O Som Melodioso do Seu Riso

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Com várias sacolas de compras nas mãos, Paula desceu pelo elevador no estacionamento mal arejado e semiobscuro do shopping, aliviada. A sandália desconfortável tinha sido substituída por uma sapatilha leve, que não machucava seu tornozelo. Comprou também algumas peças de roupas e cosméticos. Ainda não tinha ideia de que forma seus pertences seriam tirados da mansão e até que isso acontecesse e conseguisse ao menos alugar um apartamento, o que tinha adquirido no shopping, quebraria o galho. Também já possuía um telefone novo.
Parou por alguns instantes para olhar o homem que não tinha um limitador para o seu padrão de beleza. O seu charme, vinha do jeito como se comportava, do modo como conversava ao celular, de sua postura, encostado na porta da SUV. Ela trancou a respiração involuntariamente, quando ele achou graça de algo que tinha sido dito do outro lado da linha. "Deus, como é lindo!!"
A cena tão descontraída se desfez quando Carlos girou a cabeça parando os olhos na imagem dela a lhe observar. Ele então, se moveu seguro ao seu encontro, a camisa verde militar sobreposta à camiseta preta fazia o porte másculo se destacar em meio aos carros estacionados. Emitindo um sorriso sedutor, se despedindo da pessoa com quem falava e parando em sua frente, a manteve cativa em seus belos olhos azuis.
O modo como Carlos a fitava já não a desconfortava. Estava sem rumo e a presenca dele ali, a sua espera, era como uma bússola no deserto. Sentindo-se culpada por tê-lo feito esperar tanto, apressou-se em falar, assim que o viu guardando o celular no bolso da calça de sarja bege.
__ Obrigada por ter tido a paciência de ficar me esperando.
__ Não agradeça, está sem querer me fazendo um favor. Sou pai de uma menina. Acho que daqui a alguns anos, isso será uma rotina. Esta me pondo em treinamento!
Paula, sorriu sem jeito, não sabia como agir. Carlos era tão diferente, que ao ficar em sua presença, o modo seguro dela e muitas vezes agressivo, sumia.
__ Mocinhas adoram um shopping e sua filha com certeza não será diferente das outras adolescentes! Depois, virão os namoradinhos, as saídas para as festinhas...- mordeu a boca tentando segurar o riso, mas não conseguiu, quando percebeu a cara de espanto dele. A risada saiu espontânea. Carlos concluiu o pensamento dela.
__ E as noites serão intermináveis, esperando o marmanjo entregá-la no portão. - passou a mão nas sacolas, mexendo a cabeça em desagrado.__Além de treinar minha paciência, vou também treinar minha pontaria! Não vou facilitar a vida dele não.
Paula baixou a cabeça e riu com mais gosto. Quando a ergueu, a expressão de Carlos tinha se transformado. Seus olhos a esmiuçavam e a frase dita em voz baixa fez com que seu sangue corresse veloz pelas veias.
__ Você fica ainda mais linda quando está relaxada! Embora tenha ficado preocupado, acho que chorar só lhe fez bem!Do momento que a conheci, apenas agora, deixou seu riso brotar. E foi um dos sons mais melodiosos que já ouvi!
Ela permaneceu com o brilho nos olhos e uma súbita satisfação percorreu seu íntimo por ele ter feito o elogio. Também ficou surpresa por se dar conta que rir não era algo que fazia com frequência. Chorar sim, tinha se tornado um hábito em sua vida.
Juntos caminharam até a caminhonete.
__ Acho que fez bem em esconder um pouco dos hematomas de seu rosto com maquiagem.- ele comentou.
Paula passou os dedos sob a maçã do rosto e canto da boca. A base que comprou, amenizou a cor dos machucados da pele e o batom realçou o tom de seus cabelos e olhos.
__ É, achei que precisava disfarçar. Não quero que se constranja andando por aí, com alguém que pareça ter saído de um ringue.
As passadas de Carlos cessaram de ecoar no ambiente. Ela girou o corpo para saber o porquê.
__ Acha que me importo com o que as pessoas pensam, Paula?
__ Você não se importa?- replicou.
__ É muito óbvio, que não. Sou viúvo há apenas um ano. Amanhã, toda a comunidade, onde moro, estará sabendo que estou andando com uma mulher na minha SUV! Minha cunhada acabou de me ligar para falar disso! E eu estou pouco me lixando para o que as fofoqueiras de plantão comentam! - continuou a andar ao lado dela e acionou a trava, abrindo o porta malas, depositando as compras lá dentro.
__ Meu Deus, como as notícias voam!- exclamou e temeu que ele descobrisse algo sobre Luiz Alberto, passando pela cabeça que provavelmente, a cunhada era uma daquelas mulheres de meia idade, que sabiam da vida de toda a comunidade na qual estava inserida.
__ Tempos de Whatsapp! - concluiu pousando a mão na maçaneta, fazendo com que a porta abrisse. Paula hesitou, sem coragem para pedir-lhe um teto novamente.
Sabia que a despedida seria inevitável, mas o fato era que não tinha para onde ir. As ligações que havia feito enquanto fazia as compras, comprovavam
o que ele lhe dissera no dia anterior. Não tinha conseguido nada. Todas as vagas em hotéis e pensões estavam ocupadas e nem o único hotelzinho do distrito mais próximo tinha lugar!
Carlos ia pegar os filhos, mas temia se tornar uma inconveniência para ele. Ao menos, precisava agradecer-lhe por ter sido tão gentil.
__ Está com fome?- ela indagou.
__ Muita. Você já comeu?
__ Não seria tão má com você! - sorriu.__Costumo ir a um restaurante à beira da avenida da marina, maravilhoso! Você é meu convidado!
Carlos devolveu o sorriso, sendo bem humorado.
__Se tivesse almoçado sozinha no shopping, enquanto eu esperava aqui, nesse calabouço frio, jamais iria lhe perdoar!- estendeu a mão numa debochada reverência real, para que ela se acomodasse no banco escuro de couro.

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