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Eu encho pela décima vez hoje o balde de batatas no centro da mesa, quem diria que pessoas viciadas em drogas comem tanto, principalmente batata

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Eu encho pela décima vez hoje o balde de batatas no centro da mesa, quem diria que pessoas viciadas em drogas comem tanto, principalmente batata.

Meu trabalho comunitário não é tão ruim, pensei que seria pior. Para mim existia apenas uma única opção: catar lixo em um sol de 50 graus, mas não.

Pelo jeito tem várias opções, eles tentam colocar algo relacionado ao seu crime e como eu fui acusada de usar drogas ilícitas e beber sendo menor de idade, fui colocada como ajudante em reuniões para viciados em drogas no geral.

Primeiramente eu fiquei com medo, imaginamos uma pessoa viciada e logo vem a mente alguém acabado, com os olhos vermelhos e palavras misturadas, mas a maioria das pessoas aqui apenas querem juntar os pedaços de sua vida que desmoronaram por causa dos venenos.

É bom ficar do outro lado da conversa, me faz sentir mal por ter gritado com os meus terapeutas. Mas sinceramente, essas pessoas não sabem o que é estar realmente em um centro de reabilitação.

De vez em quando eu vejo uns rostos novos que vão e vem, outros você sabe que sempre estarão  lá. Mesmo que várias pessoas aqui já estejam sóbrias a anos, a maioria delas tem medo de sair e voltar a seus antigos hábitos.

Mas infelizmente, meus dias aqui estão acabando. Eu realmente tentei acelerar o processo devido a competição. Nunca pensei que sentiria falta disso. No final desta noite estarei em um avião para a competição de minha carreira.

Minha mãe nunca suspeitou de minha vinda aqui,  eu sempre falava que ia sair com Kate e minha amiga fazia o mesmo. Só que ao invés de vir aqui, ela vai ficar com Michael.

A última reunião do dia é sempre a mais cheia, quando acaba minha mesa perfeitamente arrumada
sempre vai aos pedaços.

—Quando você vai embora?—eu ouço Kylie dizer com a boca cheia de biscoitos.

—Hoje, no nascer do sol estarei nas nuvens.

Seu rosto fica triste. Kylie sempre gostou de mim. Ela é uma mulher ao redor de seus quarenta que teve uma vida conturbada, seu rosto mostra as cirurgias plásticas desbotando e os pontos de seringas em seus braços mostram seu veneno, no colar ela carrega uma moeda de três anos de sobriedade. Tudo que ela fala tem um som meloso e parece ser uma pergunta com as frases mais agudas no final.

—Vou sentir falta de você—ela coloca o braço cansado ao meu redor—É bom ver um rosto jovem sem estar acabado, dá um pouco de esperança.

Eu sorrio com seu comentário, ainda bem que ela não me viu nos meus dias de clínica, parecia que tinha acabado de sair de um cemitério. Não daria muita fé naquela época.

Kylie pega mais duas rosquinhas na mesa e me oferece uma, a cobertura de chocolate com aqueles pequenos enfeites caem nos dedos dela. Eu imediatamente recuso sem pensar duas vezes, se eu comer essa eu não vou conseguir mais parar.

Coração de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora