Memórias de 2010, 15 anos.
Vai ficar tudo bem.
Sorri comigo mesma quando eu percebi esse fato enquanto saía do quarto de Diana. Aquilo não só me tranquilizou como tirou um enorme peso das minhas costas. Nós já estávamos rindo e fazendo piada sobre Nicolas. Ela não estava me tratando mal e nem diferente. Obviamente ninguém se desapaixona do dia para noite, mas agora as coisas estavam esclarecidas e Diana não tinha mais raiva de mim.
Respirei aliviada.
A música estava altíssima e no meio de tantas vozes escutei uma gritando meu nome, até que minha visão focou em Clovis subindo as escadas correndo até onde eu e Diana estávamos.
- Margot, vem que Enzo não tá legal.
Clóvis falou com um olhar alarmado já me puxando escada abaixo, para onde Enzo estava. Diana me seguiu igualmente preocupada.
Enzo estava muito pálido, sentado no chão do banheiro com os olhos fechados e a cabeça encostada na parede. Quando me aproximei e o chamei ele não me respondeu. Dava para notar que sua camisa estava molhada de suor e quando toquei minhas mães na sua pele estava fria.
- Enzo, me responde, por favor. - Segurei o rosto dele com as duas mãos, mas o olhar dele mal fixava no meu rosto. Ele não respondia, meu coração palpitou desesperado. - O que tá acontecendo? - Olhei para Clóvis e ele deu de ombros. - Diana, chama seus pais agora!
Diana saiu correndo em busca dos pais. Sentia que algo estava errado. Enzo pouquíssimo tempo atrás estava ótimo conversando comigo e com Diana, todas as vezes que ele passava mal ou adoecia não era "do nada" como estava sendo. Encarei Clóvis em busca de alguma explicação.
- Ele estava lá tranquilo conversando com Rafa e depois sentou aqui e ficou desse jeito. - Clóvis nervoso, falava rápido e gesticulava muito. - Ele só estava comendo uns brigadeiros que ela estava na mão e...
- O que?
- Foi só isso mesmo.
- Esses brigadeiros eram parecidos com os da festa? Tinham caveirinhas?
- Na verdade, não reparei direito, mas... Sei lá, acho que não tinha.
A ficha não parecia cair. Levantei e olhei do banheiro na direção onde Rafa estava. Por um momento ela olhou para mim alarmada. Disfarçou, desviou o olhar e continuou a conversa com os amigos dela.
- Clóvis, toma conta dele aqui rapidinho. Eu já volto.
Cheguei já puxando Rafa pelo braço. Os amigos dela - Todos mais velhos e com sinais claros que não estavam 100% lúcidos - me olharam torto, outros pararam as conversas paralelas só para tentar captar algo da nossa conversa. Encostamos na bancada da cozinha. Ela não parecia estar bêbada e nem chapada.
- Rafa, por tudo que é mais sagrado, o que tinha naqueles brigadeiros que Enzo comeu?
- Que brigadeiro? Não sei do que você está falando. - Disfarçou sem conseguir me encarar direito.
O rosto dela transparecia puro nervosismo. Fechei as mãos em punho e respirei fundo. Ela ajeitou o cabelo e olhou para o namorado, este que mesmo da sala parecia estar muito focado na nossa conversa.
- Vou te perguntar só mais uma vez. O que tinha naquilo? FALA RAFA!
Ela não me disse nada. Tomou mais um gole da sua bebida e voltou para sala. Agora eu tinha certeza que aqueles brigadeiros tinham algo muito estranho.
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Minha coleção de biscoitos
Ficción GeneralMargot é especialista em colecionar eventos não agradáveis. Dividir a casa com uma família problemática, ter amigos impulsivos e ser altamente excluída... parece bastante, mas é só uma amostra grátis. Apesar das adversidades, ela anseia encontrar se...