Quem Tem Fama...

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Tentarei publicar 2x na semana. Quarta e domingo. Caso haja algum emprevisto, aviso.

O trajeto até o centro da cidade foi feito quase todo em silêncio. Paula ainda tentava entender o que Carlos causava nela. Sua presença a deixava acesa de uma forma que nunca havia experimentado antes. Desde que Ray morrera em confronto com uma facção rival do tráfico de drogas de Barcelona, que nunca mais tinha se sentido atraída por alguém, que não fosse Murilo. Ray tinha sido um cara legal, mas jamais a fez esquecer o primo, que tirou sua virgindade e praticamente uma parte da sua sanidade mental. Murilo foi o seu primeiro e único amor e que, por ironia do destino, a destruiu de forma cruel.
A voz grave chamou a sua atenção para um caminho, que se estendia campo à fora à beira da estradinha asfaltada.
__ Os avós de meus filhos moram cerca de 3km seguindo por ali. - apontou. __Na volta passo para pegar meus dois pinguinhos de gente. - demonstrou todo o seu carinho na voz e sorriu de leve.
Ainda olhando o ponto indicado, Paula indagou:
__ Com quem eles ficam quando dá suas aulas à noite?
__ Na maioria das vezes, Maitê, minha cunhada, dorme com eles. Quando ela não pode, eu os levo para ficarem com os pais dela. Desde que Val se foi, que a tia tem sido meu braço direito.
__ Não quero ser invasiva...mas Val...o que aconteceu com ela?
__ Teve uma aneurisma cerebral. - respondeu sem receio segurando firme o volante.__ Descobrimos quando estava com 6 semanas da gravidez de Julian. Ficamos entre a cruz e a e a espada. Passei noites em desespero, amava minha esposa, mas amava também o nosso bebê. Então, percebi que só cabia a ela tomar essa decisão. Val optou por preservar a vida de Julian e eu dei todo o meu apoio em forma de amor e carinho. Tentamos contar com a sorte ou com a fé, mas infelizmente, um mês depois que Julian nasceu, Val se foi! A cirurgia estava marcada para dali a duas semanas.
__ Eu sinto muito. - foi sincera.
Para Paula, acostumada a sempre ser objeto, parecia inacreditável, que existisse um amor tão intenso. Em sua mente confusa, questionou como seria ser amada daquela maneira. Em seus 28 anos de vida, ainda não tinha experimentado a sensação de amor pleno, lindo, cativante da parte de um homem. Ray nunca disse que a amava. Tampouco o primo, que sempre deixou muito claro o papel que ela representava na vida dele. O dois relacionamentos era simplesmente carnais da parte deles.
Outro fato que chamava a atenção de Paula era que quando Carlos falava na morte de Val não deixava transparecer nenhuma revolta, como se tivesse se resignado com o destino que sua vida tinha tomado.
Carlos a tirou de seus devaneios.
__ Quando paro para pensar... me dou conta que vivemos tão pouco tempo juntos. Apenas onze anos.
__ Acredito que ela tenha sido feliz. Você a amou e para ela, presumo que, o pouco tempo foi muito. Você fala de um jeito intenso. - confessou.
Ele meneou a cabeça.
__ Sabe, eu pedi várias vezes, que procurasse um neurologista para saber a causa e melhorar aquelas enxaquecas. Não sou médico, entendo muito é de bichos. Porém sabia que as dores poderiam ser algo grave. Ela sempre dizia que iria marcar consulta...mas sempre ia adiando. Meu único arrependimento é não ter tomado as rédeas da situação, mas Val sempre foi dona de sua vontades...Ela era indomável, cheia de si...e eu adorava aquele jeito dela!...- olhou rapidamente para Paula, que o encarava, admirada por estar ao lado de um homem tão carinhoso e sem filtrar, expôs sua tristeza, que insistia em lhe vir ao coração. Ser amada daquela forma era um privilégio que jamais teria.
__ Às vezes, a morte é a solução para os que consideram a vida um "problema"... Com certeza, esse não era o caso de Val. Não consigo imaginar como seja uma relação baseada em amor...nunca vivi isso. - sua melancolia era sentida na voz.__Também tive perdas importantes na minha vida. - suspirou.
Carlos calou por instantes, querendo entender o que significavam aquelas palavras amargas e pesadas.
__ Pelo que entendi, mora com seus tios.Está falando de sua família ou de um amor? Seus pais não são vivos?
Paula limitou-se a responder a segunda indagação. Como poderia dizer que o causador de suas dores era de sua própria família?
__ Eles morreram há alguns anos e passei então, a morar com meus tios, mas eles se mudaram para a fazenda, na cidade vizinha. Meu primo, Murilo, mora na casa agora.
__ Ouvi dizer que ele casou...- comentou casual.
Ela olhou pelo vidro lateral, vendo os arbustos rasteiros passarem rápidos e engolindo a amargura, apenas afirmou.
__ Sim, casou.
Carlos desviou os olhos da estrada, diminuindo a velocidade, para observá-la melhor. O sol da manhã batendo no parabrisa da SUV, emitia seus raios em uma parte do rosto e dos cabelos castanhos escuros, a deixando ainda mais bonita.
Aos poucos, ela iria se abrir. Paula o deixava intrigado, lhe parecendo não ter motivos para sorrir e não era só por causa do dente quebrado. Não conseguia ver alegria dentro de sua alma e ficava muito evidente, que quando tocava no assunto família, a conversa a deixava desconfortável e a expressão de tristeza se acentuava em seu rosto.
A circunstância que Paula se encontrava, fez com que a noite para ele tivesse sido mais curta do que o normal, apesar da insônia. A mulher resgatada em farrapos, à beira da estrada, não o deixou dormir direito. O que teria acontecido realmente com ela?

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