22 - Namorado

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Dezembro de 2009, 14/15 anos. 


— Gosta mesmo dele? — Fui tirada da minha concentração ao escutar essa frase saindo da boca do Enzo.

Estávamos na pequeníssima biblioteca do colégio, provavelmente só nós dois e mais uns gatos pingados frequentavam aquele lugar. E que lugar bagunçado: As mesas para estudo ficavam tumultuadas em um dos cantos da sala, as estantes estavam enferrujadas e cheias de livros desatualizados ou em péssimas condições. Colégio estadual é assim mesmo, não há muito o que fazer. Pelo menos esse tinha biblioteca, conheço vários que nem isso tem.

Enzo estava sentado do meu lado, enquanto fazíamos uma troca justa: ele me ajudava a não reprovar em física e eu fazia o mesmo com ele em literatura e redação.

Nossa amizade ainda passava por dificuldades desde que Vanessa passou por nossas vidas deixando um rastro ruim; por mais que nós tenhamos feito as pazes e que já tenha se passado alguns meses. Eu já tinha superado tudo aquilo, mas ainda não conseguia confiar nele e em Rafa como antes. Tinha receio de que a qualquer momento apareceria alguém melhor que eu e eles me trocariam. Novamente.

— Agora está pensando no porquê falaria isso para mim. Logo eu, o amigo da onça. — Enzo era assim mesmo: Odiava arrodeio e sempre era sincero se algo o estava incomodando. Aquilo me pegou desprevenida. — Você não é assim tão difícil de decifrar.

— Olha, se você quer saber, confiar em você é complicado. — Ele tinha uma mania chata de me encarar. Apenas suspirei desviando o olhar e passando as páginas do livro um pouco mais apressada. — Desculpa Enzo, mas não dá pra fingir que nada aconteceu.

— Margot, eu sei que nada que eu disser vai fazer você me desculpar...

— Você já tentou falar alguma coisa pra saber? — Encarei de volta.

Ele riu com minha resposta direta e até um pouco ácida. Adorava o sorriso dele, mas não podia ficar encarando. Continuei tentando me concentrar na matéria, tirar o foco daquele assunto que eu não queria falar agora. Talvez nunca.

Ele fechou o livro que eu estava lendo e isso automaticamente me fez olhar para ele.

— A gente precisa estudar! Temos prova de física amanhã. Sabe disso. — Murmurei.

— Nesse clima de enterro que está entre nós, não vamos aprender muita coisa. — Eu revirei os olhos e encarei ele meio impaciente. — Não espero que você me perdoe, só quero minha melhor amiga de volta. Só isso...

— Tá, tem cinco minutos para me convencer a pensar em te perdoar. É pegar ou largar.

— Por onde eu começo?... Ah sim. Eu sei que você me viu indo na sua casa várias vezes tentar conversar. E o que você fez? Pediu à minha madrinha dizer que você não estava todas elas.

— Tá, e?...

— Aí você começou a andar com Diana e vocês ficaram muito amiguinhas do dia pra noite. — Enzo não sabia disfarçar quando tinha antipatia por alguém. Ele não odiava Diana verdadeiramente, só que eles tinham uma rixa. Diana está grudada em mim e Enzo não admite, mas sente ciúme.

— Enzo, dá pra parar de implicar com Diana? Não vou deixar você falar mal dela na minha frente. Para de implicância boba. — Disse rígida.

— Você começou a sair com Nicolas. — Corei ao lembrar que ele flagrou meu beijo com Nicolas — Eu pensei "que ótimo, ela realmente tá nem aí mais pra gente". Aquele garoto idiota! Você não foi a única que sofreu Margot. Você passou a me ignorar do dia para a noite e isso me machucou muito. É ruim até hoje querer ter uma conversa normal com você e parecer que tem uma barreira impedindo a gente. Me sinto péssimo.

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