Nada Como um Dia Após o Outro

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Sem correção

Paula ficou sem saber o que dizer, porque não estava entendendo muito bem todas aquelas palavras saindo da boca de Murilo de uma forma tão humilde. Ele jamais agia assim, sempre fora tão altivo, dono de si...
A doença dos filhos talvez estivesse a lhe ensinar lições e se fosse a antiga Paula, teria tido o maior prazer de vê-lo naquele estado. Porém, seu coração se apertou ainda mais.
Murilo levantou-se, braços caídos ao longo do corpo, sua linguagem corporal era de alguém derrotado.
Tinha a boca seca, a palma das mãos molhadas de suor e sentia seu estômago em fogo.

Paula pela primeira vez na vida, enxergava o primo com a pior das fraquezas inerentes ao ser humano: o medo. Fechou os olhos por alguns segundos, a fim de organizar os pensamentos.
Tratou de conter as emoções e obrigou-se a falar normalmente.

__ Não entendo aonde você quer chegar!

O silêncio na sala pareceu-lhe ensurdecedor com ele a encarando. E a poderosa tensão silenciosa entre ela e Murilo pareceu aumentar a ponto de o tique-taque do relógio em cima da lareira, parecer o barulho de alguém batendo na parede com um martelo.

__Creio que preciso explicar...Não me admiro sua surpresa em me ver aqui, depois de tudo.- disse Murilo, por fim.
__ Sim, estou muito surpresa. Se me lembro bem, num de nossos encontros desejou me matar.

__ Só o que posso dizer agora, é que agradeço por estar sendo educada e me escutando.

Ela fitou-o e passou a língua nos lábios ressecados.

__ Você disse que precisa explicar... - franziu a testa e seu coração estava disparado. __O que, realmente, veio fazer aqui?

Murilo fechou as mãos com força, com a impressão de que a casa ia desabar em cima dele. Tinha vontade de se deixar cair no chão e encolher-se como um feto, como se isso pudesse salvá-lo daquela situação insuportável.

__Eu vou pegar o café...- ela disse e apontou a cozinha.

__ O meu sem açúcar, por favor!

__ Ainda lembro disso. Embora muitas outras coisas fiz questão de esquecer.

Ele ficou sozinho, parado, mãos nos bolsos, olhando para um porta retrato, na aba da lareira, onde ela, Carlos e as crianças sorriam abraçados.
Em dois ou três minutos, Paula voltou e clareou a garganta para chamar-lhe a atenção alcançando-lhe a caneca com o líquido quente.
Ele bebeu, na esperança de acalmar-se.

__Voce não parece a mesma.- constatou voltando a olhar a fotografia.

__ Muita coisa mudou depois que conheci Carlos.- baixou os olhos para o recipiente azul que fumegava em suas mãos.__Homens como ele existem muito poucos.

__ Confesso que aquele pedido de perdão que fez a Martina no roseiral, não foi algo que me convenceu...mas agora, vendo a simplicidade onde está morando...isso começa a fazer algum sentido. Você é rica, sempre foi acostumada a ter do bom e do melhor...Essa casa é simples demais para você, Paula. Está feliz?

Paula sorriu tranquila.

__ Carlos me ensinou muitas coisas..., uma delas foi que dinheiro não é tudo na vida. Ele também me fez enxergar  como é o amor de uma forma certa, sem a necessidade de me submeter a caprichos, sem me deixar ser manipulada e, principalmente, sem viver de migalhas. Sou sim, imensamente, feliz com Carlos. Eu o amo e ele me passa total segurança quanto a reciprocidade desse sentimento.

__ Acredito sim, que você tenha mudado, Paula, senão não me diria todas essas coisas. - emitiu um leve sorriso de canto. __Eu a conheço bem.

__ Pode ser que seus filhos também o estejam ensinando a mudar. A dor é uma professora cruel, mas ensina bem, e falo com experiência. Pelo que me lembre você jamais pedia algo...,tomava sem se importar se estava ferindo ou não.

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