Pertenço a Você.

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Sem correção

Paula sentiu-se tomada pela raiva durante todo o trajeto de volta. Pareceu-lhe incrível que bastou enxergar Murilo para que esse sentimento viesse à tona, abafando toda a brandura que Carlos pusera em seu coração. Murilo era tóxico.
Sentiu-se mais uma vez arrastada para fora da família Márquez Muniz. Prova esta, que sua tia sequer se dignou a lhe dar um telefonema para pedir explicações ou para saber se estava viva ou morta.
Agora, precisava agir e pensar por si mesma.
Ainda tinha outros investimentos e joias que a mãe lhe deixara e apesar da sua conta bancária estar gorda e sua situação financeira não ser realmente um problema precisava investir desta vez, em alguma coisa que realmente a fizesse se sentir útil. Não entendia muito de ações e aplicações, por isso seria melhor ter algo palpável e não o sobe e desce da bolsa de valores. Ainda tinha pró-labores a receber da companhia, como constava em contratos e queria usá-los com sabedoria. De repente, se deu conta que nunca fora dona de sua vida. Tudo o que fazia dela sempre dependeu do aval de Murilo.
Lamentando, entrou no prédio pensando que no momento, o que precisava mesmo era de um bom banho para relaxar e pôr os pensamentos em ordem. As últimas doze horas, tinham exigido demais dela.
Paula caminhou até o banheiro, consultando o relógio, viu que não era tão tarde. Ligou a água da antiga banheira para enchê-la e parada ali, ficou por um longo tempo, as sobrancelhas cerradas, os lábios comprimidos e as feições marcadas pela tensão. Um turbilhão de lembranças invadia sua mente, trazendo consigo perguntas...sentimentos de culpa... acusações. A quem condenar? Ela, por ter sido tão sórdida com Martina, por sempre achar que Murilo era seu tudo, ou Murilo, que odiou seu bebezinho assim que soube da sua existência?! Com a imagem dos olhos negros, que tanto amou, desejando matá-la, essas perguntas a perseguiam enquanto preparava o banho.
Um misto de emoções angustiantes - dor, frustração, impotência - a tomou de assalto no instante fugidio em que seus dedos deslizaram pela água morna, que foi cobrindo aos poucos o corpo dela, dando a súbita sensação de que lavava mais do que a sujeira da pele. A impressão era de que se livrava de todas as aflições que a atormentaram durante aqueles últimos dias.
Na semiescuridão do ambiente, a luz da tela do seu celular iluminou-se ao seu lado. Para ela, ver o número de Carlos vibrando era um alívio melhor do que a espuma quente e cheirosa.
__ Oi!- cumprimentou carinhosamente, secando as mãos na toalha ao lado da banheira branca de pés trabalhados, vintage.
__ Tudo bem, Tigresa?- a voz macia lhe aqueceu a alma.
__ Ouvindo você agora, sim.- suspirou.__ Acabei de chegar. Estou no banho.
__ Ah, desculpa. Ligo mais tarde.
__ Não. - disse súbita.__ Sua voz me acalma e eu estou na banheira.
__ Não parece bem.
__ Para lhe dizer a verdade, a única coisa boa nesse momento da minha vida é você.
__ Nossa, estou lisonjeado.- brincou, tentando apagar aquela voz de desiludida dela.
__ Como foi lá com seu primo?...
__ Não foi. Ele simplesmente me chamou para avisar na frente de todos os acionistas que não faço mais parte da companhia.
Confiei nele, passando procuração e para não me ver por lá mais, Murilo comprou todas as minhas ações.
__ Isso não tem reversão...digo, no meio jurídico.
__ Não. E quer saber, até foi bom!- desabafou.__ Tudo o que me manter longe dele vai me fazer bem daqui para frente.
__ Então minhas chances aumentaram consideravelmente. - concluiu num tom brincalhão.
Porém no segundo seguinte, a voz soou demasiadamente séria.__Estou com saudade...Pode parecer bobagem, mas estamos sentindo a sua falta aqui. E eu sentirei ainda mais quando estiver sozinho na cama.
__ Suas chances são de 100 em 100. Eu me sinto muito atraída por você. Não quero te perder, Carlos, apesar de ter aprendido que emoções reveladas facilmente se voltam sempre contra mim.
__Estou falando muito sério, Paula. E nesse ponto, também estou inseguro, afinal você ama outra pessoa. Não me sinto confortável quando falamos de seu primo, mesmo sabendo que não tenho direito algum de lhe pedir nada.
__ Estou começando a aprender também que se sentir dono do outro não é bom. Você está me ensinando a me amar, Carlos. E acredite, quero ser uma boa aluna.
Aquelas palavras exprimiam sentimentos novos, que começou a experimentar com as conversas que tinha com ele.
Carlos baixou a voz e a deixou sair num tom sensual, cheio de desejo.
__Fico imaginando como deve estar linda, nua, coberta pela espuma. Queria contornar suas curvas...beijar sua boca...sem pressa...
O coração dela acelerou, seu íntimo esquentou.
__ Certeza que quer esperar até sexta-feira para nos vermos?- Paula mordeu o lábio pensando nas mãos experientes dele a percorrer-lhe o corpo ensaboado.
Ela ouviu-o suspirar e o tom da voz dele macio e sedutor deu lugar ao homem prático e decidido que era.
__ Infelizmente, tenho muito trabalho por aqui. Até sexta-feira estarei com tudo pronto e aí, podemos passar um final de semana juntos. Só nos dois. As crianças irão com os avós e Maitê para a casa da praia, antes que comece o inverno.
__ Não acha frio para elas, Carlos? - exprimiu preocupação.
__ E só um final de semana. Maitê é muito cuidadosa. Confio muito nela.
A simples menção da cunhada na conversa lhe deu a tão conhecida sensação de perda, contudo havia algo em Carlos que lhe inspirava confiança e segurança.
__ Claro que confia, ela deve amar muito seus filhos. Desculpa, ficar me metendo. Não tenho esse direito.
Mudou o assunto.
__ Também tenho mil coisas para resolver e vou aguardar ansiosa esse final de semana.
A conversa se espichou até que Paula sentiu sua pele murchar e a água esfriar. O tempo na companhia dele parecia não existir.
Até pensou que não pegaria no sono logo, mas o cansaço provou ser maior, e em menos de cinco minutos, depois de ter saído da banheira e ter falado com Carlos, adormeceu profundamente.

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