais bonitas daquela escola. Tinha um cabelo enorme e castanho claro, traços de dar inveja ao grupinho das garotas metidas, além de ser cheia da grana. Basicamente ter uma dessas características era tudo que alguém precisava para ter amigos naquele colégio, mas ninguém queria se aproximar dela além de uma menina de cabelo cacheado que aparecia vez ou outra e o idiota do Matheus.
Parei de observá-la quando ela virou e me encarou.
Aquele era o cenário de quase todos os dias que eu passava no colégio. Estava a mesma calma de sempre. Peguei para ler pela quinta vez "Felicidade clandestina" de Clarice Lispector. Na biblioteca do colégio só tinha 5 exemplares do livro de contos dela, e todos eles surrados, mas eu amava mesmo assim.
Minha leitura foi atrapalhada várias vezes aquele recreio. Algo estava deixando todo mundo meio agitado naquele dia, o barulho estava intenso. Eu não fazia ideia do que era até ver Kátia e Victória — patricinhas arrogantes da minha turma — e a sua panelinha distribuindo convites. Alguma outra festinha idiota.
Eu não sei por que ficava tão coagida perto delas. Eram só garotinhas fúteis que passavam metade do dia fofocando sobre alguém ou criando regras inúteis para o seu bando. Patético. Mas elas faziam eu me sentir infantil e desinteressante. Eu nunca me encaixaria no grupinho delas, por isso creio que nunca terei outra amizade feminina que não seja Rafa. Se bem que Rafa é mais masculina que muito menino.
— A gente podia chamar Margot pro nosso grupo, tá faltando uma pessoa. — Cochichou Sabrina, uma das meninas do grupinho das patricinhas da minha turma, mas não baixo o suficiente para que eu não escutasse. — Ela é legal, me ajudou em ciências quando eu caí na recuperação.
— Você só pode estar brincando. — falou Kátia alto, apesar das meninas fazerem sinal para ela falar baixo. — Imagine o que vão pensar se aquela ridícula começar a andar com a gente?
— Mas eu pensei que...
— Não pense Sabrina. Você é burra demais pra isso.
Sabrina baixou a cabeça e continuou escrevendo no seu caderninho com sua caneta rosa de pompom.
Antigamente eu ainda me iludia achando que elas não eram tão ruins. Lembro de quando eu mudei de colégio, elas vieram sondar como eu era. Elas me tratavam bem uns momentos, até me chamava pra ficar com elas. Para que? Só para que eu fizesse os trabalhos pra elas. Logo depois elas me afastavam com uma desculpa esfarrapada.
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Minha coleção de biscoitos
General FictionMargot é especialista em colecionar eventos não agradáveis. Dividir a casa com uma família problemática, ter amigos impulsivos e ser altamente excluída... parece bastante, mas é só uma amostra grátis. Apesar das adversidades, ela anseia encontrar se...