A Vida é Assim: Uma hora é Justa e Noutra, Injusta

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__ Já está pronta?- indagou Carlos juntando o celular.
Andando pelo quarto procurou a carteira de couro, encontrando, abriu para verificar a documentação e assim que a ajeitou no bolso da calça, pegou a mala e a mochila dele, caminhando em direção à porta.

__ Vou esperá-la lá embaixo.

__Você já falou com Murilo? - Paula perguntou, enquanto passava o batom nos lábios em frente ao espelho do banheiro.

__ Já vou avisar que estamos saindo de casa para o aeroporto.

Há 10 dias, Paula tinha feito o exame de histocompatibilidade e o resultado já havia saído há dois. A medula de Paula era compatível em 80% com as dos gêmeos. O médico exultara quando abrira os exames pedidos pela equipe de hematologia da clínica, na tela do computador.

__ As chances desses meninos ficarem curados triplicaram! Foi a mão divina que levou Murilo a lembrar de você! Seus exames deram ótimos. Nada de anemia. Saúde perfeita, Paula!

Paula recordou que havia respirado fundo, aliviada, e um leve sorriso curvara seus lábios enquanto seus olhos se enchiam.

__ Quando acontecerá o procedimento para retirada das células troncos?

__O mais rápido possível!
Você, como prima, quer ser a primeira a dar essa boa notícia aos pais?

Com a cabeça, Paula fizera um gesto de negação.

__Melhor o senhor e o hematologista fazerem isso, Dr.Reyes. Infelizmente, eu e Murilo não temos uma boa relação, motivo pelo qual fui a última pessoa que ele pensou em pedir ajuda.

O médico, se ficara surpreso não demonstrara e suspirando, sem tirar o sorriso de satisfação do rosto, declarara:

__ Eu entendo. Laços familiares nem sempre são perfeitos. Seja lá o que tenha acontecido, seu gesto é muito nobre, passando por cima das desavenças para salvar essas crianças.

__ Meus problemas não são com elas e nem com a mãe, doutor. Já sofri três abortos...sonho ainda em poder ser mãe...A dor da perda é irreparável, a esposa de Murilo não merece sofrer mais do que já sofreu.

O doutor emitira um olhar compassivo e a deixara a par de tudo o que envolvia o procedimento, explicando o que ela deveria fazer. Depois, olhara as horas no relógio de pulso e dera a entender que a consulta havia acabado.

__ Paula, em breve, nos veremos para assinar os trâmites legais.

Paula então, despedira-se do médico e por isso, naquele início de manhã, viajavam ela e Carlos a Barcelona para realizar a retirada das células troncos.

Naqueles dias, que antecederam o resultado dos exames, Paula andava pelas ruas movimentadas de Barcelona, guardando no peito uma ansiedade imensa. Tinha tomado uma decisão que lhe deixaria totalmente de consciência livre. Que Deus a ajudasse que desse tudo certo dali para frente. Erros como os quais cometera com Martina, em sua vida, não seriam permitidos mais.

Ângela tinha se oferecido para acompanhá-la e a pequena Sofhia, como não podia ser diferente, fora junto para a alegria de tia Dulce.
O cunhado foi quem as buscara no aeroporto. A amiga, como sempre, se mostrara de extrema eficiência e boa vontade e embora estivesse sofrendo pela indiferença de Fred, não deixava transparecer o que lhe acontecia no coração. Mas numa noite, Fred telefonara para Ângela no hotel, onde estavam hospedadas, convidando-a para jantar. Paula então, tomou conta da bebê, indo para casa de tia Dulce. De propósito deixara a suíte livre para o casal naquela noite, querendo muito que Fred e Ângela se acertassem.

Procurando seu casaquinho nos cabides, Paula ainda podia lembrar de Martina com os olhos cheios de uma emoção que remetia ao alívio e de suas mãos trêmulas quando, por exigência burocrática, ela e os pais dos gêmeos encontram-se para assinarem os papéis para que a doação acontecesse.
No entanto, o primo não fora capaz de encará-la na frente da esposa. Murilo tinha o semblante ainda mais abatido do que naquela tarde em que fora procurá-la. Prova de que estava emocionalmente abalado.

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