-Epilogo-

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——Parte um ——

—Sydney, você sabe que dia é hoje?—ignoro a voz da mulher a minha frente continuando a mexer na bolinha de estresse vermelha.

Sim. Eu sei que dia é hoje.

—Sydney? Você está me ouvindo?

—Sim—finalmente falo deixando a bolinha cair no chão—Hoje é o dia que vou deixar de ver sua cara toda semana.

A minha terapeuta sorri guardando seu caderno em cima de sua mesa e cruzando as pernas.

—Como vai o estágio?

—Bem, mas eu vou chegar atrasada se você não me liberar logo—olho meu relógio vendo que faltam dez minutos para o jogo começar.

—As enfermeiras tem me dito que as crianças te amam. Você gosta de ensinar a elas?

—Gosto—respondo baixo ansiosa para ouvir as palavras mágicas que me deixaram livres dessa sala.

—Você termina a faculdade ano que vem?

—Sim. Meu chefe vai me promover e vou deixar de ser uma empregada temporária—falo rápido observando os ponteiros do relógio andarem lentamente, porém cada vez mais próximo de seu destino.

—Sydney, nunca te vi tão quieta. Em três anos você nunca respondeu mais de uma pergunta com menos de cinco informações diferentes. O que está acontecendo?

Eu tenho uma coisa no canto de minha mente. Tem dias piores do que os outros. Às vezes choro por ter quebrado um quadro e sorrio por achar um dente-de-leão. Muitas vezes fico horas falando com Kate no Facetime e outras desligo o celular e fecho as cortinas para não falar com o mundo.

—Minha mãe me ligou hoje—abaixo meu olhar para a bolinha vermelha no chão enquanto puxo ar pelos meus dentes—Ela quer me ver.

—Você falou com ela desde...

—Não—a interrompo—Não falei com ela desde que fui morar com Bryan.

Começo a desenhar círculos em meu pulso já cicatrizado. A linha grossa o corte de um lá extremidade para a outra. Passo o dedo por essa e me encontrando naquele ringue novamente, mas ao invés de ficar ansiosa. Encontro uma estranha paz.

—Você vai ver ela?—Quando eu não respondo, ela se completa—Você não pode evitá-la para sempre.

—Vou ter que discordar com você.

—Sydney, já falamos sobre isso...

—Eu sei—respiro fundo agoniada e levanto minha cabeça olhando para o teto limpo—Vou falar com ela hoje. Meu irmão vai se casar, sabia? E eu vou estar atrasada para isso também...

Minha terapeuta olha seu relógio revirando os olhos com a minha direta clara. Ela se levanta, em seguida destranca a porta.

—Pode ir. Te vejo mês que vem.

Pelo menos não é na semana que vem, penso ao me despedir e pegar a bolsa pesada cheia de equipamentos.

Pego um dos pirulitos na entrada encontrando a pequena Laila.

Coração de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora