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Todos os dias eu tenho acordado incrivelmente cedo

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Todos os dias eu tenho acordado incrivelmente cedo. O alarme tocava, eu levantava da cama sem pestanejar. Como um robô. Tomava café, treinava e treinava mais.

Mas hoje, sinto que é o final. Tudo que me preparei por meses chegou, finalmente chegou e cada vez mais que penso isso sinto como se fosse vomitar lágrimas.

Até mesmo minhas colegas de quarto acordaram antes de mim. Pela primeira vez vejo o sol nascer, aquela luz amarela entrar pelas árvores e passar pela neve até chegar no meu quarto.

Quando finalmente levanto, minha perna esquerda novamente falha ao colocá-la no chão. Isso me preocupa, deveria ir para a enfermaria mas corro o risco de não poder competir.

Tomo os remédios quase acabando em cima de minha mesa aquelas pílulas descem e eu fecho os olhos sentindo seu caminho por meu corpo.

Hoje decido ir tomar café na cafeteria com todos ao meu redor fazendo o mesmo. Sinto uma paz incrível, eu me preparei para o pior e cada vez mais sinto que esse pior esta para vir, mas todo segundo que ele não vem a paz fica maior.

A paz de saber que tudo aquilo que me incomoda está prestes a acabar. O futuro não importa mais, o futuro já chegou. Esse é o meu final.

O segundo que entro no lugar cheio de mesas a barulhos de talheres os olhares se viram para mim. Esperava chamar alguma  atenção mas não todos do local.

Reparo no celular em suas mãos ou laptops aberto mas mesas e pessoas reunidas ao redor dos eletrônicos. Espero o pior novamente, meu coração acelera e penso em todas as possíveis saídas.

—Você já viu isso?—Claire me pergunta.

Faz tempo que não observo seus traços grotescos e fortes, faz tempo que não ouço sua voz, mas agora ela está preocupada.

Em sua mão tem o celular. Um vídeo de Christian sorrindo para um microfone. Ela aperta o pequeno botão e uma voz feminina consegue ser ouvida.

"Christian você me chamou aqui pois disse que tinha algo para dizer as câmeras e eu espero que seja bom."

Seu sorriso se desmancha e eu vejo algo que eu não esperava. Eu vejo aquele Christian que continha para sua irmã ou aquele que jogou bolas de neve em mim, mas desta vez eu não sou a única que vejo isso.

"Minha mãe tem Alzheimer e..." ele parece ter dificuldade para continuar a falar. Suas mãos estão em seus bolsos, seus ombros estão encolhidos e seu olhar está para baixo "um pouco antes de eu entrar no avião para a competição, eu recebi a notícia que ela tinha chegado no estágio terminal"

O dia no aeroporto foi por isso. Ele teve um ataque de pânico por não querer deixar sua mãe ou sua irmã sozinha.

"E...e...e eu queria voltar para casa, mas eu já estava no aeroporto. Eu tive um ataque de pânico na sala de embarque. Eu não podia deixar minha irmã sem mim, eu não podia ficar sozinho naquela hora. Eu realmente queria desistir da competição, mas sabe quem não me deixou fazer isso?"

Coração de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora